Por Manoel Moacir Costa Macêdo *
A desigualdade é a raiz de nossa miséria. Ela é um valor em si mesma. O alicerce das mazelas atuais, reproduzidas no tempo de forma consentida por sistemas de controle e subordinação. Ela tem raízes na mais cruel das explorações entre os humanos: a escravidão negra. Gente transformada em máquinas e subjugada dos elementares valores da civilização. Uma mercadoria comercializada pela usura genocida no capitalismo primitivo. O Brasil, único país do mundo com nome de árvore e forma de coração, foi o último das Américas a libertar formalmente os escravos negros, mais pelas pressões do império Inglês, menos pela indignação dos nacionais.
Não é por acaso, mas uma evidência dos horrores da escravidão, que os países mais atrasados e distantes dos princípios iluministas, estão no continente africano, a exemplo da Namíbia, Lesoto, Serra Leoa e Botsuana, berço da humanidade e fonte de negócios e exportação em série de escravos negros para o mundo. Em algum deles, ainda persistem as tribos e não as classes sociais. De acordo com a Organização das Nações Unidas – ONU, o mais desigual país do planeta, é a Namíbia, com um coeficiente Gini de 7,07, próximo de 1,0 (desigualdade absoluta), e o menos desigual a Dinamarca, com o coeficiente de 2,47, próximo de zero (igualdade absoluta). O Brasil com o persistente índice de desigualdade de 0,57, está no rol dos dez países mais desiguais do mundo.
A desigualdade atinge em maior intensidade os negros. Em números redondos, dos 62 milhões de brasileiros indigentes, 16 milhões estão abaixo da linha da pobreza e 10 milhões passam fome. Quase 15 milhões de desempregados e 5,0 milhões de desalentados. 60% dos brasileiros, sobrevivem com apenas um salário mínimo. Massa de esquecidos e indiferentes às políticas de inclusão social. Quase 30% da renda do Brasil está concentrada nas mãos de apenas 1% da população. Cinco brasileiros abocanham a mesma riqueza de 100 milhões de conterrâneos, numa aparente tranquilidade angelical, perdoados por seus desiguais deuses. No dizer de Santo Agostinho, “a esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem. A indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão, a coragem a mudá-las”.
* É engenheiro agrônomo e advogado