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Guerreiras dos movimentos femininos pela democracia

Por Elito Vasconcelos *

Os movimentos feministas brasileiros liderados por mulheres de várias áreas, segmentos e classes sociais tiveram ao longo da história, objetivos diversos, mas, sempre com o propósito de liberdade, num país patriarcal e misógino.

Durante a ditadura civil-militar implantada no Brasil, após o golpe de 1964, as mulheres tiveram uma participação ativa e efetiva na luta em defesa da democracia, inclusive, denunciando as arbitrariedades, violência de toda espécie; torturas, seqüestros e mortes cometidas pelo Estado brasileiro.

Os movimentos das mulheres no campo político, na luta em defesa das liberdades democráticas, tomaram corpo em todo o país, e eram gritos fortes que ecoaram pelo Brasil afora e até internacionalmente.

Ana Côrtes durante o depoimento à Comissão Estadual da Verdade

Em Sergipe, como em outros estados brasileiros, várias mulheres destacaram-se nesta luta, com atuação nos movimentos estudantis e sociais, na educação, literatura e até mesmo partidos políticos, inclusive, naqueles que estavam na clandestinidade, a exemplo de Ana Côrtes, Laura Marques, Núbia Marques, Zelita Correia, Iara Viana de Assis, Maria do Carmo Freitas, Bia Wanderley, Dalva Almeida, Ana Soares de Souza, Maria Elisa da Cruz, Gizelda Morais,Tereza Cristina Cerqueira Graça, lica Vasconcelos, Ofenísia Soares Freitas, Guadalupe Varela, a religiosa Irmã Francisca e tantas outras. A maioria delas fundadoras do Comitê Feminino pela Anistia de Sergipe.

Embora nos anos 60 e 70 as mulheres já lutassem pela libertação e igualdade de gênero, as delimitações dos papéis e da própria existência delas, e os liames definidos como para homens e mulheres continuavam preservados e observados no contexto social. Portanto, a conotação do sexo frágil (feminino) levava a certa preservação de atenção às mulheres.

Entrementes, nos anos de chumbo da ditadura civil-militar no Brasil não havia tais delimitações entre militantes políticos – homens e mulheres, quando se tratava de política de repressão e violência patrocinada pelo Estado. E as militantes, mulheres engajadas na luta contra a repressão tinham absoluta consciência das violências a que estavam expostas e submetidas.

Contra elas eram praticados todos os atos absurdos de violência, desde a ameaça de infertilidade, separação e a tortura de seus companheiros e filhos (torturas psicológicas), até a tortura física, inclusive, estupro. E o relatório final da Comissão Nacional da Verdade confirma que as torturas sofridas pelas mulheres eram sistemáticas e específicas.

Durante a realização da Conferência Estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), realizada no último dia 18 de novembro deste ano, foi prestada uma homenagem a Ana Côrtes. Militante e filiada ao partido desde 1972, membro da direção Estadual em Sergipe. Uma justa homenagem, face ao seu histórico de luta.

Assistente Social formada pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e atualmente aposentada da Prefeitura de Aracaju, Ana Côrtes foi presidente do Diretório Acadêmico de Serviço Social da UFS, militante da Ação Popular AP entre 1967 a 1972.

Na clandestinidade atuou na Região do ABC e foi operária na indústria química Trol em São Bernardo/SP, além de atuar na zona canavieira sul de Pernambuco como enfermeira e feirante.

Em Sergipe foi presidenta do Sindicato dos Assistentes Sociais do Estado e membro do Conselho Federal dos Assistentes Sociais. Integrou o Comitê Feminino de Anistia e a Sociedade Sergipana em Defesa dos Direitos Humanos.

Presa e torturada, ainda grávida, em Recife, integrou o Comitê de Apoio aos Presos Políticos de Itamaracá.

Durante o depoimento de Ana Côrtes à Comissão Estadual da Verdade “Paulo Barbosa de Araújo”, em 22 de março de 2016, ela revelou que o desnudamento era uma prática utilizada como regra pelos torturadores contra as mulheres presas, durante os interrogatórios, como forma de ameaça, humilhação e violação do sentimento de pudor delas.

Na sua vida pública foi Secretária de Assistência Social da Prefeitura de Aracaju em 1986, na administração do Prefeito Jackson Barreto, e 2002, na administração do Prefeito Marcelo Déda.

Trazer esses fatos históricos conclui-se que o respeito e as homenagens às mulheres devem ser constantes e perenes, pois, desde o ato da gestação até o de pari, passando pela vida familiar e pública demonstra que, como dizia a eterna revolucionária Rita Lee: “Sexo frágil não foge à luta”.

* É jornalista, advogado e fazedor de poesia.

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