Por Nestor Amazonas *
Durante muito tempo, antes de existir o termo “spoiler” como algo que antecipa os fatos, me divertia às custas de Amaral Cavalcante.
O poeta não gostava de que seu aniversário fosse anunciado. Temia que pela legião de fãs, seguidores e amigos que aquele dia fosse transformado numa profusão de mensagens, visitas e outros salamaleques. Então, ele ficava “mocado”, fugindo de tudo.
Então, com um ou dois dias antes, eu publicava algo anunciando a nova data e ele frustrava os desavisados me chamando de louco e irresponsável, que eu continuava um moleque da Turma do Parque, apesar da idade, e que não era aniversário dele, mas não dizia quando seria.
Hoje, mesmo sem ter a presença de Amaral, repito minha molecagem para dizer o quanto sentimos falta dele. Mas desta vez dou a data certa, amanhã, 11 de julho é aniversário de Amaral Cavalcante. Podem dar os parabéns antecipados ao Amaral, numa também homenagem ao José Celso Martinez Correia. Pessoas que fazem falta para muita gente, eu incluso.
Amanhã é aniversário de Amaral Cavalcante.
Nos muitos anteriores, seguindo um ritual já antigo, ele fugia dos abraços e chamegos que a data pede. Mas agora ele exagerou: primeiro deu susto, depois sumiu e agora virou encantado. Coisas de poeta.
Mas não tem nada não, vamos dar o troco. Vamos pegar uma foto dele, botar numa prateleira antiga, daquelas que ainda existe em Simão Dias, lembrança do casarão de Seu Liminha e Dona Corina e começar um assustado, como antigamente, viu Tonho?
Vamos fazer comidinhas de dengo, acepipes que a alma traga por prazer.
Não vai faltar nada, desde as cocadas velhas de Joana Doceira, que você tanto gostava, até as batidas do Manequito. Os vinhos de qualidade, esta nova paixão senhorial, ficam sob a responsabilidade de Cauê, Luciano Correia e Mário Britto.
De sustança, um Pirão de Capão, com batatas-do-reino e farofa de água com ovos desmanchados – lembranças dos almoços comemorativos da festa de Senhora Sant’Ana – comida farta e travessuras infantis que terminavam em castigo e cascudos. De sobremesa, a sua preferida – doce de perruche. Se alguém não sabe do que se trata, que vá atrás, compre o livro A Vida Me Quer Bem, crônicas do próprio, que tem até receita. Dica do Samarone.
Desconfio que deverá existir amanhã, uma festa num universo paralelo, aliás, desconfio é pouco…tenho certeza e esperança.
Como não imaginar a alegria da chegada de Amaral, arrastando sandálias e saudades, trazendo novidades no sovaco, onde repousa seu livro de crônicas.
Na porta, Lu Spinelli grita…Chegou, ele chegou…Barrinhos comenta…tá elegante. Cleomar abre o sorriso e chama o garçom pelo nome…traz um copo para o Poeta. Deda, confabulando com Luiz Antônio Barreto e José Carlos Teixeira, acena a dizer…quero falar com você…Fernando Sávio, de braço com a cabrocha Dina, desfila orgulhoso todo, feliz com a conquista. Jorge Farone avisa para Cabo Tripa…o Old Eight é meu…Num canto, Nubia Marques engata um papo de léguas com João Oliva, isto vai longe…João Costa explica para Gilson Cajueiro de Holanda que babado não é bico e Hilton Lopes abraçado a Carlos Trindade, sentencia…cocoré bico de pato, quem refresca cú de pato é lagoa. Siomara Madureira não larga o braço de Amaral, quer saber de tudo e contar de tudo e mais ainda…uma grande festa, com certeza.
Esta festa, confesso, faz inveja `a nossa, também pudera, o aniversariante nos deixou sem aviso e partiu para o mistério da vida, onde não há culpa ou pecado.
Agora, livre das amarras do corpo, pode brilhar em sua plenitude, nos deixando prenhe de ideias, saudades e desejos.
Feliz aniversário, amigo Amaral, onde você estiver, aqui, nunca estarás ausente. A festa continua…
(Este post é uma construção coletiva de frases de personagens do livro A Vida Me Quer Bem e lembranças dos que amavam e amam o Poeta Amaral Cavalcante).
* É jornalista.