Por Elton Coelho *
No Grageru, bairro onde nasci, me criei e fiz da vida umas travessuras, a turma da minha infância religiosamente “viveu uma infância de verdade”.
Fomos criados no entorno de sítios, mangues, ruas de piçarras, com poucas em paralelepípedos e uma grande avenida que descortinou Aracaju nos anos 70/80, que foi a tão propalada Hermes Fontes.
No soltar de pipas, nos morros de areia alto, na cobiçada caça ao caranguejo de andada, no pegar de frutas do sítio onde hoje se instala o condomínio Solares e a avenida Sílvio Teixeira, lá estávamos nós, os moleques do Grageru, a inventar mil brincadeiras, que incluíam a patinete na Caixa d’água, a bola de gude, pembarra e as tradicionais “peladas”, jogos de bola tramados entre uma turma e outra, conflitados sempre em quatro espaços do bairro: o campinho de grama da Escolinha, o da praça da Caixa d’água, o de piçarra onde hoje é a feira do Grageru e o campo do Guarani, time local organizado pela família Bernardo, ali no fundo de onde hoje se situa o colégio Gonçalo Rolemberg.
Porém, umas das passagens mais marcantes da nossa turma era, após a reunião do Natal, nossas famílias da ‘Quadra D’ – Sr. Jerônimo, Zefinha, Leca , Menininha, dona Rizete e Sr. Laurindo, Estela de Sr. Chiquinho , Sr. Carlito, dona Isabel e Sr. Valdemar, Sr. Fernando e dona Rute, Sr. Edgar e dona Edice, dona Vandete, Tanit, Gerson, Sr. Didi, Sr. Ivacir, Euzice e outros mais que deixo de citar pra não alongar o texto – fazer verdadeiras confraternizações em portas de casas havendo, após a Zero Hora, troca de carinhos, bençãos e felicitações.
No entanto, a confra de final de ano, no Grageru, por anos foi marcada justamente na virada de dezembro pra janeiro. E no dobrar da madrugada, já nos primeiros raios da manhã, às 5h, os moleques organizavam uma afoitada “pelada”, um bate bola na avenida da feira, em chão de piçarra e traves de dois tijolos, um sobre o outro, medido com cinco palmas de pé. E assim comemoramos, por anos a fio, nossa Confra! Era a “primeira pelada do ano”, celebrando a vida.
Hoje quase não moramos no Grageru, mas essa saudade reluz traços da infância e juventude que nos deixam marcas inconfundíveis do viver. Quem sabe um dia consigamos novamente reunir essa boa turma, nem que seja pra uma rodada grande de conversas, tal qual foram as brincadeiras do passado.
* É jornalista.