Está aberta a temporada do ‘Circo Mágico’ em Aracaju
3 de abril de 2024
Jovens podem tirar 1º título de eleitor até maio
3 de abril de 2024
Exibir tudo

Carlos Pinna de Assis, o lorde dos Tribunais de Contas

Gilfrancisco*

Carlos Pinna de Assis (1949-2023), bacharel em direito, exerceu vários cargos públicos, dentre eles o de Procurador Geral do Estado e de Secretário de Estado da Habitação e Previdência Social. Foi nomeado Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, em 21 de novembro de 1986, após aposentadoria de Manoel Cabral Machado. Com forte presença no cenário nacional das Cortes de Contas, assumiu por três mandatos a Presidência do TCE/SE e por dois, a presidência da Associação dos Tribunais de Contas do Brasil – ATRICON.

Nascido em Aracaju, Sergipe, a 4 de fevereiro de 1949, filho de Antônio Xavier de Assis Júnior, desembargador, e de Anália Pinna de Assis. Neto do jornalista e Intendente de Aracaju (1904/1905), Antônio Xavier de Assis (1870-1939). Iniciou a sua formação escolar entre os anos de 1953-1955 no Jardim de Infância Augusto Maynard, em Aracaju. Os cinco anos seguintes, estudou no Colégio Jackson de Figueiredo, na mesma capital, em 1962 transferiu-se para Belo Horizonte (MG), matriculado no Colégio Santo Antônio, onde permanece até 1964. Ainda em Belo Horizonte, entre os anos 1965/1967, conclui o curso clássico no Colégio Estadual de Minas Gerais – Central.

A Paixão pela Bahia

Em 1968, Carlos Pinna inicia o curso de Direito na Universidade de Brasília-UNB, dois anos depois foi para a Bahia, matriculando-se na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia – UFBA, em Salvador, onde conclui o curso de Bacharel em Ciências Jurídicas, turma de 1972, ano do desembarque de Cae e Gil em Salvador, eletrizando a terra de Dodô & Osmar. Pinna assiste ao inesquecível Transa embarcando na Caetanave e no Expresso 2222. Os anos 1970 na Bahia foram uma década para nunca esquecer e seus mistérios tornaram a Bahia um lugar único. Foi uma década efervescente: Temporada de Verão, censura e muita criação. A Bahia desponta no teatro, cujo circuito incluía os teatros Castro Alves, Vila Velha, Santo Antônio, Gamboa e o ICBA. Nesta casa de cultura, Instituto Cultural Brasil Alemanha, dirigido por Schaffner, que nunca aceitou cercear a liberdade criativa dos artistas. O Instituto Goethe, que sediava a Jornada de Curta Metragem, era o QG de várias tribos. No barzinho de Reginaldo Silva não dispensava a sopa de cebola, nem uma passadinha no frenético Beco dos Artistas, no início do Garcia e no final da Leovigildo Filgueira, o Zanzibar (um reduto da comida africana), sempre presente com o amigo antropólogo Antônio Risério. A beleza negra do Ilê Aiyê de Vovô, deixava-o fascinado pelo colorido vivo da música e da dança, o desbunde da mocidade alucinante no Porto da Barra ou no Farol de Moraes, Galvão e Baby, visto daquele ângulo, era a Bahia da magia e do candomblé. Sempre marcando presença no 2 de fevereiro, para presentear Iemanjá – odoyá Rainha do Mar. Os jornais alternativos Boca do Inferno e Invasão atordoavam os militares que reprimiam os intelectuais. Estar em Salvador tem que ver a Catedral, passar pela Sé e pisar no Largo dos Quinze Mistérios. Estar na Bahia de Caymmi, de Mãe Menininha e Mãe Stela e não ir ao Bonfim não tem perdão. Certa feita, estávamos na EGBA acompanhando a finalização do livro Esboço Histórico e Geográfico do Baixo São Francisco, ele tinha um almoço no Palácio de Ondina com algumas autoridades. Eu fique e combinamos um horário para retornar a Aracaju. O almoço passou das 15 horas e ele não queria chegar atrasado à missa na igreja do Bonfim. Luiz, seu motorista há mais de trinta anos, disse: Dr. Pinna, e Gil? Temos que pegá-lo. – Esqueça Gil, ele está em casa, na terra dele, amanhã ele vai. Estando ele em Salvador, tinha que ir ao Bonfim.

