Sergipe recebe mais vacinas contra a covid-19
6 de agosto de 2021
Coronel nega ter espionado senador Rogério Carvalho
7 de agosto de 2021
Exibir tudo

A vacina da corrupção mata

Por Manoel Moacir Costa Macêdo *

Um olhar sensível sobre a pandemia na sociedade brasileira, aflora a crueldade perante os sofrimentos humanos.  Inacreditável os horrores numa terra em forma de coração, nome de árvore, cantada como “abençoada por Deus e bonita por natureza” e que “Deus é brasileiro”. Independente dos alarmantes desencarnes pelo coronavírus e suas variantes, alguns são inexoráveis pela perversidade do vírus, mas a maioria é inaceitável num País de renda média, globalizado e listado entre as doze nações mais ricas do mundo, apesar da persistente e vergonhosa desigualdade.

Após mais de 500 dias e quase 560 mil óbitos, numa aldeia global com avanços tecnológicos geométricos, a exemplo das vacinas oferecidas em velocidade jamais vista na história, sobrevive a retórica negacionista e o discurso artificial de relacionar os cuidados da pandemia como subalternos à economia. A vida é o bem maior da existência e sobrepõe a tudo mais.  Ela está no topo da hierarquia dos deveres morais do Estado em cuidar das pessoas por igual.  Não existe na escala dos valores civilizatórios a competição entre saúde e economia e vida e morte. O natural é a unidade entre o corpo e o espírito como a expressão da vida. A humanidade é o encontro de almas, portanto, uma morte apenas importa.

A história julgará o descuido ou o genocídio, no trato da pandemia e dela não existem escapes. As gerações adiante, irão cobrar as ações e omissões no devido escrutínio. Os crimes contra a humanidade são imprescritíveis por serem hediondos. Aos espiritualistas resta o tribunal da imortalidade da vida, na lógica da “causa e efeito” nas sucessivas experiências de vida. O iluminismo substituiu a barbárie, na promoção dos direitos humanos, sendo o maior de todos, o direito à vida. Uma pergunta aflora nas mentes e corações cristãos na “pátria do evangelho e coração do mundo”: porque a desigualdade, a violência e a morte têm sido normalizada?

Diversas são as conjecturas. Ao menos uma pacifica a maioria dos observadores pátrios: a “versão Macunaíma da corrupção”. Um horror entranhado na alma brasileira, alguns escamoteados no “jeitinho brasileiro” e no “ser cordial”. A corrupção é perversa e pode ser tipificada como um “holocausto brasileiro”. Uma chaga que maltrata, corrói, explora, sacrifica e assassina, principalmente os vulneráveis e indefesos. Uma miséria que desqualifica o Brasil no ambiente das nações civilizadas. Desde a colonização por exploração e escravocrata repartida em capitanias hereditárias, o Brasil carrega a marca suja da corrupção, da captura do Estado e os seus seletivos privilégios, até na remendada e atualizada “Casa Grande e Senzala”.

As transações na aquisição das vacinas, a única terapia recomendada pela ciência, no controle do coronavírus, o vetor da Covid-19, renasceu na renovada e cruel forma de corrupção. O único remédio para salvar vidas. Chama à indignação e revolta pelos de boa-fé, a corrupção dos “fura-filas” na vacinação, as ardis articulações em nome do divino, até as mafiosas negociatas na compra de vacinas. Um conluio criminoso entre agentes públicos e privados, unidos na hedionda corrupção em ganhar dinheiro público. Ao invés de vida, a corrupção mata. A cada vacina contaminada pela mancha da corrupção um “irmão-cristão” é condenado à morte. Isso não pode ser normalizado, mas um perjuro pelo pecado capital. Aos algozes, que seja negado o perdão dogmático e hipócrita da religiosidade-dominical.

Esse “holocausto brasileiro” atinge com maior crueldade os invisíveis e indefesos pelo apartheid social, a exemplo dos negros, desempregados, favelados, encarcerados e minorias esquecidas. Para combater essa resistente doença, que ultrapassa o tempo, ideologias e governos, exigem as vacinas carregadas de altruísmo, educação, compaixão, piedade, moral e ética. Um plano nacional de imunização vacinal com mais igualdade, solidariedade e justiça.

Aos viventes o assombro pelas mortes, enterros, sequelas e lutos vis-à-vis o negacionismo, a corrupção e a geometria plana, em lugar do côncavo, do convexo e até do “reconvexo”.

* É engenheiro agrônomo e advogado

 

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *