Lucindo José Quintans Junior*
Nos últimos anos, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais no ambiente de trabalho e nas relações pessoais vem ganhando destaque. Com o avanço da inteligência artificial e da automação, muitas habilidades técnicas, costumeiramente valorizadas no mercado de trabalho, estão se tornando obsoletas, enquanto as chamadas Soft Skills surgem no cenário como cada vez mais importantes. Poderíamos, de forma muito livre, traduzir “soft skills” como “habilidades leves”, mas também como “habilidades interpessoais”. No entanto, qual a sua importância? Diante da relevância que a saúde mental tem assumido em um mundo cada vez mais complexo e acelerado, aprimorar a habilidade de gerenciar emoções, desenvolver uma sociabilidade mais refinada e adotar uma abordagem mais minuciosa na tomada de decisões tornam-se aspirações prioritárias para aqueles que buscam alcançar resultados expressivos. Nesse contexto, poderíamos afirmar que, no caso dos estudantes de pós-graduação, isso não é diferente e nos chama atenção em dois aspectos básicos. São eles: o quanto tais estudantes (pesquisadores) podem desenvolver suas habilidades (cada vez mais requeridas) e a relevância desse processo como um campo de estudo.
No que diz respeito ao primeiro aspecto, as Soft Skills representam um conjunto de habilidades que podem ser desenvolvidas pelas pessoas para que elas possam se organizar para lidar com suas emoções, planejar para atingir metas e melhorar a forma como se relacionam com os outros. Com isso, é possível que fatores como inteligência emocional, liderança, comunicação, trabalho em equipe e adaptação sejam explorados, fazendo com que os obstáculos que aparecem na trajetória do indivíduo possam ser superados. Hoje em dia, o domínio de tais habilidades é condição “Sine qua non” para se obter sucesso no mercado de trabalho, mas também acaba sendo um recurso significativo para aqueles que ingressam na pós-graduação. A vida dos pesquisadores e pesquisadoras brasileiras conta com uma trajetória repleta de obstáculos e que cobra um nível de excelência na pesquisa, participação em eventos acadêmicos, publicação em periódicos, para além das disciplinas e prazos para entrega de relatórios e de suas dissertações ou teses. Ademais, a capacidade de comunicar ideias complexas e inspirar os outros também é importante para apresentações de pesquisa, com o fulcro de obter financiamento para projetos e aglutinar pessoas ao redor de propostas.
Já no que se refere às Soft Skills como emergente campo de estudo e pesquisa, temos uma área em ascensão e que vem chamando atenção do mercado de trabalho, afinal, as empresas procuram indivíduos que possuam habilidades sociais, emocionais e comportamentais que os permitam trabalhar de forma eficaz em equipe, liderar e se adaptar às mudanças. Por isso, pesquisadores acadêmicos passam a se interessar pelo estudo para atender à demanda empresarial e pensar como estratégias desse tipo contribuem para ações de inovação e empreendedorismo. Em uma época na qual o mercado de trabalho e a disputa pela atenção consumidor se tornam mais acirrados, obter mecanismos que contribuam para melhores resultados aparece como algo que pode definir ou não o sucesso de uma iniciativa.
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) possui interesse no debate sobre essa temática, contribuindo para formação de nossos estudantes e pesquisadores e, a exemplo do que já realizamos em outros campos, temos potencial e almejamos ser um pilar nas discussões sobre o assunto em Sergipe. A universidade pública tem a responsabilidade de promover a inclusão social e o desenvolvimento regional, preparando os estudantes para atuarem em diferentes contextos e realidades, possuindo assim um papel central no estudo e desenvolvimento de habilidades não-técnicas, como as Soft Skills. Embora o mercado de trabalho se transforme e o consumidor mude seu perfil, a UFS mantém seu compromisso na qualidade do ensino, da pesquisa, da extensão, da inclusão social. Portanto, formar profissionais mais completos e preparados para enfrentar os desafios do mercado de trabalho e contribuir com a sociedade em geral segue sendo papel basilar da nossa instituição.
*Professor Titular do Departamento de Fisiologia da UFS.