Por Antonio Samarone *
O capitalismo controla a cultura e o modo de vida.
Os futuristas da mobilidade profetizaram cidades sem carros. A ideia forjou um movimento internacional. Alguns políticos locais compraram a ideia.
Em Aracaju, o primeiro a defender a preferência pelas bicicletas, foi Nelson Araújo, candidato a prefeito em 1985.
À época, existia uma ciclovia em Aracaju, na Avenida Rio de Janeiro.
Com a chegada do PT à Prefeitura do Aracaju, em 2000, com Marcelo Déda, a prioridade pelas bicicletas ganhou força.
“Nenhuma via pública em Aracaju seria construída sem ciclovia”. Dizia o Prefeito das mudanças.
Aracaju chegou a pleitear ser a Capital com a maior rede de ciclovias do Brasil. Nos discursos, éramos a cidade do futuro, moderna e sustentável.
Se tornou tradicional um passeio de bicicletas, saindo da Colina de Santo Antonio, no aniversário de Aracaju. Não sei se teremos esse ano.
Prefeitos, vereadores, cabos eleitorais, desportistas, sindicalistas, donas de casa, movimentos jovens, academias de ginásticas, ministérios públicos, ambientalistas, todos, defendiam uma Aracaju dominada pelas bicicletas.
As famílias de classe média possuem um estoque de bicicletas, sem uso, em suas casas. Muitas enferrujadas. Um levantamento do IBGE constatou a existência em Aracaju de 2,7 bicicletas por família, com renda acima de dez mil reais.
Na Zona de expansão, o povo usa muito as bicicletas, em seus deslocamento internos nos bairros. Mas a ciclovia da Sarney passa longe. Interliga as praias.
A prioridade pelas bicicletas se manteve com Edvaldo Nogueira.
A maior obra do Governo Belivaldo, foi a mal planejada orla da Sarney. Entretanto, um fato é inegável: as bicicletas tiveram um espaço privilegiado. Ao longo dos 17 Km da nova orla, foi construída uma moderna ciclovia.
Uma surpresa: a ciclovia não possui usuários, nem os ciclistas. Alegam que a ciclovia é incompatível com a velocidade que eles desejam. Um ou outro, pedala sobre ela, de vez em quando.
Chama a atenção a inexistência de vias para pedestres, numa orla de praias. Quem quiser andar, que se vire.
As vias para os carros são estreitas e mal sinalizadas. Isso já é outro problema, para o novo governador resolver.
Voltando a ciclovia da Sarney.
Fico horas olhando pela janela, esperando a passagem de bicicletas sobre a bela ciclovia. Nada! Uma ou outra perdida. Não sei como andam as demais de ciclovias da cidade.
O que estou afirmando: a ciclovia da Orla da Sarney, por enquanto, é um belo enfeite com raros usuários.
* É médico sanitarista