Por Adiberto de Souza *
Essa história quem me contou foi o saudoso advogado, boêmio e jornalista Hugo Costa. Ela lembra os duros tempos da censura à imprensa, coisa comum na ditadura militar. Ex-deputado estadual por várias legislaturas e ex-governador de Sergipe, o general Djenal Tavares de Queiroz não era homem de levar desaforo pra casa. Apesar disso, sempre teve uma veia desportista, a ponto de ser um dos fundadores do Olímpico, time que, por décadas, esteve na primeira divisão do futebol sergipano.
Certa feita, o cronista esportivo Everaldo Lídio, conhecido popularmente em Aracaju por “Movimento”, fez duras críticas ao Olímpico. Por conta disso, passou por maus bocados na Polícia, comandada à época por Djenal Queiroz, o principal cartola do “Leão da Caserna”, alcunha do time composto basicamente por jogadores oriundos do Exército Brasileiro.
Antes de falar sobre os dissabores vividos por “Movimento”, vamos tentar resumir a longa história do time formado na zona oeste de Aracaju. Em seu livro Caleidoscópio, o saudoso professor Clodoaldo Alencar Filho revela que o Olímpico nasceu com o nome de Siqueira Campos Futebol Clube: “Suas cores jamais mudaram. Ontem Siqueira, hoje Olímpico, permanecem rubro-negras”, escreve o intelectual, ex-reitor da Universidade Federal de Sergipe.
Professor Alencarzinho conta que o Siqueira Campos Futebol Clube foi criado por “alguns desportistas-militares”. Entre eles estavam os tenentes e depois generais do Exército Djenal Tavares de Queiroz e Antônio Carlos Nascimento, o “Bebê”. Sabe-se lá por qual motivo, em 1939 o time do bairro mais populoso da capital sergipana mudou de nome para Olímpico Futebol Clube e ganhou o apelido de “Leão da Caserna”, numa referência ao quartel do 28 Batalhão de Caçadores.
A seco, sem água, sem nada
Pois bem, voltemos à história de “Movimento”. Secretário da Segurança Pública linha dura, o general Djenal não gostou das críticas feitas pelo cronista ao “Leão da Caserna”, seu time de coração e do qual era o principal cartola. Irritado, “convidou” o jornalista à sede da Polícia e o ordenou que engolisse a página do jornal: a seco, sem água, sem nada.
Além de bom cronista esportivo, “Movimento” era um sujeito bem-humorado. Segundo o competente jornalista Raimundo Luiz, “Everaldo Lídio fazia coisas geniais, sempre movido a álcool”, detalha. Pelo que contou Hugo Costa, diante da embaraçosa ordem do chefe da Polícia e manda chuva do Olímpico, o articulista argumentou em defesa própria: “General, o artigo aqui desse lado da página eu fiz, mas do outro lado tem a propaganda de um trator da Casa da Lavoura. Sou obrigado a engolir o trator também?”, indagou “Movimento”, quase pedindo clemência.
Entrevistado depois do episódio pelo próprio Hugo Costa, Djenal Queiroz negou que tivesse forçado o cronista “Movimento” engolir a página de jornal com artigo, trator e tudo: “Ele engoliu, mas não fui eu quem o obrigou, foram os meus amigos, que também gostavam muito do nosso Olímpico”, resumiu o general. Misericórdia!
* É editor do site Destaquenotícias