Tudo enfeitiçava Pinna, a grandeza das festas populares, a lavagem de Itapoã e Boa Viagem, uma saudação ao Senhor dos Navegantes. A beleza baiana encantava e sua participação na vida intelectual e boêmia de Salvador é marca registrada. Não perdia a série de concertos nem de jazz na Reitoria, nem uma noite na boate do Hotel da Bahia, onde ia assistir o pianista Carlos Lacerda. Eu estive presente em todos esses lugares na terra de Tomé de Souza, mas nunca nos cruzamos pelos caminhos de exu. São caminhos cruzados de Robert Johnson. São encruzilhadas como mar e sertão, bebendo sorrisos por todas as partes. Na Reitoria, eu trabalhava na Procuradoria Jurídica da UFBA, com o procurador Edvaldo Britto, no ICBA dirigia as finanças do Clube de Cinema da Bahia e estava presente todas as noites, além de produzir shows musicais. Carlos Pinna era um lorde baianês. A Bahia o acolheu com carinho, dando-lhe condições de ocupar postos relevantes. A Bahia lhe deu régua e compasso, mas a chamado teve que deixar o velho porto do Governo Geral, sob vozes de olhares atônitos. É Nanã, é Nanã:

Inscrição na OAB/BA (1973); Sócio fundador da Sociedade Civil de Advogados – Brandão, Pinna& Tourinho Dantas (1975); Monitor da Comissão de Assistência Judiciária – OAB/BA (1978); Conselheiro Seccional eleito pela Assembleia Geral dos Advogados (1979/1981), sendo reeleito para os biênios de 1981/1983 e 1983/1985; Conselheiro Membro da Comissão de Assistência Judiciária, OAB/BA (1979-1980); Conselheiro Membro da Comissão de Ética e Disciplina OAB/BA (1979/1980); Conselheiro Membro da Comissão de Estágio e Exame da Ordem (1981/1983); Conselheiro  Diretor-Tesoureiro da OAB/BA – Secção Bahia (1983); Presidente da Caixa de Assistência dos Advogados do Estado da Bahia (1983/1984); Sócio do Instituto dos Advogados da Bahia, onde atuou como Diretor de Estudos e Legislação (1982/1984).

Durante o ano de 2021 viajamos muitas vezes a Salvador, afim de nos encontrarmos com o governador em exercício, João Leão, bem como o presidente da EGBA, para acertamos a parceria entre o TCE/SE e o Governo da Bahia na edição do livro de Bernardino José de Souza, Dicionário da Terra e da Gente do Brasil, 4ª dição. Mas na fase da pré-impressão e acertos para o lançamento, houve algum desentendimento entre Pinna e o presidente Luiz Augusto Carvalho Ribeiro e a edição foi abortada. Isso deixou Carlos Pinna muito irritado, chateado, mas nada falava.

Certa feita, estávamos no Gabinete do Vice-governadorJoão Leão e ele, nos apresentou ao presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Nelson Leal, e solicitou que apresentasse o projeto para concessão do título de cidadão baiano a Carlos Pinna de Assis. Era um desejo antigo de Pinna, ser homenageado com esse título.

Retornando a Aracaju, providenciei toda documentação para encaminhar ao deputado e o tempo passou, Leão adoeceu e foi hospitalizado por várias vezes e o projeto foi esquecido.  Após seu falecimento ocorrido ano passado (5 de abril) a ideia foi retomada pelo mesmo parlamentar, que pretende homenageá-lo pós-morte com o Título de Cidadão Baiano.

Retorno a Sergipe

Em 1983, a convite do governador João Alves Filho, é nomeado para o cargo de procurador-geral do Estado de Sergipe e, em 1985, assume também o cargo de procurador-geral de Justiça do Estado de Sergipe. Em 1985 é nomeado secretário de Estado da Habitação e Previdência Social de Sergipe. Em 1986 toma posse em novembro do mesmo ano como Conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe, tendo exercido os cargos de corregedor geral nos biênios de 1991/93 e 2009/2010, vice-presidente nos biênios 1996/97 e 2005/7, e presidente nos biênios 1997/99 e 2007 e 2014/15. Em 1999 cursa a Escola Superior de Guerra – ESG, no Rio de Janeiro-RJ, onde obtém pós-graduação em Política e Estratégia, com tese sobre o Poder Legislativo Nominal.

