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Tratamento de choque

Por Antônio Samarone *

A psiquiatria é recente em Sergipe. Somente em fevereiro de 1941, os 45 doentes mentais deixaram as dependências da Penitenciária Modelo, onde até então estavam enclausurados, e foram transferidos para o Hospital Colonia Eronides de Carvalho.

Em outras palavras, somente a partir de 1941, é que as pessoas com doença mental em Sergipe, passaram a receber assistência médica, pois até essa data, eram trancafiados na penitenciária, com os criminosos.

O fato gerou um grande acontecimento em Aracaju, a população saiu às ruas para acompanhar extasiada a novidade. Os doidos foram fotografados, para assinalar esse fato histórico.

O primeiro hospital psiquiátrico em Sergipe, estava localizado no Povoado Sobrado, possuia 102 leitos, com dois pavilhões para os calmos e dois para os agitados (masculino e feminino).

Foi pensado como um hospital moderno, sob a direção do Dr. Luiz da Rocha Cerqueira, discípulo de Ulysses Pernambucano de Melo, da famosa escola psiquiátrica do Recife.

Conta-se, que no dia da inauguração, para se comprovar o moderno uso da laborterapia, um tipo de terapia por meio do trabalho, os malucos foram orientados a desfilarem empurrando um carrinho de mão, para simbolizar o novo método terapêutico.

Na hora combinada, os malucos, em protesto, saíram pelo pátio empurrando os carrinhos de mão com as caçambas emborcados, voltadas para baixo. O Governado se surpreendeu e perguntou: por que vocês emborcaram os carrinhos? Eles responderam: para evitar que alguém botasse pedra ou areia para a gente carregar.

A moderna laborterapia começo mal, na Colonia Eronides Carvalho. Os pacientes podiam até ser doidos, mas eram inteligentes.

O Jornal Correio de Aracaju, edição de 23 de fevereiro de 1943, divulgou com grande ênfase uma carta do Dr. Garcia Moreno, então Diretor da Colônia de Psicopatas, anunciando importantes incorporações tecnológicas da psiquiatria sergipana:

“Comunico que desde outubro de 1942 o nosso Hospital Colônia de Psicopatas inclui em seus trabalhos rotineiro, ao lado da aplicação mais antiga dos métodos de Sakel e Meduna (insulina e cardiazol), a convulsoterapia de Cerletti e Bini”.

“Possuímos um aparelho de eletrochoque terapia fabricado pela Offener Electronies, dos Estados Unidos, do tipo mais moderno e portador das mais recentes inovações técnicas, de notáveis vantagens práticas (máquina de curar louco). Custou ao Governo Estado perto de treze mil cruzeiros e chegou a Aracaju por via aérea, o aparelho pesa menos de oito quilos”.

“Quase quarenta pacientes já foram, entre nós, submetido ao método de Cerletti, num total de crises convulsivas que andam perto de novecentas”.

“Aqui, como em outras partes, duas a três aplicações semanais de uma corrente elétrica de 450 miliampere, durante 0,2 segundos através do cérebro, tem em pouco mais de um mês reconduzido a vida psíquica normal homens e mulheres”.

Como se vê, a psiquiatria não era mais uma especialidade médica de literatos e filósofos.

O Censo do IBGE de 1950, encontrou atuando em Sergipe: 85 médicos, sendo uma mulher; 86 dentistas, sendo 13 mulheres; 123 enfermeiras e auxiliares, 45 parteiras e 7 veterinários.

A Colonia foi uma construção mal feita. Em pouco tempo, as paredes racharam e o piso afundou. Os pacientes foram transferidos para o Adauto Botelho. Aí já é outra história;

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

 

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