Erasmo Almeida, baluarte da irrigação do Nordeste

Por Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira*

A Codevasf nos seus mais de 48 anos de existência teve vários ilustres presidentes, dentre os quais, um se destacou: Erasmo José de Almeida, que faleceu recentemente, aos 96 anos, sobre quem não poderia deixar de render uma singela homenagem através deste artigo.

Erasmo Almeida ao lado da esposa no lançamento do seu livro em 2018

Pernambucano de Vitória de Santo Antão, Erasmo Almeida, engenheiro civil formado em 1951 pela UFPE, foi professor das disciplinas de Matemática Financeira e de Geometria Analítica, tendo exercido, também, a Presidência do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia da UFPE e do Clube de Engenharia de Pernambuco.

 Em sua vida profissional seguiu uma rica trajetória na administração pública federal e estadual, iniciando como  engenheiro do Departamento de Estradas e Rodagem (DER-PE) e depois como seu Diretor; posteriormente, foi Presidente de importantes estatais como a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa),  a Companhia Estadual de Habitação Popular (Cohab-PE) e, no nível federal, a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (Sudepe), a Companhia de Brasileira de Planejamento de Transporte (Geipot) e a  então denominada Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco  (Codevasf).

Erasmo Almeida, por onde passou destacou-se e teve sua capacidade reconhecida por sucessivas administrações, em função exclusivamente de sua trajetória como engenheiro e servidor público. De todo esse elenco de atividades, a de efeito mais impactante para o nordeste brasileiro, foram as ações desenvolvidas na Codevasf no campo da agricultura irrigada, através da implantação dos mais importantes projetos de irrigação desenvolvidos na região do semiárido, pois as áreas irrigadas em operação passaram de 7.500 ha, em 1979, para 38.000 ha, em 1985, além dos 45.000 ha que se encontravam em fase de implantação.

Com o sucesso de tais iniciativas, a agricultura irrigada se estendeu para outros estados, proporcionando extraordinária transformação na economia agrícola em centenas de milhares de hectares, localizados nos Projetos Nilo Coelho, em Petrolina, Pernambuco; Curaçá, Maniçoba e Tourão, em Juazeiro, na Bahia; Jaíba, Janaúba e Pirapora, no estado de Minas Gerais, além dos situados na região do Baixo São Francisco, Boacica em Alagoas e; Betume e Cotinguiba/Pindoba, em Sergipe.

  Particularmente, tive o privilégio de trabalhar com o Presidente Erasmo Almeida em dois momentos na Codevasf: na sua primeira gestão – de 1979 até 1985 -, pude conviver com ele no exercício da Chefia da equipe de fiscalização das obras do Projeto Betume II e complementação do Betume I e, posteriormente, de 1990 a 1991, quando fui indicado por ele para interinamente responder pela 4ª Superintendência Regional de Sergipe, face à disputa pelo cargo por grupos políticos,  o que serve para exemplificar como ele definia as prioridades da ação da Codevasf de maneira técnica e não política.

Apesar de reconhecer que o sucesso maior de seus trabalhos está no dinamismo obtido com o Polo Petrolina/Juazeiro, gostaria de destacar a sua importância para a revitalização da região do Baixo São Francisco, pois visando atender prioritariamente o aumento de produção de energia para o Nordeste brasileiro, o Banco Mundial (BIRD) financiou a construção da Barragem de Sobradinho, a cargo da Chesf, que contribuiu para o agravamento da situação das várzeas do Baixo São Francisco, com o aumento do fluxo mínimo de 700 m³/s para 2.060 m³/s. Isso foi reconhecido pelo BIRD que financiou também a implantação de Perímetros Irrigados nas grandes várzeas, em Alagoas e Sergipe. Coube à Codevasf, na gestão do Presidente Erasmo Almeida, a missão de transformar as grandes várzeas em perímetros irrigados, sendo introduzidas tecnologias e variedades de cultivo de arroz que possibilitaram o plantio de duas safras numa área de mais de 10.000 hectares, em cinco perímetros irrigados, nos quais estão assentadas mais de 2.800 famílias de pequenos produtores, em lotes em média com 4 hectares.

Para a consecução dessas metas, Erasmo Almeida realizava constantemente vistorias “in loco”, para junto com os técnicos de campo buscar as soluções urgentes mais apropriadas, eliminando assim os trâmites burocráticos envolvidos na execução das obras. Algumas vezes, ele vinha acompanhado do então Ministro do Interior Mário Andreazza, o que contagiava a todos, pois demonstrava a importância concedida àquelas ações.

A sua experiência na Sudepe foi muito importante para que fossem construídas 6 Estações de Piscicultura no Vale do São Francisco, com vistas à produção de alevinos de espécies nativas, visando à recomposição da ictiofauna, bem como o fomento à piscicultura comercial.  Em Sergipe, foi construída uma delas, localizada no Perímetro Irrigado de Betume, em Neópolis, que à época, por uma questão de justiça, denominamos de “Estação Erasmo José de Almeida”, pois ele, além de firmar convênio com a Hungria, propiciou qualificação e treinamentos aos engenheiros de pesca, colocando a Codevasf em destaque no fomento à psicultura no nordeste brasileiro.

Erasmo Almeida era casado com Betty Lomachinsky, com quem teve 04 filhos (Carlos Frederico, Elizabeth Cristina, Bernadete de Lourdes e Adolfo Jorge), que lhe deram 8 netos e 7 bisnetos.

Em 2018, escreveu o livro “Um Passeio no Tempo”, que é o registro histórico de ocorrências expressivas da sua trajetória pessoal e profissional, bem como de depoimentos de diversos amigos e técnicos que trabalharam com ele, eu inclusive, quando abordei a sua valorosa importância para o Baixo São Francisco.

*Ex-superintendente regional da 4ª SR/SE, atualmente Conselheiro representante dos empregados no Consad da Codevasf.