Em 2000 é eleito primeiro presidente da Associação dos Órgãos de Controle Externo do Mercosul – ASUL, fundado naquele mesmo ano em San Carlos de Bariloche, na República Argentina. Em 2002 é eleito presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil – ATRICON e coordenador do Centro de Coordenação dos Tribunais de Contas do Brasil, com sede em Brasília-DF, cargo que exerce até 2005.

Participou, como conferencista e expositor, de eventos no Brasil, Argentina, Colômbia, Alemanha, Espanha e Portugal, desenvolvendo temas relativos ao Controle Externo das Contas Públicas.

Posse no TCE

A Gazeta de Sergipe registrou em edição de 22 de novembro de 1986 uma pequena Nota, “Novos conselheiros do TC tomam Posse”, sobre a posso de dois conselheiro nomeados pelo governador João Alves Filho, Carlos Pinna de Assis e Hildegardes Azevedo Santos:

            O economista Hildegardes Azevedo Santos e o advogado Carlos Pinna de Assis foram empossados, na manhã de ontem, como membros do Conselho do Tribunal de Contas do Estado, em solenidade presidida pelo presidente do órgão, conselheiro Juarez Alves Costa e que contou com a presença do Governador João Alves Filho, do vice-Governador Antônio Carlos Valadares, secretários estaduais e municipais, políticos e todos os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado.

                Após a leitura dos respectivos termos de posse, os novos conselheiros salientaram, em seus pronunciamentos, a oportunidade ímpar do convívio que agora passam a ter com “os doutos conselheiros deste Tribunal, deles bebendo ensinamentos e aprendendo a servir cada vez mais o povo sergipano”.

                O novo conselheiro Carlos Pinna afirmou que “é uma honra fazer parte de tão seleto colegiado”, ao tempo em que elogiou o Governador João Alves Filho como “principal agente da mudança estrutural e ideológica por que passa o Estado neste momento de progresso e paz política”.

Estoril

Na qualidade de presidente da ATRICON, o conselheiro Carlos Pinna esteve reunido no Estoril-Portugal, no período de 19 a 21 de março de 2003, no Encontro Luso-Brasileiro de Tribunais de Contas, quando os Tribunais de Contas da União, dos estados e dos municípios do Brasil e o Tribunal de Contas de Portugal, aprovam a “Declaração do Estoril”, em que reafirmam a efetiva indispensabilidade dos entes constitucionais de controle externo ao regime democrático de direito. A Declaração do Estoril foi assinada por Valmir Campelo (Presidente do Tribunal de Contas da União do Brasil), Alfredo José de Souza (Presidente do Tribunal de Contas de Portugal) e Carlos Pinna de Assis (Presidente da ATRICON).

Posse na ATRICON

Reeleito para o cargo de presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil para o biênio 2004/2005, em eleição realizada no dia 11 de novembro, no XXII Congresso dos Tribunais de Contas do Brasil, realizado em João Pessoa-PB, o conselheiro do TCE/SE, Carlos Pinna de Assis, tomou posse em solenidade realizada no Tribunal de Contas do Distrito Federal. Nesse mesmo dia, o conselheiro Carlos Pinna recebeu da Associação Nacional do Ministério Público de Contas – AMPCON, a Medalha do Mérito Institucional. Trata-se de uma honraria concedida pela Associação a quem, nos termos dos seu Estatuto e Regulamentação Específica, tenha se destacado pelos relevantes serviços prestado a AMPCON ou ao Controle Externo, ou pelos mérito e conhecimento ou outras áreas correlatas com a atuação do Ministério Público de Contas. Essa é a primeira vez que a AMPCON concede essa medalha.

Despedida

Em solenidade que aconteceu no auditório do Tribunal de Contas do Distrito Federal, o conselheiro Carlos Pinna de Assis – TCE/SE, depois de cumprir dois mandatos como Presidente da ATRICON, passou o cargo para o presidente do Tribunal de Contas do Rio Grande do Sul, Victor José Faccioni, que vai cumprir um mandato de dois anos (2005-2007) à frente da entidade.

Em seu breve discurso Pinna disse que deixava a ATRICON sem qualquer débito ou pendência e com o patrimônio ampliado em cerca de 50%, “além de uma disponibilidade financeira superior a dez vezes à despesa mensal obrigatória”. Depois agradeceu à sua família pelas constantes ausências, aos companheiros de diretoria, a todos os ministros, conselheiros e auditores e às autoridades do Brasil e do estrangeiro.

