Marcos Cardoso
Há menos de um ano das definições das candidaturas, falemos de eleição. O pleito municipal do próximo ano em Aracaju já se desenha como um evento diferente do que aconteceu nas últimas décadas. Agora, os personagens envolvidos, direta ou indiretamente, não são mais aqueles que o eleitor estava acostumado a ver desde 1985, quando as eleições nas capitais voltaram ser realizadas.
Estrelas de primeira grandeza nos seus grupamentos políticos não participam mais ou perderam influência, porque já não estão entre nós, como Marcelo Déda e João Alves Filho, ou por conta do peso da idade, como Jackson Barreto, Albano Franco e Antônio Carlos Valadares. Desses, somente Albano não disputou a Prefeitura de Aracaju, mas sempre participou diretamente das campanhas.
Marcelo Déda (PT) disputou quatro eleições de prefeito. A primeira delas, em 1985, foi fundamental para a sua carreira política. Tinha 25 anos, mas surpreendeu pelo discurso já bem articulado e terminou em segundo lugar, atrás apenas de Jackson Barreto, que consolidava ali sua trajetória de fenômeno eleitoral em Aracaju. O desempenho do jovem político foi decisivo para a eleição de deputado estadual no ano seguinte.
Déda ainda disputou a eleição de 1988, considerada um fracasso, só se elegendo prefeito em 2000, quando estava no segundo mandato de deputado federal. Reelegeu-se prefeito em 2004, com estrondosos 71% dos votos válidos, e fez seu sucessor, o então vice-prefeito Edvaldo Nogueira, que se reelegeu em 2008.
Jackson Barreto foi “dono” do eleitorado de Aracaju por duas décadas. Sempre foi muito bem votado na capital em todas as eleições que disputou e venceu com folga a primeira disputa para prefeito, aquela de 1985, pelo PMDB. Mesmo afastado da Prefeitura, elegeu Wellington Paixão (PSB) em 1988. Elegeu-se prefeito novamente em 1992, pelo PDT, desincompatibilizando-se em 1994 para disputar o governo do Estado, vencido por Albano Franco (PSDB), deixando seu primo e vice-prefeito Almeida Lima concluir o mandato. Em 1998, de volta ao PMDB, elegeu o amigo e empresário João Augusto Gama. Depois, apoiaria Déda e Edvaldo nas eleições seguintes.
João Alves foi o segundo político que mais tempo esteve à frente da cidade, oito anos, só perdendo para Edvaldo Nogueira, que somará incríveis 14 anos e nove meses comandando a Prefeitura quando terminar seu quarto mandato em 2024. Os primeiro e último cargos públicos de João Alves foram justamente como prefeito de Aracaju: de 1975 a 1979, então na Arena, quando o jovem engenheiro foi nomeado pelo regime militar a pedido do governador José Rolemberg Leite, revelando-se bom gestor e potencializando futuros embates políticos, e de 2013 a 2017, pelo DEM, quando, já alquebrado por problemas de saúde, fez uma administração considerada sofrível.
Entre uma gestão e outra, seja como governador, ministro ou mesmo na planície, João Alves sempre se envolveu com as eleições aracajuanas apoiando algum candidato. O mesmo acontecendo com Albano Franco, que nunca disputou nenhum pleito municipal, mas sempre apoiou algum candidato a prefeito, embora nunca tenha logrado êxito.
Antônio Carlos Valadares (PSB), o homem que foi quase tudo na política, de prefeito de Simão Dias a senador, passando pelos cargos de deputado estadual e federal, vice-governador e governador, foi candidato a prefeito de Aracaju em 2000, quando perdeu a eleição para Marcelo Déda. Também sempre se envolveu com os pleitos da capital, inclusive quando o herdeiro, Valadares Filho (PSB), foi candidato em 2012, com o apoio do prefeito Edvaldo Nogueira e do governador Déda, perdendo a eleição para João Alves.
Todos eles não apitarão mais no próximo ano. Jackson e Valadares terão ainda alguma força eleitoral? Provavelmente, não. Uma coisa é certa: não há um candidato que já desponte como provável favorito, como Jackson, Déda, Edvaldo e João despontavam até com dois anos de antecedência. Lembremos que foi em 2010, quando novamente perdeu a eleição para Déda, que o nome de João surgiu com força para disputar a eleição de prefeito porque naquele pleito estadual foi o mais votado em Aracaju, onde derrotou o governador.
Então quais os caciques jogarão as cartas na mesa em 2024? O grupamento político mais forte de Sergipe hoje tem sobrenomes diferentes daqueles, é capitaneado pelo jovem governador Fábio Mitidieri (PSD) e secundado pelo ex-governador Belivaldo Chagas (PSD), pelo senador Laércio Oliveira (PP) e pelo ex-deputado federal André Moura (União Brasil), que mesmo carregando duas condenações pelo Supremo Tribunal Federal continua sorrindo e politicamente forte. Esses são os sobrenomes que hoje mandam no Estado: Mitidieri, Chagas, Oliveira e Moura.
O PT tem potencial para apresentar o candidato de oposição com mais chance de disputar a cadeira de prefeito, o problema é encontrar esse nome. O senador Rogério Carvalho acaba de sair de um duro embate para o governo do Estado e deve se resguardar para buscar a reeleição em 2026 ou tentar novamente governar Sergipe, seu maior sonho.
Márcio Macedo está confortavelmente instalado numa sala do Palácio do Planalto contígua à do presidente Lula e não deve deixar o bem bom de ser ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República para se arriscar na incerteza. Eliane Aquino tem uma situação parecida. É a secretária Nacional de Renda e Cidadania do Ministério do Desenvolvimento Social, responsável direta pelo programa Bolsa Família, e se sente bem desempenhando essa tarefa. Mas pode ser o nome que o PT terá que recorrer para se colocar na disputa.
Quanto a Edvaldo Nogueira, já se encaminhando para o fim do mandato e depois que se afastou do pessoal da esquerda, juntando-se ao bloco da direita, abrindo mão de ser o candidato a governador quando aparecia como favorito, segundo as pesquisas, vai acabar ficando a reboque dos interesses do novo grupo. O governador Fábio Mitidieri garante que o prefeito indicará o candidato a sucedê-lo. Quem acredita? E se voltar aos braços do PT também não terá voz para indicar o candidato. O jogo da sucessão de Aracaju está só começando e quem dá as cartas é quem tem mais cacife.
Foto: Silvio Rocha