Sergipe estuda impacto das redes de cerco nos estuários
26 de setembro de 2023
Aracaju tem 48 mil residências vazias
26 de setembro de 2023
Exibir tudo

Primeiro dia

Por Fátima Barros *

Hoje meu Personal trainer veio aqui em casa e recomecei os meus exercícios de musculação. Ele chegou animado e me animando, dizendo que nesses dias iniciais teríamos exercícios ligth, leves, até que eu e meu corpo nos acostumássemos melhor. Beleza, pensei. E disse também que não faríamos caminhadas nesse recomeço, forçaria muito meus joelhos. Maravilha, continuei pensando.

Começamos. Depois de uns dez minutos, comecei a desconfiar que o conceito de “light e leve” dele, era diferente do meu. Mas continuamos. Logo depois comecei a achar que ele tinha confundido light com power e leve com pesado. Minutos adiante, a desconfiança transformou-se certeza absoluta! Mesmo assim, fomos em frente.

Lá pras tantas, sem saber ao certo de onde vinha tanto suar à ponto de colar a blusa às minhas costas, comecei a sentir alguma coisa estranha, mas sem saber bem ao certo o que era. Quis questiona-lo, mas a voz não saiu e foi então que percebi que o problema era na minha laringe: ela estava travada! Exceto por uns ais e uis esporádicos, pensei que tinha ficando muda. E ele continuava a me mandar fazer exercícios “leves e ligth”. Àquela altura eu já não tinha vontade própria, muito menos força e voz pra contestar qualquer coisa.

Ao perceber que eu estava muito ofegante e suada, ele, num ato de extrema bondade – um santo homem! – disse que me daria 30 segundos para descansar. Trinta segundos! Mas acho que ele só esperou um segundo e meio e já recomeçou a sessão de tortura. Eu já estava sem esperança de sobreviver e nem me importava mais. A essa altura já tinha pensado em vassoura atrás da porta, porção de sal assando na panela e todas essas magias que a gente aprende com a sabedoria popular. Foi então que ele disse “por hoje é só” e eu senti que havia chance de sobreviver.

Eis que ouço, como vinda lá das profundezas, a voz dele dizendo que iria fazer uma massagem nas minhas panturrilhas a fim de deixá-las relaxadas. Mas, cadê voz pra contestar? Totalmente estarrecida, vi perfeitamente o sadismo com que ele quase arranca as batatas das minhas pernas! Foi então e só então que uma solitária e solidária lágrima fugiu do meu olho e se alojou na ponta do meu nariz. Acho que não estou emocionalmente pronta para disputar as olimpíadas…

* É juíza de Direito aposentada

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *