O jumento tão comum no Nordeste está ameaçado de extinção. Um levantamento exclusivo do SBT News, com base em dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), identificou que, nos últimos sete anos, o número de abates de jegues saltou 3493%, em relação aos sete anos anteriores. De 2017 a 2024, 278.821 animais dessa espécie foram mortos apenas em abatedouros legais. Já de 2009 a 2016, 7.760 foram abatidos.
O ano de 2016 é considerado um marco na vida dos jumentos quando, principalmente a China, seguida por Hong Kong e o Vietnã expandiram a demanda de produtos antes acessíveis somente à elite. O eijão, que é uma gelatina extraída da pele de jumentos, tem sido o carro-chefe da indústria cosmética e farmacêutica e é a principal causa da redução do número desses animais no Nordeste brasileiro.
A carne do jumento para consumo também é explorada, mas em menor escala. Em 2019, as exportações de peles e couros de equídeos foram de 98,8 toneladas, registrando um aumento de 4.640%, em relação a 2018, segundo um estudo da USP com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Vale destacar que apenas a raça do Jumento Pêga é reconhecida, não estando em risco de extinção pelo valor do animal no mercado, que varia desde R$ 5 mil a R$ 1 milhão.
Para Débora Façanha, doutora em Zootecnia e cientista da associação Jumentos do Brasil, além da dívida simbólica e histórica que o Brasil tem com os jumentos “comuns”, uma possível extinção desses animais impacta, principalmente, aqueles que sobrevivem da agricultura familiar e vivem no sertão nordestino. “É um animal que faz parte da constituição das cidades. Eles estão tendo uma diminuição drástica da população que, se persistir assim em 10 anos acaba com todos os jumentos nordestinos”, afirma Débora.
O estado da Bahia é o principal abatedor de jegues do Brasil. Segundo o levantamento do SBT News, desde 2021, 90% dos abates ocorreram na Bahia, o que corresponde a 156 mil vidas de jumentos perdidas. Além disso, Débora Façanha alerta que não há critério para a escolha do jumento que será abatido. Como não existe criadouros desse animal e o interesse é pela pele, há uma cadeia extrativista que não se importa se o jegue está em desenvolvimento, velho, magro, gordo e muito menos saudável, colocando um potencial risco de proliferação de doenças.
Fonte: SBT News