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A burrice artificial

Por Antonio Samarone *

Postei uma linda foto no fakebook: um jovem índio carregando um velho pajé na cacunda. O fakebook censurou e me advertiu: a empresa não permite nudez. Para os algoritmos nudez é nudez, todas são pornográficas.

Os jesuítas, o Bispo Sardinha, Mem de Sá, Dom Sebastião e o fakebook, quiseram vestir os índios. Só o Rei, pode ficar nu!

A inteligência artificial é binária, precisa, digital. A vida é analógica, imprecisa, fantasiosa. As narrativas são aproximações, abertas a criatividade humana.

Cheguei a uma conclusão anacrônica: a vida é analógica. Entendemos o mundo por aproximações comparativas, por analogias.

Sou contra a inteligência artificial, ao chupa cabra, a uberização do trabalho, o fedor da Treze de Julho e ao politicamente correto.
Sou contra os algoritmos, o empreendedorismo, a internet das coisas e ao complexo de Édipo.

Sou conta a automação, ao VAR, ao delivery, a medicina baseada em evidências, ao elixir paregórico, ao ensino a distância e a psiquiatria orgânica.

Sou contra o negacionismo, o dízimo, a dar a outra face, a cuspir no prato que comeu, a piadas sem graça e ao samba de uma nota só.

Sou contra ao Natal iluminado pelo comércio, a falar mal na presença, a Papai Noel, a espantar os males com o canto, a missa do galo, a ceia de peru e ao réveillon em resort.

Aos 13 a anos, eu já sabia ser do contra.

Uma cigana que passou por Itabaiana, leu a minha mão e enxergou: “tempestades lhe esperam”! Mamãe não gostou da conversa e perguntou: “esse menino vai dar certo na vida”? A cigana riu pelo canto da boca e não respondeu. Eu, na hora, tive a sensação que não.

Agora, eu estou certo de que a cigana não me enganou.

* É médico sanitarista

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