Por Antonio Samarone *
Sou indagado com frequência sobre a influência holandesa e judaica na cultura itabaianista. Todo louro de olhos azuis, em Itabaiana, se acha descendente de holandeses. E todo comerciante itabaianista sabido, se acha judeus.
Não sei! Ainda procuro as evidências.
Os meus ascendentes do Matebe, Candeias e Capunga, são galegos, da Galícia. Os ascendentes das Flechas, Matapoã e Sambaiaba, são do Norte de Portugal. Todos cruzados com índios e negros, é que informa os estudos do DNA mitocondrial. Somos pardos e curibocas.
Vou falar um pouco sobre a influência espanhola, em Itabaiana.
Durante a ocupação de Sergipe (1590), vivíamos sob o domínio da União Ibérica (Portugal/Espanha – 1580 a 1660). Os primeiros colonos que chegaram ao Vale do Jacarecica, fundaram o Arraial de Santo Antonio e Almas. Itabaiana Grande (Itapvámuçu) já estava lá, era a Serra.
Pleiteando ser Villa, criaram a Irmandade das Almas (1665), para viabilizar a compra de um local onde construir a Villa. Compraram um Sítio no tabuleiro de Ayres da Rocha. Transferiram o Arraial. Em 1675, o Bispo de Salvador criou a Freguesia de Santo e Almas. A Igreja chegou antes da Coroa. Tornou-se Villa, somente em 1697.
A nova povoação se deu em torno de um grande espaço vazio (atual Praça Fausto Cardoso). O novo livro de Robério Santos, apresenta detalhes reveladores:
“A praça da rua media duzentos metros de comprimento no lado Norte, contando com o cemitério antigo; duzentos e dez metros no lado Sul; cento e nove metros nos fundos da Igreja (Rua do Sol) e sessenta e sete metros no lado Oeste. Era um grande espaço vazio, muito diferente de outras localidades na redondeza, em que as casinhas se espremiam em torno da igreja.”
Nesse espaço vazio (largo), ocorriam as festas, eventos religiosos, feiras e comemorações.
Prossegue Robério Santos:
“Havia seis entradas para a Praça: esquina da Intendência, Travessa Paulino Menezes, o beco que sai na Rua 13 de Maio (Rua do Cisco); a Travessa Manoel Andrade, a do Sobrado que outrora fora a Câmara de Vereadores (Bar de Papinha), antigo beco do cemitério; uma ruela ao lado, Travessa José Cornélio da Fonseca; outra travessa ao lado da Igreja que se estende pelo Beco Novo (Rua Riachuelo e depois Coronel Sebrão; ao lado esquerdo da Matriz outro entrada, seguindo pela Rua do Futuro (atual Tobias Barreto).”
Essa forma de ocupação, um grande espaço retangular (Largo), com as casas, órgãos públicos e sobrados voltados para dentro, com entradas estreitas, é o modelo das praças espanholas, de herança Moura. Essas casas eram compridas, fechando o quadrado. Não havia vizinhos pelos fundos.
A Plaza Mayor, em Madrid, é uma praça retangular, rodeada por todos os lados de edifícios, sendo as entradas por nove pórticos. A Plaza Mayor tem 129 metros de comprimento e 94 de largura. A de Itabaiana é maior e possui seis entradas.
Todo cidade do mundo que sofreu influência espanhola, tem a sua Plaza Mayor.
Um velho manuscrito de Feltre Bezerra, informa que os Frades Beneditinos, os mesmos que criaram a Irmandade das Santas Almas do Purgatório, em Itabaiana, usavam plantas e “croquis”, dos arquitetos espanhóis Juan Gomez, Vilanueva e Herrera, na criação das Vilas no Brasil.
Itabaiana sofreu clara influência dos beneditinos, ofuscada pela força de Santo Antonio (franciscano). A Villa é de Santo Antonio e Almas. O “ora et labora” é a súmula da vida monástica dos beneditinos”. Continua sendo observada em Itabaiana.
Por falar em influência espanhola, o Largo São Francisco em São Cristóvão é arquitetura espanhola (comprovada); como a padroeira, Nossa Senhora da Vitória, que protegeu os espanhóis na batalha de Lepanto.
O que tornou São Cristóvão patrimonio cultural da humanidade, foi o modelo de urbanização espanhola, dos tempos da União Ibérica.
Nas fotos antigas de Itabaiana, antes dos canteiros, do coreto, das fontes luminosas e da arborização, fica claro o grande vazio retangular em torno da Igreja (o largo mouro), da Praça Fausto Cardoso.
Um modelo de urbanização moura, trazida pelos espanhóis. A ideia de cidadela, seguiu as cidades muradas, no imaginário de segurança contra invasores. No Brasil, talvez, por medo dos índios.
* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.