Dentre diversos assuntos que foram pauta no mês de outubro, a revelação de que o novo Super-Homem se assumia bissexual na nova revista em quadrinhos da DC Comics foi um dos temas mais comentados nas redes socais. A quinta edição da série em HQ intitulada “Superman: Son of Kal-El” confirmou que o novo Superman – Jon Kent, filho do famoso Clark Kent e Lois Lane – é bissexual, após ele se apaixonar por Jay Nakamura, um repórter.
Apesar de ser personagem da ficção, o Super-Homem bissexual acabou incomodando muita gente. Nos Estados Unidos, fãs do personagem ameaçam agredir e invadir a casa dos ilustradores e funcionários da DC Comics, que precisaram ter suas casas escoltadas após a divulgação da notícia. Já no Brasil, o jogador de vôlei Maurício Souza, que atuou pela seleção brasileira nas Olimpíadas 2020, postou a imagem do Superman beijando o novo companheiro no Instagram e disparou: “Ah, é só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar”.
De acordo com a egressa do mestrado em Direitos Humanos da Universidade Tiradentes, Daniela Souza, a abordagem de uma sexualidade dissidente em um personagem que traz a ideia do “homem mais poderoso do mundo”, e da visão de super heróis como expressão da masculinidade hegemônica é uma forma de alcançar um público que não está, digamos, acostumado com essas imagens e narrativas, um público que, em verdade, é voltado para um mundo em que as relações de gênero se pautam numa heterossexualidade e cisgeneridade compulsórias.
“Ao demonstrar que um super herói tem outros aspectos além do demonstrativo de força física, ou super inteligência, é possível abordar vulnerabilidades e camadas íntimas do personagem, e essas questões podem ser trabalhadas de uma forma contraprodutiva, ou seja, demonstrando outras possibilidades para além de uma única sexualidade, uma única forma de se relacionar”.
Segundo o próprio artista visual da série, colocar o Super-Homem como parte da comunidade LGBTQIA+ pode repercutir no futuro. Daniela discorre que isso ocorre ao desenvolver a sua sexualidade como um campo complexo de relações, e não meramente uma informação deixada sem maior aprofundamento, como se fosse um meio termo para agradar aqueles que não se veem nas telas, e para não desagradar aqueles que estão acostumados a se verem nas telas.
“Acredito que a mensagem que fica é que há possibilidade de outras formas de viver e ser visto, ser reconhecível, que a imposta como única possível. Existem brechas, fissuras nessas relações de poder que são janelas para que se continue a lutar por existências plurais. Como fonte de entretenimento, a mídia opera também nos processos de subjetivação dos sujeitos. Essa representatividade é um importante instrumento de fortalecimento da autoestima de jovens LGBTQIA+, que sofrem com transtornos de ansiedade e quadros depressivos, e possibilidades de luta contra estigmas e precarização da vida através da arte”.
Fonte e foto: Ascom/Unit