Sergipe tem um pantanal
15 de fevereiro de 2021
Mangue Seco, onde reina o aratu
15 de fevereiro de 2021
Exibir tudo

Amando Fontes, um grande mestre no romance social

O primeiro livro de Amando Fontes foi Os Corumbas, escrito em 1933

Amando Fontes nasceu em Santos (SP) no dia 15 de maio de 1899. É de família sergipana, e chegou a Sergipe com cinco meses de idade quando seu pai falecera. Aos doze anos revelou sua tendência para as letras e aos 18 ele já possuía um grande conhecimento literário. Cultivou da prosa e da poesia, foi crítico literário, destacando-se com seus “Romances Sociais” que mostram os problemas das classes desprivilegiadas. Trabalhou como revisor de imposto, advogado, professor de Língua Portuguesa e Deputado Federal do Estado de Sergipe por três vezes. Frequentou a Roda Literária do Rio de Janeiro que ocorria em volta de Jackson de Figueiredo, sendo influenciado por Garcia Rosa. E quando fora à Bahia frequentou o grupo de Arthur de Sales e Carlos Chiachio.

Ao escrever sua primeira obra, Os Corumbas no ano de 1933, o Romance foi bem aceito pela crítica, chegando a ganhar o “Prêmio Felipe de Oliveira de Literatura”, além de ter recebido muitos elogios do escritor Mário de Andrade.

Amando Fontes faleceu no dia 01 de dezembro de 1967.

Visão crítica

Amando Fontes se influenciou por importantes escritores como Gustave Flaubert, Balzac, Fiodor Dostoievski, Machado de Assis, Lima Barreto e outros importantes ícones literários. Foi um autor que teve contato com as pessoas simples do povo e presenciou o êxodo de retirantes do sertão para a cidade, bem como as condições precárias dessas pessoas que enfrentavam a seca e a busca por uma vida melhor nos grandes centros urbanos; bem como as más condições vitais que levaram essas pessoas a falecerem, a se submeter à exploração das indústrias, e à prostituição por parte de algumas mulheres. Assim, os seus personagens não passam de pessoas simples e sofridas das camadas populares e marginalizados pela sociedade.

As suas obras fazem parte do Modernismo da década de 30 e elas ajudam a entender de forma histórica a vida dos sergipanos no princípio do século XX. E sua importância é notada também através de comentários sobre seus personagens em importantes revistas brasileiras da sua época, comparada a de grandes ícones do Modernismo brasileiro como Jorge Amado, José Lins do Rego, Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos, por ele ter cultivado do regionalismo de forma similar a desses autores.

Em seus Romances são retratados a cultura das pessoas nascidas em Aracaju / SE, bem como cenas de fábricas e as “casas de luz vermelhas” (casas de prostituição). A linguagem das obras contém simplicidade e isso é um fato comum nessa época para que a linguagem escrita se assemelhe à fala cotidiana do povo.

“No “Os Corumbas”, o cotidiano dos personagens é inspirado nas fábricas que realmente existiriam em Aracaju, como também nas greves operárias, nas mortes dentro das fábricas e nos abusos dos industriais. Em “Rua do Siriri”, a narrativa começa com a indignação das prostitutas, pois tinham sido empurradas, pelo governo do Estado, para a famosa zona do Siriri – um lugar que realmente existiu”. (In: Jornal da Grande Aracaju – Amando Fontes e a sua contribuição para a cultura sergipana. Disponível em: http://www.grandearacaju.com.br/conteudo.ler.php?cat=17&id=5373).

Luta do movimento proletário

Percebe-se que em sua obra Os Corumbas há uma luta do movimento proletário que se envolvera com as ideias comunistas para a busca de condições melhores de trabalho.

Já em Rua do Siriri há relatos sobre as más condições de vida das mulheres que eram obrigadas a se prostituírem.

A pretensão desse escritor era mostrar a vida de personagens de forma verdadeira como a vida real mostra, colocando em pauta assuntos como a mediocridade humana e suas ações negativas. É por isso que ele bebera da fonte do Realismo e do Naturalismo para construir a sua literatura Moderna, e procura denunciar a sociedade da época.

Através destes pequenos comentários, nota-se que a obra de Amando Fontes, além de literária, contém uma visão sociológica com relação às camadas populares, e se aproxima do pensamento de grandes homens como Sílvio Romero, Manuel Bomfim, Euclides da Cunha, entre outros ícones da literatura brasileira e universal.

Obras:

* Os Corumbas (1933)

* Rua do Siriri (1937)

Trecho do capítulo 13 da segunda parte de Os Corumbas:

E como se aquilo tivesse sido um vaticínio, logo na semana imediata a vida plácida do operariado sergipano estremeceu, convulsionou-se de repente.

Proveio o desacordo de haverem as Fábricas estabelecido o trabalho noturno, sem, entretanto, aumentar o preço dos salários.

Ultimamente elas já não podiam vencer, apenas com o serviço diurno, a enorme quantidade de encomendas que a cada instante lhes chegavam. Resolveram, então, fazer serões e admitir gente nova para organização de duas turmas: uma, que trabalharia das cinco e meia da manhã até a tardinha; e outra, que entraria às seis da tarde para sair de madrugada.

A maioria dos trabalhadores recebeu essa notícia com alegria. Era uma oportunidade que surgia de ganharem um pouco mais, com as horas extraordinárias de serviço, ou empregando filhos e parentes nos lugares que se acabavam de criar.

Mas, aqui e ali, foram-se ouvindo alguns protestos. Tímidos, a princípio. Violentos e exaltados, logo empós.

Ao grupo de José Afonso coube dar o rebate e sustentar a luta contra as Fábricas. Ou “o serviço noturno seria pago com a bonificação de um terço sobre os salários do dia, ou ninguém se sujeitaria à nova exploração”, foi o ultimato lançado pela Sociedade Proletária do Aracaju, que passou a funcionar em sessão permanente, cheia de curiosos e prosélitos.

Não se arrecearam os patrões ante a ameaça. Eles sabiam que havia muita miséria entre os humildes. As colheitas tinham sido más por toda a parte. Do interior, todos os dias, chegavam famílias e famílias, em busca de trabalho. Ganhariam a partida sem esforço. E declararam, então, energicamente, “que iriam trabalhar durante a noite com o mesmo salário que pagavam pelo dia. Os operários escalados que faltassem seriam sumariamente despedidos”.

Trecho do capítulo IV de Rua do Siriri:

Cheios de dificuldades e tropeços foram os seus primeiros dias na Rua do Siriri.

Uns, em razão da maior distância, outros, por não lhes conheceu ainda a nova moradia, o certo é que, durante duas a três semanas, tiveram a visita de apenas quatro homens. O dinheiro para as necessidades mais prementes chegou a escassear.

E foi aí que Mariana sugeriu:

– Querem saber de uma? Se a gente não fizer como as outras, que vão pegar frete na rua, é melhor fechar a porta de uma vez. Este lugar parece que tem urucubaca… Nem mesmo os que eram acostumados, nunca mais botaram os pés em nossa casa…

– Eu, por mim – disse Esmeralda – estou por tudo. Se for preciso sair por aí afora, mercando meu corpo aos gritos, como moleque vendendo queimado pelas ruas, não tenham a menor dúvida que eu faço…

Por Allan Tenório Bastos de Oliveira

 

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *