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A esquecida batalha do Atlântico

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *

No dia de hoje completa-se 81 anos dos torpedeamentos dos navios na costa de SE/BA. Tal movimento executado pelo Korvettenkapitän da Kriesgmarine alemã, Harro Schacht. precipitou a entrada do Brasil na Guerra contra a Alemanha, uma semana depois.

Apesar de muito se falar na FEB e na campanha da Itália, pouco se ouve falar na Batalha do Atlântico, essa que gerou muito mais perdas de vidas e prejuízos ao povo brasileiro do que aquela ocorrida na Europa.

Assim como tem gente que pensa que segurança pública em democracias deve se basear em “tiro, pau e bomba”, somente, esquecendo que apesar de haver necessidade, não é esse modo de usar a força observado em países com alto grau de desenvolvimento social, há quem creia que guerra também se faça somente adstrita ao momento do combate, talvez como se vê num jogo de videogame/celular.

Ora, há centenas de anos que guerra não mais se faz sem considerar a logística como sua condição central. Sem sair da Segunda Guerra, podemos debater sobre como sua história poderia ser diferente, caso Hitler não tivesse aberto a frente de batalha oriental – leia-se URSS – antes de consolidar a frente ocidental – leia-se europeia, não tendo que lutar em duas frentes ao mesmo tempo. Pois, ainda assim, a Wermacht chegou ao Cáucaso. E qual a importância disso? Sem o petróleo do Cáucaso e do Azerbaijão a ofensiva da frente oriental alemã tornou-se incapaz de prosseguir com suas armas e veículos.

Mas voltando ao cerne, a Batalha do Atlântico foi certamente a maior campanha militar da guerra em questão, uma vez que começou em 1939 e somente terminou em 1945, com a capitulação da Alemanha. Os aliados inicialmente impuseram bloqueio naval contra os aliados nazi-fascistas, que somente começaria a ser rompido por estes em 1942, através da sua frotas de submarinos.

Tal bloqueio fere de morte a logística/cadeia de suprimentos – pensemos na importância dos combustíveis e da borracha como essenciais ao esforço de guerra. Tanto que após furá-lo, os submarinos passaram a atacar navios de suprimentos e não somente vasos de guerra.

A quem pensa em “linha, pau e bomba” é impossível imaginar que na lógica da guerra, na qual um navio de suprimento é um alvo de interesse, por mais que não pareça, pois a logística/cadeia de suprimento é, como vimos, o que sustenta a guerra.

É diante desse contexto que temos nossa batalha do atlântico sul, infelizmente, na qual houve o torpedeamento do Araraquara, Baependi e Aníbal Benévolo em nossa costa. Em guerra não há espaços para determinados juízos de valores. Tomemos o exemplo do Bagé, afundado em nossa costa no ano seguinte, 1943, ele vinha desde o sul formado em um comboio escoltado o TJ-2, quando foi determinado ao comandante Arthur Monteiro Guimarães pelo comando do comboio – organizado pela Quarta Frota da marinha estadunidense – a abandonar a formação e seguir por conta, uma vez que estava fazendo muita fumaça e poderia entregar ao inimigo a posição.

Nessa condição, o Bagé tornou-se alvo fácil e foi afundado pelo U – Boat (U 185) em agosto de 1943.
A título de curiosidade, os fardos misteriosos de borracha que andaram dando na costa nordestina a partir de 2018, identificados como provenientes da antiga Indochina, eram matéria-prima que deveriam seguir à Alemanha, dentro do citado esforço de guerra, mas que não chegaram, pois os navios Weserland e SS Rio Grande foram afundados na Costa brasileira, em 1944.

Fato é que através de embarcações chamadas de “Caça Pau” e “Caça Ferro”, o Brasil organizou suas estratégias de comboiamento e proteção. A proteção às rotas e transporte marítimo foi a grande ação, que não foi fácil pela emergência em reorganizar as forças navais. O esforço em reequipar, recrutar e treinar o pessoal para operar os novos materiais necessários para a guerra submarina foi hercúleo e essencial. Afinal, o comércio brasileiro à época era feito basicamente através das rotas marítimas, inclusive. Segundo o Almirante Arthur Oscar Gama “Comboios eram basicamente trem de suprimentos que corriam pelo mar”.

O fato é que foram quase 600 missões de escolta, mais de 3000 navios protegidos (brasileiros em sua maioria), mais de 600 missões de salvamento e índice de 99% de proteção. Em contrapartida, fala-se em quase 2000 mortes no total – durante a Batalha do Atlântico Sul, em sua maioria de civis, chegando o número de vítimas militares a quase 500.

No geral, contando com o atlântico norte, foram mais de 2500 navios mercantes e quase 200 de guerra que foram perdidos, vítimas dos submarinos do eixo, estes que também foram abatidos às centenas.

Eis a esquecida Batalha do Atlântico Sul.

* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço. (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)

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