Segundo Mandato

A substituição da direção do Tribunal de Contas é um exercício de democracia. O doutor Carlos Pinna e seus companheiros são conselheiros experientes e por isso a expectativa é que o Tribunal continue atuante, agindo de forma a angariar o respeito da sociedade.

                                                   Marcelo Déda (1960 -2013)

No dia 8 de março de 2007, o governador de Sergipe, Marcelo Déda, participou na tarde desse dia da solenidade de posse do novo presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o conselheiro Carlos Pinna de Assis. Foram empossados também a conselheira Isabel Nabuco D’Ávila como vice-presidente e o conselheiro Antônio Manoel de Carvalho Dantas como corregedor.  Empossado para o exercício do biênio 2007-2009, o conselheiro estava na época com 58 anos e assumiu pela segunda vez a presidência do TCE:

            Já fui presidente em outra oportunidade e confesso a todos que fui surpreendido com o número imenso de amigos e de autoridades do Brasil que estão presentes aqui. 

Estiveram presentes, além do governador Marcelo Déda, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, José Artêmio Barreto, o presidente da Assembleia Legislativa, Ulices Andrade, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, o arcebispo da Arquidiocese de Aracaju, Dom José Parreira Lessa, o presidente do Tribunal de Contas da União, Walton Alencar Rodrigues, além de prefeitos, deputados, secretários de Estado e mais de 30 representantes de tribunais de contas de todo o Brasil.

Também foi realizada uma cerimônia para a entrega da comenda máxima do TCE, o Colar do Mérito Gumercindo Bessa. Receberam a homenagem o Instituto Luciano Barreto Júnior, representado pela empresária Maria Celi Barreto, e o ministro aposentado do Tribunal de Contas da União, Luciano Brandão Alves de Souza, representado pelo presidente do TCU, Walton Alencar.

Direito Administrativo

O encerramento do XXI Congresso Brasileiro de Direito Administrativo, evento realizado nos dias 19 e 21 de setembro de 2007, no Teatro Tobias Barreto, teve sua cerimônia de encerramento presidida pelo conselheiro Carlos Pinna de Assis, então presidente do TCE, considerado por todos, dos responsáveis pela organização até os participantes, como o maior já realizado pelo Instituto Brasileiro de Direito Administrativo. Ao abrir a cerimônia de encerramento, Carlos Pinna disse:

            Recebi a honrosa missão de presidir a mesa de encerramento deste grandioso XXI Congresso Brasileiro de Direito Administrativo e o faço com muito orgulho porque é uma honra está aqui ao lado de uma presença tão ilustre e tão suave como o ministro Carlos Augusto Ayres de Farias Britto. Este evento é sem nenhuma dúvida o maior de todos já realizado e Sergipe. Excelências, senhoras e senhores, cabe-me tão somente agradecer em nome dos sergipanos e sergipanas aqui presentes, a realização, em nossa Aracaju, deste evento patrocinado pela IBDA, cujo presidente, o professor Juarez Freitas, teve a luminosa ideia de convidar para operacionalizá-lo, a Editora Forum, especialmente na pessoa do seu presidente Luiz Cláudio Ferreira.

Mais adiante, Carlos Pinna afirma que:

            O TCE/SE, sente-se orgulhoso em ter participado do também da organização do Congresso. Com um modesto, mas eficaz trabalho fez tudo o que era possível para colaborar com a organização e o êxito deste evento.

Bogotá

Entre os dias 5 e 7 de dezembro de 2007, Carlos Pinna de Assis participa do Seminário Internacional sobre Modernização, Fortalecimento Institucional do Estado e dos Governos e Administrações locais, realizado em Medelin, no Centro de Convenções e Exposições Plaza Mayor. Carlos Pinna foi um dos quatro palestrantes do tema “Fiscalização de Gestão e do Gasto Público”, que teve como moderador Carlos Ossa Escobar, reitor da Universidade Distrital de Bogotá. O Seminário foi dirigido a acadêmicos, estudantes universitários e governantes.

Durante o evento foi desenvolvida uma agenda em torno de sete temas centrais sobre a governabilidade e modernização local e territorial, num intercâmbio de experiências sobre políticas públicas para o desenvolvimento da América Latina e Europa.

Renúncia do TCE

            Não preciso usar a presidência do Tribunal de Contas para assuntos que não o institucional.

