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Mais de 70% das mulheres músicas são discriminadas

A pesquisa torna visível a dificuldade enfrentada pelas profissionais do setor da música

Quase 80% das mulheres na música já sofreram discriminação de gênero e 53% jamais receberam valores de direitos autorais, porque não tinham músicas tocando em algum lugar. A pesquisa feita pela União Brasileira de Compositores (UBC) junto a compositoras, intérpretes, musicistas, produtoras fonográficas e técnicas, não necessariamente associadas à entidade, e respondida por 252 profissionais do setor do sexo feminino, constatou que 79% delas sofreram algum tipo de discriminação.

Segundo a coordenadora de Novos Negócios da UBC, Vanessa Schütt, o resultado da enquete é um reflexo da sociedade brasileira. “O sistema patriarcal e machista que ainda vigora no país está presente nos depoimentos de várias mulheres que participaram da sondagem e comprova o que o relatório anual Por Elas Que Fazem a Música, lançado pela UBC em março passado, já atestava”, disse.

Ambiente hostil

A pesquisa, divulgada torna visível a dificuldade enfrentada pelas profissionais do setor da música em um ambiente hostil. Do total de participantes da pesquisa, 33% são compositoras; 30% se disseram intérpretes; 19% são produtoras fonográficas; 17% são músicas executantes; e 3% trabalham em outras áreas dentro da música, como funções técnicas, por exemplo. Várias responderam que atuam em mais de uma função.

Por regiões, a maior parte, equivalente a 63%, são oriundas da Região Sudeste, seguindo-se Nordeste, Sul, Centro-Oeste e Norte. Por faixa etária, a maioria (35%) tem de 31 a 40 anos de idade; 28% até 30 anos; e 24%, de 41 a 50 anos de idade. “Uma coisa que a gente queria pegar e que não tem na nossa base de dados é a orientação sexual”, disse Vanessa. A ideia da UBC é incluir a pergunta também nas próximas pesquisas para ampliar sua base de dados.

Escolaridade

A pesquisa aponta que 60% das mulheres se declararam brancas, contra 40% de pardas, pretas, amarelas e indígenas. Em relação à escolaridade, a enquete mostrou que 46% têm curso superior completo, 12% têm mestrado e doutorado e apenas 3% têm segundo grau incompleto ou menor escolaridade.

A maior ou menor escolaridade, entretanto, não interfere no recebimento de valores autorais: 53% declararam nunca ter recebido nenhum valor de direitos autorais e 51% afirmaram receber, no máximo, R$ 800 anuais oriundos dessa fonte. As que recebem mais de R$ 54 mil em direitos autorais representam apenas 3% das respondentes.

Segundo a UBC, elas traduzem “a grande disparidade na distribuição dos rendimentos, verificada em outros levantamentos, e que se deve, entre outros fatores, à dificuldade de inserção para artistas independentes e de fora do mainstream [corrente dominante] no mercado musical como um todo”.

Vanessa Schütt disse que a intenção da UBC é aumentar sempre no relatório e pesquisas as questões envolvendo a mulher, “para as pessoas entenderem que a desigualdade existe e todo mundo deve se mexer e refletir para fazer alguma coisa para mudar esse quadro”.

A maioria das participantes se declarou solteira (53%), 68% não têm filhos, o que pode indicar a dicotomia entre dedicar-se à carreira ou formar uma família, que é frequentemente imposta às mulheres não só no meio musical, mas no mercado como um todo. Por meio da enquete e do relatório anual, a UBC pretende destacar a necessidade de equiparação de condições de trabalho e rendimentos entre homens e mulheres no mercado musical, porque considera que isso beneficiaria toda a cadeia produtiva.

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