Ainda é possível aproveitar o Ouro Azul? O Canal de Xingó e o futuro da Região

Por Carlos Hermínio*

Diante dos desafios enfrentados pelo Projeto do Canal de Xingó, propomos uma nova abordagem para sua viabilização, incluindo uma revisão estratégica de sua denominação e um esforço conjunto de mobilização política e social nos estados de Sergipe e Bahia.

A origem dos estudos deste projeto remonta a década de 1990, quando o ex-governador João Alves Filho convence a Chesf a construir tomadas d’água na ombreira direita da barragem construída em Xingó, formada um lago, elevando as águas em mais de 120 metros, o que amenizaria os custos do Perímetro irrigado Califórnia, implantado no seu primeiro governo. Á época, eu estava ano cargo de superintendente regional da Codevasf em Sergipe, e em parceria com a UFS identificamos áreas potenciais nas margens do lago a ser formado pela barragem de Xingó. Tais estudos, nos motivaram a contratar em 1998, os estudos de pré-viabilidade do aproveitamento hidro agrícola para comprovar importância do projeto para a segurança hídrica da região.

Os estudos de viabilidade somente foram concluídos no governo de Marcelo Déda, e buscou-se uma articulação com o Governo da Bahia para que a captação ocorresse em Paulo Afonso, pois se evitaria ainda o recalque existente em Xingó, da ordem de 100 m, pois, as águas viriam por gravidade para nossa região, reduzindo sensivelmente o custo das tarifas d’água, para o público da agricultura familiar composto pelos vários assentamentos da reforma agraria. Á época, Presidente Lula, Governadores Déda e Jaques Wagner, a equação foi perfeita e o projeto chegou inclusive a ser considerada obra estratégica para Sergipe.

Passados mais de 15 anos, registrando aqui os esforços desenvolvidos pelo senador Valadares e o deputado federal Valadares Filho, que quase davam a partida do canal no Governo Michel Temer, o projeto do canal Xingó, volta praticamente à estaca zero, pois, atualmente, o projeto encontra-se com indefinições no MIDR, promovidas principalmente pela falta de confirmação da vazão de 8,4 m³/s por parte da Deso. Por outro lado, o Governo da Bahia não demonstra interesse por este Projeto e sim pelo projeto do Canal do Sertão Baiano, rio Vaza Barris, via Codevasf, que por sua vez vem buscando, desenvolver o Projeto Santa Brígida, através de uma PPP, o que pode vir a enfraquecer a proposta inicial de desenvolvimento regional integrado, preconizado no escopo do Projeto do Canal de Xingó.

No meu livro, “Luzes do Farol de Cordouan do Rio São Francisco”, trago com detalhes na seção 2.5.3, o projeto do Canal de Xingó, páginas 208 a 234, e já apontava na seção 2.5.3.4, página 231, a imperiosa necessidade de articulação entre diferentes esferas de poder e setores da sociedade para que a gestão das águas aduzidas pelo canal ocorra de forma sustentável e eficaz. Além disso, abordo a necessidade de se mudar o nome do Projeto, vez que como a viabilidade mudou o local de captação das águas de Xingó para Paulo Afonso, porque não, pensarmos em um numa nova denominação tipo ‘2 irmãos” capaz de criar uma sinergia com os irmãos baianos notadamente de Paulo Afonso e Santa Brígida.

Além da questão técnica e institucional, é fundamental a mobilização da sociedade local. Tanto em Sergipe quanto na Bahia, é necessário um movimento organizado, envolvendo comunidades, produtores rurais, entidades de classe e setores empresariais, para que o projeto não apenas saia do papel, mas seja implementado com um modelo de gestão que contemple a todos. Diante disso, propomos:

1. Abertura de um amplo debate sobre a mudança de nome do Canal de Xingó para Canal Dois Irmãos, simbolizando a união dos estados e a necessidade de gestão compartilhada.
2. Criação de um fórum permanente entre Sergipe e Bahia, com participação do poder público, setor produtivo e sociedade civil, para discutir e cobrar ações concretas em prol da obra.
3. Engajamento das lideranças políticas e empresariais na defesa do canal como projeto prioritário para o desenvolvimento regional, pressionando governos estaduais e federal.
4. Campanha de conscientização e mobilização da sociedade, para garantir que a população local compreenda a importância do projeto e atue na defesa de sua concretização.

Na próxima reunião do Conselho de Administração da Codevasf, farei minha parte, na qualidade de conselheiro representante de empregado, reeleito recentemente que fui para um 3º mandato, levaremos essa proposição para debate, buscando um compromisso concreto e efetivo das lideranças governamentais e políticas para que o Projeto do Canal  de Xingó seja de fato uma realidade, pois se de fato queremos garantir a segurança hídrica do nosso estado de Sergipe até 2050, precisamos agir agora. O momento é de união e de mobilização!

*Conselheiro representante dos empregados no Consad/Codevasf