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Itabaiana – 350 anos. Do artesanato a automação

Por Antonio Samarone *

As novas tecnologias, da Internet a inteligência artificial, desarticularam a vida coletiva e as suas raízes. O neurocientista Miguel Nicolelis acaba de publicar um livro esclarecedor: “Nada Será como Antes.”

O cérebro não é digital!

Fico impaciente com os discursos políticos na campanha eleitoral. Isso acabou! Só os fascistas perceberam. O fenômeno da eleição em São Paulo, não será exceção.

Por isso, como terapia, concentro-me na memória provinciana. No prosaico, na rede aldeã, no que me restou de vida analógica. Nos últimos cérebros sintonizados.

A próspera Itabaiana, já viveu economicamente da produção agrícola. A vida urbana, dominada por sapateiros e alfaiates. Não se tinha saídas. Os estudos terminavam no ginásio.

A criação do primeiro Arraial em Itabaiana, no Vale Fértil do Jacarecica, ao pé da grande Serra, data do início do século XVII. Em data incerta: hum mil seiscentos e pouco.

Registrou-se a organização de uma Confraria, a Irmandade das Santas Almas do Fogo do Purgatório, em 1665. O propósito era arrecadar fundos para comprar um terreno, visando instalar a Villa.

A cópia desse Estatuto é conhecida. Sebrão Sobrinho desencavou.

No século XVI, a estrada real que ligava Salvador a Olinda, passava por Sergipe, cortando o território da futura Villa de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. O historiador Almeida Bispo, localizou essas veredas.

A cópia da escritura do terreno, no Tabuleiro de Ayres da Rocha Peixoto, onde está a cidade, comprado ao Padre Sebastião Pedroso de Goes, também é conhecida.

Em 30 de outubro de 1675, o Arcebispo de Salvador, Dom Gaspar Barata de Mendonça, criou a Freguesia (Paróquia) de Santo Antonio e Almas de Itabaiana. Um novo Arraial estava estabelecido.

Não existe Paróquia sem comunidade, sem o Arraial. A primeira instituição estabelecida pela Coorte Portuguesa em Itabaiana, foi uma Paróquia.

Tendo que escolher uma data razoável para nascer, comprovada documentalmente, restou a Itabaiana a data da criação da Freguesia de Santo Antonio e Almas (1675). Portanto, em 2025, comemoraremos um duplo aniversário: 350 anos da cidade e da Paróquia.

A busca da Prata, a revolta dos curraleiros e a ocupação holandesa, são anteriores a constituição dessa Paróquia (1675). Provavelmente, tinha outros Arraiais. A povoação que nasceu com a Paróquia, foi Arraial de Santo Antonio e Almas, no Tabuleiro de Ayres da Rocha. Esse Arraial depois virou Villa (1697) e Cidade (1888).

No período holandês, Calabar estabeleceu-se por um breve período em Itabaiana. Dizem, que deixou família.

Em Itabaiana, a Igreja é anterior a Villa, à Câmara de Vereadores. O Arraial só passou a Villa em 1697. De Villa a Cidade, esperou-se mais 191 anos, só em 28 de agosto de 1888.

Mudou-se apenas o nome, a realidade permaneceu a mesma. Itabaiana era uma Villa pobre e continuou uma pobre Cidade.

“Três dúzias de casebres remendados/ Seis becos, de mentrastos entupidos/ Quinze soldados, rotos e despidos/ Doze porcos na praça bem criados.”
“As damas com sapatos de baeta/ Palmilha de tamanca como frade/ Saia de chita, cinta de raqueta.” Gregório de Matos (Sergipe).

Já foi dito, que o progresso econômico só chegou a Itabaiana, a partir da segunda metade do século XX. São desse período que se assenta a minha memória.

Em pouco tempo, a minha memória será incompreensível para mim mesmo. Antes que não sobre mais nada da vida analógica, resta-me contá-la!

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

 

 

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