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A alma brasileira…

Por Antonio Samarone *

“Mas de repente, me acordei com uma surpresa/ Uma esquadra portuguesa veio na praia atracar/ Da grande Nau, um branco de barba escura, vestindo uma armadura me apontou para me pegar/ assustado, dei um pulo lá da rede, pressenti a fome e a sede, eu pensei vão me acabar/ me levantei, de borduna já na mão/ eu pensei no coração, o Brasil vai começar.” – Nóbrega.

Na medicina hipocrática, o corpo humano é formado de 4 elementos: terra, água, fogo e ar.

No brasileiro predomina o ar. Somos filhos do ar. Isso vem da descoberta. Chegamos de caravelas, trazidas pelo ar.

Na cosmogonia bíblica, fomos criados com um sopro divino nas narinas de um boneco de barro. O ar é o símbolo da vida, da espiritualização. O ar é a fonte do vento, do bafo e do sopro, é a via de comunicação entre a terra e o céu.

Dos 4 elementos, o ar domina o brasileiro. Quando provocados, pegamos ar, ficamos zangados.

Se diz de duas pessoas parecidas: fulano dar uns ares com beltrano. O olhado é um ar diabólico, o ar da inveja. O seca pimenteira.

A antiga morte de repente, causada pelo acidente vascular cerebral (AVC), o “popular derrame”, se diz que passou o vento.

A malária é o mau ar. O vento pelas costas é um perigo para a saúde. Na Peste da Covid, se entubava pela falta de ar. A Peste matou por afogamento.

Deixamos de acreditar, mas vento mau existe, e continua soprando.

Existe o ar do morto, o ar do vivo, o ar quente, o ar frio, o ar da inchação, ar de ventosidade e o ar de dormência. E muitos outros.

Só o diabo, tem mais força que o ar.

Carregar velas acesas em procissões é um desafio ao vento. Uma luta entre o fogo e o ar. O homem dominou o fogo. O ar ligeiro é indomável, o vento vira furação.

Dona Gemelice, no Beco Novo, passava o ramo e ordenava: “Eu retiro todos os males, o ar do ribeiro, ar dos salgueiros, ar dos corisqueiros, ar de morto, ar de vivo, ar de vizinho mau e ar de vizinho bom.” Havia evidencias da eficácia da reza.

Dos 4 elementos fundamentais, o ar é único que continua público. Ainda é gratuito.

A alma nem sempre está à venda. “Tudo vale a pena, quando a alma não pequena.” – Pessoa.

* É médico sanitarista e está secretário de Cultura de Itabaiana (SE).

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