Por Eduardo Marcelo Silva Rocha *
A Segunda Guerra Mundial alterou profundamente as rotinas do povo brasileiro, desde fins dos anos 1930. Apesar dos EUA somente entrarem na Guerra, oficialmente, após o ataque a Pearl Harbor ocorrido em dezembro de 1941, hoje sabemos que ações indiretas ou diretas – como no caso das bases militares norte americanas instaladas no Nordeste e do movimento Campanha Nacional de Aviação, que praticamente doou aviões para a instalação de Aeroclubes que, por acaso ou não, serviriam de apoio, Brasil a fora, após a entrada do país na Guerra.
Notícias sobre a Guerra já circulavam desde 1939, com relatos sobre agressões a países neutros (ou “neutros”) que os arrastavam ao conflito, como o já dito ataque japonês aos Estados Unidos. Embarcações brasileiras já eram vítimas de ataques do Eixo desde 1941, mas fora da nossa costa, em regra. A chegada da base aérea americana em Parnamirim/RN, serviu para proteger a parte mais extrema do litoral nordestino/brasileiro, aquela mais perto da África e da Europa tendo um raio de ação que não alcançava o litoral sergipano. Tal base foi decorrente dos movimentos da diplomacia brasileira e norte americana, em 1942, que resultaram em alinhamentos Brasil/aliados, donde, além dessa base aérea, o processo de colaboração mútua permitiu-nos iniciar o processo tardio de industrialização, com o fornecimento de estrutura para fundar a Companhia Siderúrgica Nacional, empréstimos comerciais, fornecimento de estrutura militar de armamento e defesa.
Nessa esteira, começava-se em nosso estado as ações contra estrangeiros originários do eixo: era a guerra se aproximando de Sergipe. E que chegaria definitivamente em agosto de 1942 com o torpedeamento dos navios que chegou em Aracaju por meio dos destroços, mortos e sobreviventes daquele ato.
A chegada da Guerra em Sergipe alterou toda harmonia social da capital sergipana.
Tumultos, correrias, “quebra-quebra”, perseguições aos estrangeiros advindos de países do eixo e integralistas identificados com o nazi-fascismo. Casas de pessoas alvo do clamor eram saqueadas de forma “democrática”: seja em busca de provas do colaboracionismo, seja pelo intuito de apenas pilhar/roubar. Um sergipano da época, conhecido por ter assassinado um cangaceiro famoso e que depois ainda trabalharia como observador/sinaleiro no contexto da guerra em Sergipe, teria sido detido nesse processo de pilhagem, ao tentar sair da casa de Nicola Mandarino, carregando um pesado objeto, provavelmente um cofre.
Essa alteração na ordem exigia uma resposta imediata que preliminarmente materializou-se na segurança pública com a solicitação e remessa de reforço policial vindo do Estado da Bahia.
Nos meses seguintes, as ações de segurança pública se materializaram na Força Pública (hoje PMSE) através de ações diversas como o apoio às forças armadas locais com dispêndio de efetivo.
Uma notável mudança houve no então Pelotão de Cavalaria, que assim o era desde a fundação da Força, em fevereiro de 1835 e, no segundo semestre de 1942 é elevado a condição Esquadrão de Cavalaria (significa maior estrutura física/humana/animal) e que após esse feito, somente se tornaria Regimento em maio desse ano. Como dissemos antes, o policiamento montado da Força Pública foi importante recurso na vigilância terrestre da costa sergipana naquele momento.
Neste período ainda se observou um aumento no efetivo da Força, que em pouco mais de um mês após os torpedeamentos absorveu para os seus quadros algo em torno de 7% do efetivo existente, número bastante expressivo.
Outro ato de repercussão, foi a criação de uma seção de metralhadoras, composta por 15 militares. Frise-se que, a elevação do Pelotão de Cavalaria a Esquadrão e a criação dessa seção bélica deram-se ainda nas últimas semanas do mês de agosto, simbolicamente um dia antes e outro depois do dia do Soldado.
Em linhas gerais, todos foram afetados de alguma forma. O medo de que a própria capital fosse torpedeada pelos submarinos era uma realidade que fora reforçada pelo relato dos sobreviventes que viram a tripulação do U-507 observando os destroços dos navios à luz de lanternas e, provavelmente do próprio Capitão Harro Schacht, de binóculos. Por conta disso, às luzes da cidade eram apagadas à noite, com intuito de dificultar a sua localização como alvo.
Enquanto isso, a Força Pública seguia com os préstimos da sua nova cavalaria, do implemento do seu contingente e com sua seção de metralhadoras, pronta para ajudar na defesa dos sergipanos.
* É tenente coronel da PM/SE e membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço. (eduardomarcelosilvarocha@yahoo.com.br)