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Os mitos do Reisado

Por Antonio Samarone *

A repartição do Boi!

No final dos Reisados, um auto popular, existe a farsa do boi, onde, simbolicamente, o boi é repartido entre os presentes, numa lógica hierárquica e galhafosa. Uma brincadeira simpática e bem aceita.

Repartir o boi, em folguedos populares, é uma tradição em desuso. Repartir o boi é uma comemoração pagã, que reproduz a criação da humanidade, na mitologia gregos.

O Reisado é um folguedo natalino, vindo de Portugal. Uma referência aos Reis Magos. Na primeira parte, uma comemoração cristã, na segunda, com a entrada do Boi, um comemoração pagã.

Em Moita Bonita, Região Metropolitana de Itabaiana, o Baile Estrela, um belíssimo Reisado, criado por Roberto, ainda encanta as pessoas. Roberto é o Mateus (palhaço) do Reisado. ( À esquerda da foto)

Antes, nas queimas dos Judas, no Sábado de Aleluia, se dividia a herança de judas entre os presentes. na mesma lógica da repartição do boi.

De onde veio essa repartição do boi? Da mitologia grega!

Houve uma reunião entre mortais e imortais, no Campo das Papoulas, para se estabelecer os limites e as diferenças. Nessa assembleia, houve uma primeira repartição do boi.

O local da reunião é simbólico, como se sabe, é das papoulas que se extrai o ópio.

Para a reunião, Prometeu sacrificou um boi e fez uma divisão em dois lotes: no primeiro colocou os ossos e os cobriu de gordura. No outro, colocou a carne dentro do estômago e cobriu com o couro.

Prometeu mandou Zeus escolher. Na ambição divina, Zeus escolheu o monte da gordura, e descobriu que só tinha ossos.
De imediato, como vingança, Zeus retirou o fogo dos humanos. Prometeu não aceitou, roubou o fogo e devolveu aos humanos.

Zeus, indignado com a trapaça, aplicou dois castigo: um a Prometeu e outro a humanidade. Prometeu foi acorrentado no cume do Cáucaso, para um suplício eterno.

Durante o dia uma águia devorava o seu fígado e pela noite o fígado se regenerava.

A cólera de Zeus, por ser enganado na repartição do boi, atingiu a humanidade através de Pandora.

Pandora foi a primeira mulher, antes, os homens se casavam com as ninfas. Pandora foi feita de barro e muita água. Ficou primorosa, tinha as feições de deusas, cabelos enfeitados de flores e era cobertas de joias.

Pandora casou-se com Epimeteu, irmão de Prometeu. Como presente de casamento, Pandora recebeu uma caixa fechada, cheia de maldades. Ao abri-la, Pandora liberou todas as mazelas para a humanidade. Só a esperança não escapou, ficou presa dentro da caixa.

Quando se pesquisa, percebe-se que o folclore faz sentido. De uma certa forma, reproduz os mitos fundadores da humanidade.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

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