            Foi com essa afirmação que o conselheiro Carlos Pinna de Assis (então presidente do TCE/SE), finalizou a entrevista coletiva concedida no dia 26 de dezembro de 2007, ao anunciar sua renúncia ao cargo de presidente da Corte de Contas. A afirmação foi feita após ser questionado sobre as denúncias que o deputado estadual Wanderlê Correia vinha fazendo na imprensa, de que estaria usando o TCE para favorecer politicamente o vereador de São Cristóvão, Carlos Pinna Junior.

O conselheiro disse ainda que deixava a presidência com a certeza do dever cumprido, porque conseguiu superar as crises que a Casa atravessou no ano de 2007, mantendo-a funcionando normalmente:

            Só me credito da efetiva ação de manter o TCE em funcionamento. O Tribunal passou e ainda passa por uma gravíssima crise, não podemos esconder esse fato, e a minha função como presidente durante todo o tempo foi manter a instituição funcionando.

Carlos Pinna explicou que o motivo principal da sua renúncia foi uma convocação da ATRICON para participar da condução do processo de elaboração das leis nacionais por Tribunais de Contas, em substituição ao conselheiro baiano Manoel Castro, que foi convocado para assumir a presidência do Tribunal de Contas do Estado da Bahia.

Operação Navalha

Entrevistado pelo jornal A Tarde, de Salvador (24.05.2007), o presidente do TCE, Carlos Pinna, afirma que vai esperar o conselheiro Flávio Conceição de Oliveira Neto, preso durante a Operação Navalha, da Polícia Federal, apresentar sua defesa. Flávio foi acusado de integrar uma quadrilha comandada pelo empresário Zuleido Veras, da Construtora Gautama. Pinna foi questionado pelo jornalista sobre a possível incompatibilidade de Flávio para relatar processos no TCE. Responde o presidente:

Não há impedimento, até por que nenhum conselheiro toma decisão isolada. É malicioso o argumento de que aqui alguém decide as coisas politicamente. Não é com críticas que o Tribunal se sustenta. A Constituição Federal                reza que investido no cargo público, não só o conselheiro, mas qualquer servidor, só pode ser demovido da função após esgotada as instâncias do processo, observando-se o amplo direito de defesa.

Em sessão histórica de 12 de março de 2008, o TCE abre processo administrativo e afasta o conselheiro Flávio Conceição. Na época Pinna estava afastado, sendo seu substituto o auditor Luiz Augusto Carvalho Ribeiro. Antes mesmo dos trabalhos serem iniciados, o conselheiro Carlos Pinna pediu a palavra para informar aos membros da Corte de Contas que se julgava impedido de participar da Sessão, uma vez que ele também fora denunciado pelo ex-deputado Nelson Araújo dos Santos:

            Que representou contra mim nesta Corte e por essa representação estar incluída no processo como uma peça de defesa do Conselheiro Flávio Conceição. Não posso, lamentavelmente, deixar de reconhecer que é um dado processual de relevância e que me impede de participar dessa decisão, pois não quero pôr em risco o resultado da decisão que hoje se tome aqui.

Terceiro Mandato

Em sessão extraordinária de 12 de dezembro de 2013, foi empossada a Nova Mesa Diretora do Tribunal de Contas do Estado – TCE/SE para o biênio 2014/2015. Sucedendo o conselheiro Carlos Alberto Sobral de Souza, o conselheiro Carlos Pinna de Assis ocupou pela terceira vez a presidência do órgão. A partir de janeiro esteve ao seu lado, os conselheiros Clóvis Barbosa de Melo e Ulices Andrade, na direção da Casa, empossados nos cargos de vice-presidente e corregedor-geral, respectivamente.

Ao antecipar algumas das suas metas, o novo presidente enalteceu as conquistas obtidas pela gestão do seu antecessor e assegurou que iria ampliá-las, sobretudo no âmbito das ações pedagógicas empreendidas pela Escola de Contas Conselheiro José Amado Nascimento, aproximando cada vez mais o TCE da sociedade:

            Vamos dar continuidade ao trabalho magistral desempenhado pelo presidente Carlos Alberto Sobral Souza. Estamos vivendo lamentavelmente uma fase de cortes, em decorrência do tempo, das dificuldades orçamentárias e financeiras que o Brasil está atravessando, mas dentro desse quadro restritivo, vamos seguir com essa visão de aproximação do Tribunal com a sociedade.

