Por Antônio Samarone *
A primeira bola de futebol chegou a Itabaiana pelas mãos de Etelvino Mendonça. Na verdade, uma bexiga, encouraçado por Seu Deca Sapateiro. Os primeiros times foram o Brasil e o Santa Cruz.
As bolas e as chuteiras eram fabricadas por Joãozinho Baú, irmão do Craque Debinha; e por Mestre Dé, pai de Jailton, que jogou no Grêmio de Porto Alegre.
Etelvino Mendonça, quando Intendente, mandou murar o primeiro campo, no final do Beco Novo. De forma justa, recebeu o seu nome. Depois fizeram um novo estádio (o atual) e, para agradar aos militares, puseram o nome de Presidente Médici.
Antes, o Etelvino Mendonça do Beco Novo era cercado de pano, nos dias de jogos.
Na gestão de Jackson Barreto, rebatizaram o novo Estádio Médici, como Etelvino Mendonça.
Até a década de 1960, três times estavam organizados em Itabaiana: a Associação Olímpica de Itabaiana, o Cantagalo e o Margem da Serra.
O Margem da Serra era uma entidade futebolística e Bloco de Carnaval, sob influência dos comunistas.
Em Itabaiana, o PCB existia de forma organizada. Pequeno, sem força eleitoral, mas comandado por pessoas influentes na Sociedade local. Antonio de Dóci, Zé Martins, Renato Mazze Lucas e mais cinco dezenas de sapateiros e alfaiates.
O PCB foi culturalmente ativo em Itabaiana (até 1964): fundou a Sociedade Beneficentes dos Trabalhadores, um clube social no Beco Novo; o GLEI (Gremio Literário e Esportivo de Itabaiana), que possuia uma escola de alfabetização e um quadra de esporte, e tinha influência no Margem da Serra, dirigido por João Criano, um simpatizante dos vermelhos, vindo de Ribeirópolis.
Com a tragédia politica dos assassinatos dos líderes: (Euclides – 1963 e Manoel Teles – 1967), o vazio social em Itabaiana foi ocupado pelo futebol. Já falei nisso em outros textos.
Não foi somente o fortalecimento do time do Itabaiana, que virou um grande do futebol sergipano.
O futebol explodiu na cidade, devido ao vazio e a desagregação política da década de 1960. Claro, as Copas do Mundo de 1958 e 1962, tiveram peso.
O futebol teve um papel social específico em Itabaiana. Foi um cimento unificador da sociedade, esquartejada pela violência política.
Cada bairro passou a ter um time de futebol e, espontaneamente, organizaram um campeonato da cidade, sem envolvimento do poder público.
Foi criada a FIFA: Federação Itabaianense de Futebol, dirigida com firmeza e disciplina, por Miguel de Rola.
Lembro-me do Ideal, dirigido por Tororoco; São Cristóvão, do bairro onde o futebol nasceu; !3 de Maio, de Bolero; Cruzeiro, da Rua do Fato; Mangueira, da Rua Nova; Olaria, dos Higinos; Grêmio, do Campo Grande; Joinville, de Romualdo (Prefeito de Coronel João Sá); Escolinha, do Lagamar e o Bangu de Tonho das Cachorras.
Existiam times menores, que não participavam do campeonato oficial da cidade: os 11 perigos de Mané Barraca, o Bahia de Melcíades e o Santos de Avací. Devo ter esquecido de outros.
Luiz Américo, organizava campeonatos de futebol de pelada, no campinho do Tenente Baltasar. Mexia com a meninada.
Nas décadas de 1960, 70 e 80, o futebol assumiu uma função relevante na sociedade itabaianense. Foi um caminho de reunificação das pessoas, afastadas pelo ódio da política.
Isso eu conto por ciência própria, fui atleta do 13 de maio, para compor o elenco. Os craques nascidos em Itabaiana foram poucos. Uma meia dúzia. Para evitar esquecimentos, não vou citá-los. Talvez Nilson de Russo, Evandro e Gustinho, tenham sido os que mais me encantaram.
Para evitar as cobranças: Horácio, o maior ídolo do futebol itabaianense, é de Carira.
* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.