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“Homo itabaianensis”

Por Antonio Samarone *

Ainda rapazinho, ouvi uma palestra do intelectual Alberto Carvalho, sobre a singularidade do Itabaianense. Sobre quem era esse tipo específico? Todas Aldeias se acham especiais e únicas. De Paris ao Zanguê.

O carioca, o paulista, o baiano, aliás, todos se enxergam tipos genuínos, diferentes dos demais. Geralmente, melhores.

Não quero me meter na areia movediça da “sergipanidade”, se existe e o que seria.

Quem nos visita, acha Aracaju neutra, sem traços distintos, muito parecida com as cidade do interior de São Paulo. Organizada, bonita, mas com baixa nordestinidade. Claro, isso é polêmico.

A minha curiosidade é menor: existe o itabaianense, o papa cebola, um ser com traços culturais distintos? Um tipo único e diferenciado.

Na palestra de Alberto Carvalho, há mais de 40 anos, ele defendeu, usando a antropologia, que o Itabaianense carregava traços distintos e singulares. Essa singularidade foi forjada pelas lendas, pela Serra e pelos traços físicos. Claro, essa análise poderia ter sido feita pela sociologia, psicologia, história, literatura, e atualmente, pela inteligência artificial (que serve para quase tudo).

Mas Alberto usou a antropologia.

Na época, ele acentuou que as lendas, nos remetia as origens, com as minas de Belchior Dias Moreia e o bezerro de ouro. Um espírito de mineiros. Mesmo a globalização e a TV tendo esmagado as lendas locais, o pesquisador Wanderlei Menezes já identificou treze delas, em Itabaiana. Se aprendia sobre as lendas na infância.

A Serra era outro condicionante. A montanha marca as personalidades. Segundo Alberto.

E quais seriam esses traços dos Itabaianenses, para Alberto Carvalho?

O primeiro e destacado traço é o bairrismo. Somos os únicos sergipanos que reafirmamos a nossa origem, com a boca cheia de orgulho: somos de Itabaiana. Concordam?

O segundo é a sagacidade para os negócios. O comercio de Itabaiana é imbatível, em Sergipe del’ Rey. Juramos ser herança judaica. Sendo ou não, se acredita. O Itabaianense é visto como hábil com o dinheiro.

Essa parte, eu não herdei. Sempre perco nos negócios.

Também atribuída a herança judaica, o Itabaianense possui um senso crítico acentuado, adoram a auto-gozação e as aparências modestas. Quem tem, não parece.

Alberto joga um balde de água fria em nossa ilusão batávica, de que somos descendentes de holandeses. Alberto discorda. O nosso branco sardão, cabelo de fogo, sarara, manga rosa, sardento é de origem ibérica.
Pode ser! Mas o moreno de olhos verdes, como meu pai, era a miscigenação do Preto com holandês.

Durante muito tempo, a presença negra em Itabaiana foi omitida. A história já revelou a presença de vários quilombos, voltados para a cerâmica, e mais recentemente, a produção de castanha assada.

Na Cultura, Alberto cita a força do teatro em Itabaiana. No Grupo Escolar Guilhermino Bezerra, a professora Anamira Cesar, na década de 1950, usava encenações teatrais como método didático.

Alberto cita a força do grupo teatral de Zé Bezerra, na década de 1940, no cinema de Zeca Mesquita.

Outro traço do Itabaianense citado por Alberto Carvalho, é a sua paixão pelo jogo. Aqui se aposta em tudo. Conta-se que um filho foi pedir a bênção ao pai, e ele respondeu: “Deus lhe dê sorte no jogo.”

Não sei dizer se Alberto Carvalho tem ou não razão. Ele era um observador profundo da alma Itabaianense.

São 40 anos dessa análise de Alberto Carvalho. Muita coisa mudou, inclusive o Itabaianense.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana

 

 

 

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