Por Alonso Gomes Campos Filho *
Bolsonaro nunca negou a ninguém que é de extrema-direita. Disse até muito mais. Portanto, muito provavelmente, quem o segue optou pela extrema-direita, uns mais do que outros. Mas é escolha de cada um, consciente ou inconscientemente. Alguns podem até dizer que não são bolsonaristas e que são mesmo é contra “Lula-ladrão”. Eu também tenho inúmeras restrições à forma como Lula governou, embora tenha visto muitos avanços no governo. Mas nem por isso sou obrigado a optar por uma pessoa com as características de Bolsonaro, o qual, se tivesse sido eleito, levaria o país a uma ditadura (como ele mesmo apregoou).
Extrema-direita é o lado mais radical e violento da política de direita. Essa ideologia é conhecida pela defesa da supremacia racial, do nacionalismo exacerbado, do ódio a grupos minoritários (com aceitação natural das desigualdades), de um Estado forte e autoritário (ou seja, a ditadura), do populismo etc. Não há como fugir dessas características. Vocês, que o apoiam, já se deram conta a que estão dando sustentação e aprovação?
Por isso que muitos privilegiados se colocam ao lado de outros privilegiados, e, nessa afinidade, não conseguem enxergar além. Com efeito, o meio influencia muito nas escolhas.
Não se pode esquecer que a extrema-direita teve como grandes expoentes o nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália. Lembram do que aconteceu nesses países?
Nos últimos dias vimos pessoas bloqueando estradas e pedindo intervenção militar, em protesto contra o resultado das eleições, entretanto sem indicar qual a fraude ocorrida no pleito. Viram como se comportou a Polícia Rodoviária Federal à frente do evento?
Vi há poucos minutos, pela TV, em diversas partes do Brasil, inclusive aqui em Aracaju, pessoas fazendo manifestações em frente a quartéis do Exército, também contra o resultado das eleições. Pedem intervenção militar e gritam “eu autorizo!”. Meu Deus!
Essas ações, de cunho nitidamente golpistas, clamam por uma ruptura democrática. Pedem intervenção militar no regime democrático, mas com Bolsonaro no poder. Não é contraditório? Querem suplantar a legitimidade do voto popular com o uso da força e com desordem. Quem pede um golpe militar não pode gritar “Lula é ladrão”.
O povo pedir uma intervenção militar e uma ditadura é implorar para ser açoitado e flagelado. Diferentemente de 1.964, quando o chicote veio unilateralmente. Ou seja, a própria estrutura do horror está sendo pedida pelo povo. À vista disso, indago: quem está querendo transformar o país em uma ditadura? Lembro que Dilma sofreu impeachment, Lula foi preso, o PT perdeu as eleições em 2018, mas em nenhum momento o PT atentou contra a democracia. Aceitou tudo democraticamente.
Não entendo!!!
* É advogado militante, ex-policial federal e ex-promotor de justiça na Bahia e em Sergipe.
1 Comments
Gostei.dessa posicao do doutor Alonso. Ele, inclusive escreveu um.artigo excelente no periodo pre-eleitoral. Tudo que falou é a mais pura e cristalina verdade.