Por Antônio Samarone *
Perante a voracidade da Pandemia no Brasil e da lentidão das vacinas, o Congresso Nacional apressa a aprovação da mercantilização da vacina contra a Covid-19. Quem tem dinheiro poderá comprar e terá acesso imediato.
Nenhum outro país pensou nessa canalhice, o Brasil saiu na frente.
A Rainha da Inglaterra entrou na fila da vacinação inglesa. Os Estados Unidos não possuem rede pública de saúde, mas a vacinação é pública. Na verdade, em todo mundo.
É pública, por tratar-se de uma ação coletiva de saúde.
Numa pandemia, o principal objetivo da vacinação é interromper a transmissão da doença. Além de imoral, a mercantilização é um comportamento burro, pois se os pobres, que são maioria, não se vacinarem a tempo, não se conseguirá a imunização de rebanho.
O neoliberalismo brasileiro não tem limites éticos.
O mercado que lucra com o oxigênio que respiramos, os insumos de UTIs, respiradores, remédios para a intubação, as urnas funerárias, onde tudo é mercadoria, dessa vez exagerou. Mercantilizarão os vírus, suas cepas e os anticorpos que produzimos.
O Congresso vai oficializar os furas filas, os camarotes, os privilégios. A iniciativa dos empresários mineiros que compraram vacinas (R$ 600,00 a dose) será oficializada. Observem que a mídia, está tentando passar a versão de que a vacina deles era falsa. Sobrará para a profissional que vacinou.
Não se surpreendam, se os empresários das doenças conseguirem descontar as despesas com essas vacinas, no Imposto de Renda. Aberta ou veladamente.
Provavelmente, essa vacinação contra a Covid-19 tornar-se-á anual. Não se sabe ainda a duração da imunidade vacinal, nem quantas cepas surgirão, exigindo modificações nas vacinas.
Achar que a indústria farmacêutica não venderá vacinas a essa turma, é ingenuidade. O mercado tem a mão invisível, mas a garganta é profunda.
Não cabem comparações com a vacina da gripe, comercializada livremente. Neste caso, não se trata de Pandemia e não existe a falta dessa vacina no Brasil. Pelo contrário, o Poder Público faz campanhas publicitárias incentivando as pessoas a se vacinarem.
Os próximos passos desse comércio abjeto será a liberação da venda de sangue e órgãos para transplantes. Haverá incentivos para a venda dos próprios órgãos, faça-se leilão e consiga-se um bom negócio.
Temo, que a nossa degradação moral não seja reversível a curto prazo.
* É médico Sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe