O Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Mangaba mantido pela Embrapa Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE) no campo experimental de Itaporanga d’Ajuda, no litoral sul de Sergipe, foi credenciado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) como fiel depositário do patrimônio genético da espécie.
Com esse credenciamento oficial, emitido pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEG), órgão do MMA, o BAG da Mangaba adquire status de referência nacional para receber amostras de mangabeiras e garantir a conservação ex situ (fora do lugar de origem) do patrimônio genético da fruteira, considerada uma espécie de grande importância econômica e social para o litoral do Nordeste e Cerrado do Brasil.
O pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Josué Francisco da Silca Júnior, curador do banco genético da mangaba instalado em Sergipe, explica que o reconhecimento oficial permite maior visibilidade dentro e fora do país, além de ampliar as possibilidades de captação de recursos para manutenção e melhorias.
“Em 2016, a ideia é ampliar ainda mais o Banco com novas amostras, sobretudo dos estados de Pernambuco e Sergipe”, adiantou o pesquisador.
Conservação
Com 253 acessos (amostras de plantas em número suficiente para representar a variação genética de uma população) provenientes de oito estado brasileiros, o BAG da Mangaba foi implementado em 2006, e possui grande variabilidade genética e conserva amostras de algumas populações com enorme vulnerabilidade, por estarem situadas em áreas de intensa especulação imobiliária.
“Esse material guardado permite a sua conservação e uso em futuros trabalhos de melhoramento genético. Tendo em vista que a mangabeira vem apresentando intensa erosão genética, a conservação no banco permite que genes de importância não sejam perdidos”, afirma Josué.
O banco está situado numa área de restinga do campo da Embrapa. Além da área do BAG, é de responsabilidade da curadoria a conservação in situ (no local de origem e ocorrência da planta) de uma área natural de mangabeira com cerca de 4,5 hectares, localizada dentro da Reserva do Caju, a primeira Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de âmbito federal da Embrapa.
No Brasil, há outras coleções de mangaba, sendo algumas em Unidades da Embrapa – Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), Embrapa Amapá (Macapá, AP) e Embrapa Meio-Norte (Teresina, PI) – e outras em universidades e organizações estaduais de pesquisa agroepecuária, mas apenas o banco da Embrapa Tabuleiros Costeiros adquiriu status de fiel depositário.
O processo de credenciamento é relativamente rápido, de acordo com Josué, e é feito por meio de preenchimento de formulário, acompanhado de relatórios de descrição do banco e suas instalações e atividades. “O documento deve ser assinado pelo curador e pelo presidente da Embrapa e encaminhado ao CGEN, que indica dois analistas que emitem um parecer. Quando aprovado, é publicado no Diário Oficial da União pelo Ministério do Meio Ambiente”, descreve.
A fruta
A mangaba (Hancornia speciosa) é uma fruta nativa de sabor marcante, cuja árvore é símbolo de Sergipe. É cantada em verso e prosa e apreciada por muitos no Norte e Nordeste, e encanta pelas delícias que se pode obter com sua polpa – geleia, licor, sorvete e suco, que nos deixa com um memorável visgo nos lábios após bebermos.
A mangabeira tem ocorrência nos estados do Cerrado, Caatinga e litoral nordestino, podendo alcançar até 10 metros de altura, com tronco áspero, ramos lisos, avermelhados, com látex branco abundante. Suas folhas são opostas e simples. Suas belas flores alvas e saborosos frutos conferem valor ornamental à espécie, ideal para a arborização urbana e rural.
O fato de apresentar propriedades nutritivas mais elevadas e sabor mais marcante apenas quando cai do pé (chama-se popularmente como “mangaba de caída”), madura, confere-lhe um grande simbolismo e um status de iguaria pelos seus apreciadores.
Mas o outro lado dessa história não é tão belo e poético assim. Para a mangaba chegar aos consumidores, precisa ser colhida, e a realidade de quem colhe não é tão passível de celebração. As comunidades tradicionais extrativistas, na sua maioria formadas por mulheres de baixa renda e pouca escolaridade – autodenominadas catadoras, enfrentam grandes barreiras ao modo de vida que garante o seu sustento.
Uma situação crescente de destruição dos recursos naturais, intensificação das indústrias imobiliária e do turismo, avanço de monoculturas, como a cana, privatização das áreas e impedimento do acesso às plantas em locais anteriormente de entrada livre são os maiores obstáculos.
Fonte e foto: Embrapa