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Ao mestre Amaury, com carinho

* Por Marcelo Rocha

Conheci o prof Antonio Amaury Correia de Araújo, primeiro pelos seus livros, especificamente através do livro “De Virgolino a Lampião”, em meados dos anos 2000. Em 2011, tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, lá no Jardim São Paulo.

Daquele livro, fiquei com uma ótima impressão, do contato pessoal, a impressão foi ainda maior. Educado, atencioso, gentil e excelente anfitião.

Interessante descobrir            que desde a adolescência – em meados do século passado – ao ter em mãos um livreto sobre o cangaço(se não me engano, um cordel), passou a se dedicar à estudá-lo.

Tal ato permaneceria ativo por mais de meio século, até que as dificuldades e limitações humanas decorrentes da idade, o impedissem, estando ele, hoje, recolhido em sua residência.

Foram muitos os sacrifícios que fez nesse período, mesmo morando em seu Estado natal, por décadas realizou viagens aos diversos rincões do nosso país, em busca de ex cangaceiros, ex policiais, ex coiteiros e qualquer pessoa que houvesse participado do fenomêno cangaceirístico.

Hoje, somente em seu arquivo de aúdio, possui algo em torno de 250 horas de entrevistas com os remanescentes que conheceu. Abro um parentesis e testemunho parte desse arquivo, pois tive a oportunidade de ouvir, dele, os depoimentos de figuras como João Bezerra, Dadá e Sinhô Pereira – este último entrevistado no Estado de Goiás.

Para realizar isso, o desbravador da história do cangaço teve comprar uma Ford Rural, para poder vencer não somente a distância entre a região sudeste e nordeste, mas as dificuldades e limitações das vias existentes nos anos 60 e 70 – principalmente – nos rincões da nossa caatinga.

segundo o próprio, suas viagens anuais de férias se confundiam com as viagens de pesquisa, o que exigiu também muito de sua família, que sempre esteve ao seu lado. Dona Renné, sua esposa dedicada foi uma grande guerreira que enfrentou essa batalha que o professor Amaury decidiu lutar: resgatar a história do cangaço.

Amaury, já nos anos 70 assessorou emissoras de televisão a produzirem programas sobre  o cangaço, por exemplo, bem como participou de programas como o “8 ou 800”, respondendo perguntas sobre Lampião. Nesse caso, uma curiosidade: ele confidencia que não quis responder a última pergunta, pois desconfiava que seria não uma questão difícil em si, mas sim algo que hoje nós chamamos de pegadinha. Segundo ele, que depois teve acesso à pergunta que lhe seria feita, esta consistia em algo do tipo “qual o comprimento do cordão que prende as calças de lampião?” – pausa para a risada!

Eis Antonio Amaury, o homem, o pai, o filho, o sobrinho (quando o conheci, lembro do cuidado que despendia a um tio, em sua casa), o pesquisador visionário que nos legou conhecer os depoimentos de quem viveu o cangaço, principalmente.

Todos os que pesquisaram o cangaço após Amaury, beberam na sua fonte. mesmo os que o combatem. Há sim, alguns que jogam  o jogo da vilania, acusando-o gratuitamente, sem ao menos respeitá-lo.

Mas muitos o respeitam, independente de qualquer critica que possa ser merecedor, afinal não existe perfeição nesse mundo, a sua obra  sobre  o cangaço hoje se constitui em um legado insuperável. Isso se explica por dois pontos: 1 muitos dos entrevistados dele morreram ainda nos anos 60 e 70; 2 poucas pessoas tem disponibilidade para direcionar esforços constantes, por décadas, exigindo esforços até da própria família, como ele o fez.

Mestre Amaury, Dona Renné, Amaury, Elídio e Sérgia  recebam esse preito de gratidão pela história que Antonio Amaury protagonizou junto com vocês!

 * Marcelo Rocha é Capitão PM Bacharel em Segurança Pública

 

 

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