Por Antonio Samarone *
Itabaiana iniciou a passagem de província agrícola (cidade celeiro), para entreposto comercial (capital brasileira dos caminhões) na década de 1950. A chegada do Ginásio Murilo Braga e da BR – 235, foram as espoletas.
Essa imagem de cidade celeiro é uma herança dos tempos agrícolas. O carinhoso apelido de ceboleiros também, mesmo sem nunca termos produzido cebolas tradicionais. O que se produz em Itabaiana é a cebolinha, aquela irmã do coentro, que se deixar amadurecer vira cebola rocha (ciganinha), que se vende entrançadas.
E por que somos ceboleiros? Se dizia antigamente que os feirantes de Itabaiana na feira de Laranjeiras, na hora do almoço, comiam o feijão fazendo bolo com as mãos e molhando num molho de vinagre, cebola rocha e pimenta. Aliás, eu adoro esse molho.
O povo laranjeirense entranhava aqueles modos, alguém comendo cebola na hora do almoço, e nos apelidaram de ceboleiros. Sei disso por ouvir dizer.
Em 1950, a população de Itabaiana era de 35.802 habitantes, sendo 30.056 (83%) rural, e apenas 5.746 (17%) urbana. No Censo de 1960, a população urbana duplicou, passando para 11.050.
A virada urbana/rural só ocorreu em 1990, quando a população urbana passou para 41.045 habitantes e a rural de 23.793. No censo de 1980, a relação urbana/rural ficou meio a meio.
No censo de 2023, Itabaiana chega um pouco mais de 103 mil habitantes, quase toda vivendo na cidade. Mesmo os povoados, a vida é muito próxima, a diferença é pouca. Somos todos tabaréus.
A cidade alargou as suas ruas, abriu-se avenidas, preparou-se para ser um polo comercial.
Na década de 1950 chegaram: o Banco do Brasil, a energia elétrica de Paulo Afonso, a estação agropecuária da Fazenda Grande, o açude da Macela, os motorista organizam a procissão de São Cristóvão (atual festa dos caminhoneiros), ocorre a micarene (atual micarana), o Itabaiana é campeão da Zona Centro e o ensino primário chega aos povoados.
Na década de 1950, a disputa local da política, PSD X UDN, na verdade, era uma disputa pelo controle do comércio. Os dois líderes, Euclides Paes Mendonça e Manoel Teles, eram donos de armazéns de secos e molhados, que procuravam expandir os seus negócios.
Na vitória de Leandro Maciel – UDN (1955) ao governo do Estado, Euclídes Paes Mendoça bradou em alto tom: “agora, quem passa contrabando sou eu.”
A disputa política local tinha como pano de fundo uma guerra comercial.
Os dois líderes acabaram se matando, na década de 1960. Aí já é história para outro texto.
Na década de 1950, Itabaiana montou a base da mudança, que permitiu tornar-se no polo comercial mais dinâmico do Estado e na maior cidade do interior de Sergipe.
A vitória de Valmir de Francisquino nas eleiçoes de 2022 (como se sabe, tomada no tapetão), foi um sinal desse força de Itabaiana.
No proximo texto, falarei sobre a década de 1960.
* É médico e está secretário da Cultura de Itabaiana.