O transplante de coração a que foi submetido o apresentador Fausto Silva, o “Faustão”, 73 anos, levantou a seguinte questão: quanto tempo vive em média uma pessoa que recebe um coração novo e quem viveu mais tempo com um coração transplantado? No Brasil, o recordista foi o alagoano Francisco Sebastião de Lima, que faleceu em abril deste ano, aos 51 anos. Ele viveu 34 anos com o órgão recebido em 1989, quando ainda era menor de idade, com 17 anos. Francisco foi operado no Hospital de Cirurgia, em Aracaju, pela equipe do cirurgião cardíaco José Teles de Mendonça e pelo cardiologista alagoano José Wanderley Neto, que acompanhava o paciente.
Francisco Sebastião de Lima morreu em decorrência de um melanoma, um câncer de pele. “O Chico foi o segundo paciente transplantado em Sergipe e no Nordeste. O primeiro foi transplantado em julho de 1986 e foi um marco para Sergipe e para a região. Além do pioneirismo no Norte e Nordeste, fomos o quinto estado brasileiro a fazer transplante de coração”, informa doutor José Teles. “O Francisco foi nosso ‘mascote’. Foi o primeiro de um programa que consagrou nossa região e fez muito sucesso”.
José Wanderley Neto, que hoje é deputado estadual por Alagoas, em discurso na Assembleia Legislativa daquele estado, relembrou a cirurgia, que foi uma das primeiras realizadas no Brasil. O parlamentar disse que recorda cada detalhe do procedimento. “O Francisco inaugurou os transplantes de uma forma original. O coração que ele recebeu estava em Sergipe e fomos até lá para fazer essa cirurgia”, afirmou o médico.
Segundo o médico e deputado, “a doação do coração aconteceu em Aracaju e nós optamos por não trazê-lo para Maceió, onde o Chico estava internado à espera de uma doação. Decidimos levá-lo até a capital sergipana, onde fizemos o transplante”, detalhou. Na época da cirurgia, o jovem Francisco Sebastião de Lima sofria com a doença de Chagas e o estado dele era considerado gravíssimo.
Apoio de Zerbini
Os primeiros transplantes de coração realizado no Nordeste mudaram a maneira como o país via o exercício da medicina na região e impulsionaram avanços que foram responsáveis por salvar milhares de vidas. Para José Wanderley, a cirurgia foi concretizada graças ao apoio do médico brasileiro Euryclides de Jesus Zerbini, que realizou o 5º transplante de coração do mundo. “Por ironia, Francisco não morreu do coração, mas com a mesma doença que matou o professor Zerbini, que morreu aos 80 anos, em decorrência de melanoma”, afirma José Wanderley.
“O Dr. José Wanderley Neto, meu compadre, sempre esteve comigo nessa empreitada e é cidadão sergipano”, destaca o cardiologista sergipano José Teles, professor da Universidade Federal de Sergipe e um dos pioneiros em cirurgias cardíacas no Brasil.