Por Adiberto de Souza *
O Partido Comunista Brasileiro (PCB) teve forte participação nas eleições de 1945, tendo, inclusive, apresentado Yeddo Fiúza como candidato a presidente da República. Nesse mesmo pleito, o escritor baiano Jorge Amado (PCB) se elegeu deputado federal por São Paulo. Para reforçar a campanha em Sergipe, o “Pecebão” mandou do Rio de Janeiro o combativo democrata Péricles de Azevedo, dono de um vibrante discurso ideológico, recheado de um verbo afiadíssimo. Candidato a senador, esse sergipano que deixou o estado muito jovem teve 4,53% dos votos, bem menos do que os 23,39% e 23,65% dos eleitos, respectivamente, Durval Cruz e Walter Franco, grandes empresários filiados à UDN.
Nascido em 1903, no Engenho Oitocentas, localizado em Rosário do Catete, Péricles Vieira de Azevedo era o primeiro dos 12 filhos de José Paes de Azevedo Sá e Cecília Vieira de Melo. Em sua tese de mestrado em História pela Universidade Federal de Sergipe, a professora Josineide Luciano Almeida Santos conta que, ainda muito jovem, Péricles foi estudar no Rio de Janeiro. Alí, ingressou na Escola Militar e seguiu a carreira das armas, chegando ao posto de tenente-coronel. A mestra conta em sua pesquisa que Perícles de Azevedo também se formou em Direito, porém advogou por pouco tempo. Segundo a irmã dele, Gulgar de Azevedo, ele “era muito inteligente, de conversa fácil e agradável, um orador primoroso”.
A Igreja e os comunistas
No livro ‘História Política de Sergipe’, o professor Ariosvaldo Figueiredo faz registros sobre a campanha eleitoral do PCB no estado em 1945, destacando um comício realizado pelo Partidão em São Cristóvão. O historiador escreve que, ao chegarem na antiga capital do estado, os comunistas se depararam com uma grande reação da Igreja Católica, que era muito forte no município. Em todas as missas daquele domingo, os padres apelaram aos fiéis para não irem à manifestação vespertina convocada pelos políticos vermelhos.
Achando pouco os sermões feitos nas missas, os padres tentaram abafar o alto-falante do comício. Justo na hora do discurso do candidato a senador Péricles de Azevedo, a principal estrela da companhia, os sinos de todas as igrejas começaram a dobrar. Tarimbado, o orador não perdeu a calma e, para surpresa dos reverendos, fulminou: “Vejam, meus senhores, o Partido Comunista está tão forte em São Cristóvão que até os frades fazem questão de nos prestigiar com esse fabuloso badalar”. E, achando o chiste pouco, Péricles prosseguiu: “Foi a forma encontrada pelos religiosos para participar dessa grande festa democrática”. Acabrunhados com o inesperado contra-ataque do comunista, os padres deram uma contraordem, e, aos poucos, os sinos foram silenciando, para o comício vermelho prosseguir apoteótico. Marminino!
* É editor do Portal Destaquenotícias
1 Comments
Profundamente interessante. Acho que quase ninguém ou mesmo sergipano sabe disso. A palavra “comunista” no Brasil virou insulto, sinônimo de “adorador de Satanás”. Mas estudei os primordios do comunismo na União Soviética, na educação e sei que não foi isso. Que o ideal comunista não é isso. E que precisa ser “renascido” para nossa época. Teve gente que o comparou com o ideal cristão original e, de fato, não fica longe.