Já o conselheiro Luiz Augusto Carvalho Ribeiro, ao ser designado para falar em nome do colega, afirma não ter dúvida de que a próxima gestão seria exitosa:

            Todos nós conhecemos o compromisso e a seriedade que o conselheiro Carlos Pinna conduz os seus trabalhos aqui no Tribunal. Que seja uma administração de grande significado.

Representando o Ministério Público de Contas, o procurador-geral José Sérgio Monte Alegre aposentado em 2022, também parabenizou a nova Mesa e fez uma referência especial ao conselheiro Carlos Pinna de Assis:

            Sempre tive uma sincera admiração pela sua vocação jurídica, pela sua projeção nacional e pela sua linhagem paterna.

O novo vice-presidente da Casa, o conselheiro Clovis Barbosa de Melo, também ressaltou o novo momento vivenciado pelo Tribunal:

            O Tribunal de Contas do Estado está se transformando numa instituição que se aproxima cada vez mais do povo e temos que continuar assim. Nossa perspectiva é de que o Tribunal continue cada vez mais transparente.

Imortal

Um intelectual voltado para a área do Direito Público, com expressiva contribuição em artigos jurídicos dentro de periódicos especializados e que dispõe também de uma crônica muito interessante.           

José Anderson Nascimento – Presidente da ASL

Eleito em 26 de outubro de 2015 como novo Imortal da Academia Sergipana de Letras – ASL, o conselheiro e presidente do TCE, Carlos Pinna de Assis, passa a ocupar a cadeira de número 13, que tem como patrono o Frei José de Santa Cecília (1809-1859), como fundador Clodomir de Souza e Silva (1892-1932) e como demais antecessores os escritores: João Freire Ribeiro, Urbano de Oliveira Neto e Giselda Santana de Morais. Em seu discurso, o novo imortal lembrou da trajetória de vida acadêmica de todos que passaram pela cadeira nº13 e agradeceu aos amigos pela demonstração de carinho:

            Cabe-me agora, antes de mais nada, honrar sucintamente o patrono e os que me antecederam na cadeira de número treze, que mereceram que lhes fossem consagradas laudas suficientes para refletir a complexidade e a riqueza de suas personalidades, vida & obras. Giselda era uma mulher de muito pensar e de muito escrever. A humildade é a mais completa virtude e a academia é um lugar de eternidade e permanente renovação.

Morte

Por alguns dias Carlos Pinna esteve internado no Hospital Primavera, na capital sergipana, após complicações decorrentes de um enfisema pulmonar. Não resistiu e faleceu no de 5 de abril de 2023, aos 74 anos. O velório do conselheiro foi realizado na sede do Tribunal de Contas do Estado e reuniu familiares, amigos e colegas de trabalho, admiradores do seu legado. Foram trinta e seis anos a serviço do TCE, onde ocupou cargos de presidente, vice-presidente, corregedor e ouvidor.

Deixou viúva Raquel Prado de Oliveira Pinna, os filhos Luísa Prado Pinna Figueiredo e Carlos Pinna de Assis Junior e netos.

Palavras de Saudade

            Sergipe perde um dos homens que melhor projetou este Estado país afora, com seu conhecimento e capacidade técnica; o conselheiro Carlos Pinna deixa uma lacuna irreparável no controle externo e na vida de todos nós que compartilhamos o privilégio do seu convívio.

                               Flávio Conceição – Presidente do TCE/SE

                                                               ==========

                O falecimento de Carlos Pinna entristece Sergipe. Ele deixa um legado de honradez, ética e profundo conhecimento de administração pública. Na presidência do TCE, fez um trabalho marcado pela eficiência e produtividade processual. Além de tudo, era um intelectual respeitado, autor de artigos, pesquisas e livros. Vai fazer muita falta.

                               Jeferson Andrade – Presidente da ALESE

                                                               ===========

                Foi com grande tristeza que recebi a notícia do falecimento do amigo e conselheiro do Tribunal de Contas de Sergipe, Carlos Pinna. Um ser humano culto, incrível, que sabia cultivar amizades e construir consensos.

                               Edvaldo Nogueira – Prefeito de Aracaju

                           

*Gilfrancisco é jornalista, escritor, Doutor Honoris Causa pela UFS. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do CPCIR/CNPq/UFS

gilfrancisco.santos@gmail.com

 

 

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *