Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *
Os recentes atos de violência contra escolas se mostram como uma novidade preocupante em nosso país, consubstanciando-se em desafio ante sua complexidade no contexto da segurança pública.
Sem diminuir uma vírgula da titularidade de tal responsabilidade do Estado, não podemos ser pueris e cairmos na tentação de, senão o problema, simplificarmos as estratégias de combate para sua solução. Melhor explico, sob duas óticas complementares.
Primeiro, estando diante de um problema que envolve multidisciplinaridade, uma vez que envolve segurança pública, escolas, menores – e, portanto, núcleo familiar – e aspectos educacionais psicológicos, somente a consciência dessa composição complexa exige que a abordagem seja profunda, tanto para entender quanto para poder fazer o decorrente enfrentamento.
Por um lado, apesar dos esforços recentes que vemos no país não para criar polarização, mas sim para transformar quem pensa diferente de você em inimigo, precisamos lembrar que a vida em sociedade – ao menos para quem se alega democrata e preocupado com o próximo – exige e conta com o esforço do um em prol de todos os outros. Tal qual uma família, para que dê certo em seu objetivo, é necessário que cada um faça a sua parte: aos pais cabe prover material e emocionalmente os filhos, que devem se portar e cumprir tarefas gerais como estudar para que assim nessa somatória acumulativa, possa crescer e ativamente se prover, gerando outro núcleo familiar. É assim que as sociedades se desenvolveram e se desenvolvem.
A título de exemplo, pensemos em pais que apesar de todo o apoio material, abandonam seus filhos emocionalmente, esperando que as escolas ou outros empregados assegurem essa assistência que se materializa da interação de amizade, amor e carinho somente possíveis através das figuras paternas (maternas). Parece ser difícil imaginar que uma criança/adolescente que sofra nessa situação, não sinta essa falta, e que somada também à necessidade de pertencimento natural e às armadilhas escondidas na internet/redes sociais, conseguirão escapar de redes de cooptação que dissemina ódio e violência como meio de viver. Essas redes, como de conhecimento público – que não repetirei nomes aqui – operam nas lacunas emocionais dos indivíduos, para cooptá-los de forma dominadora, muitas vezes conseguindo uma submissão emocional capaz de determinar comportamentos.
Em momentos como esse, quando se cria uma comoção com ares de pânico, além dos que querem o protagonismo de ter feito algo deturpadamente heróico, ainda temos os oportunistas que se aproveitam da publicidade para ganhar “likes”, impulsionando o próprio protagonismo na rede, o que gerando engajamento, gera ganhos financeiros.
Diante deste quadro, nós todos cidadãos, devemos nos esforçar em poder contribuir dentro de nossa limitação ao auxílio às autoridades, estas as responsáveis por combaterem as redes criminosas ora em funcionamento. Mas isso não impede que tenhamos a consciência de que pânico não resolve e que a calma é aliada nessa hora.
Portanto, se sabemos que nessa problemática existe o problema da necessidade de protagonismo/fama como mote para certas ações que se materializa nas redes sociais através da “viralização” e que outros agem difundindo notícias faltas a reboque da comoção que a situação causa, podemos refletir sobre o que podemos fazer num primeiro momento de forma auxiliar a ação oficial:
1 – tomar bastante cuidado com o repasse de notícias (seja mensagem de “zap”) de cunho apelativo ou não, o que podemos fazer tomando o cuidado de fazer alguma checagem antes de qualquer ação, vez que nos últimos anos as “fake news” viraram realidade no país;
2 – buscar manter a calma não se levando em desespero junto à turba, para que assim possamos ter a tranquilidade para decidirmos ações ante ao que nos chega e darmos apoio emocional aos nossos.
É nesses momentos que é posto em questão os nossos conceitos civilizatórios que devem se materializar através de nossas ações.
Que consigamos nos dar as mãos e deixarmos as paixões de lado, em prol de todos!
* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)