Por Antonio Samarone *
Joaquim Inácio Barbosa, carioca, assumiu a Presidência da Província de Sergipe em 17 de novembro de 1853. Veio com uma missão pacificadora. Em pouco tempo, abriu o canal do Pomonga, criando um caminho fluvial para Japaratuba.
Em março de 1855, contrariando os conselhos da Saúde Pública, transferiu a Capital para Aracaju. A sua maior obra causou-lhe a morte. Inicialmente, o Povoado Santo Antonio do Aracaju foi elevado à categoria de cidade. No alto, na Colina.
Logo, a cidade desceu para a baixada, com pântanos e mangues. Um Paraíso miasmático.
Em abril de 1855, Inácio Barbosa iniciou a construção da Capela de São Salvador. Antes, só a Capela de Santo Antonio, na Colina. No Natal de 1856, missas foram celebradas nessa Capela, mesmo antes da inauguração, em 23 de outubro de 1857. A capela foi concluída pelo Presidente Salvador Correia de Sá.
O primeiro padre a celebrar missa em Aracaju foi Eliziário Vieira Muniz Teles. Em 21 de setembro de 1862, foi iniciada a construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Nossa Catedral. A obra só foi concluída em 1875. Treze anos de construção.
Em 1864, o Frei Paulo de Casanova chegou em Aracaju, para pregar uma Santa Missão. O povo não gostou das prédicas do Frade, reagiu, entupiu a sua por porta com feixes de capim. Quando foi embora, o frade magoado, bateu violentamente as chinelas nas bordas do barco. Perguntar-lhe os motivos: “eu não quero levar nem o pó desse lugar. Um dia, o mar destruirá essa cidade e ninguém haverá de saber de sua localização.”
Passaram-se 170 anos e Aracaju continua em pé. Não se sabe até quando. Praga de Frade é deletéria. Que o aquecimento global adie a submersão do Aracaju, desejada pelo Frade.
Voltemos ao nosso herói. Inácio Barbosa contraiu malária. Como Aracaju não possuía recursos médicos, ele foi transferido para Estância. Montou-se uma junta médica: Guilherme Pereira Rebelo e Jose de Antonio de Freitas Junior Aracaju, Antonio Ribeiro Lima, Joaquim José de Oliveira, Francisco Sabino Coelho Sampaio e Francisco Alberto de Bragança (pai de Militão de Bragança).
Todo o saber médico daquele tempo, não tratou o Presidente. Já existiam os derivados da quina peruana. Ele faleceu em 06 de outubro de 1855, e foi sepultado com pompas, na Matriz da cidade de Estância. Entretanto, nunca descansou em paz.
Inácio Barbosa, viúvo, faleceu aos 33 anos. Um homem de alta cultura: versado em grego e latim. Falava as línguas doutas da Europa: francês, inglês e italiano. Profundo conhecedor de Camões, Padre Vieira. Garrete, Castilho e Alexandre Herculano.
Os restos mortais de Inácio Barbosa já rodou por cinco sepulturas: Da Matriz de Estância, ele foi transferido para os fundos da Igreja do São Salvador, em Aracaju (fevereiro de 1858); não sei os motivos, depois construíram um monumento (obelisco), e transferiram as cinzas de Barbosa, para Travessa José de Faro (1917); acharam pouco, levaram o obelisco e fizeram um novo sepultamento, na Praça do Mercado Thales Ferraz.
Em seguida, o Prefeito Roosevelt Dantas Cardoso de Menezes transferiu o obelisco, para o final da Avenida Ivo do Prado, levando as cinzas de Barbosa para o novo local (1955). Ano do centenário. Estão lá até hoje.
Em minha cabeça, recentemente, tinham retornado com os restos mortais de Inácio Barbosa, para a Igreja se São Salvador. Lembro-me de toda a solenidade, dos discursos, das homenagens. Eu tinha certeza! Por sorte, meu anjo da guarda advertiu: rapaz, ligue para Ana Medina e para o ex Prefeito Edvaldo Nogueira, para não cometer uma gafe. Liguei! Nunca houve esse retorno.
Ana Medina me esclareceu: “o obelisco, monumento à Inacio Barbosa, é obra do escultor Lourenzo Petruci e do engenheiro boquinense Floro Freire, a pedido do Instituto Histórico.” O monumento foi inaugurado em 1917, na Avenida José de Faro. Esse obelisco ainda passou pela Praça do Mercado, antes do atual destino, no final da Ivo do Prado.
Na base desse monumento foi colocado uma rica urna de madeira de lei, com ornamentos de prata, dentro da qual se encontra uma urna de bronze, onde estão os preciosos ossos (ou cinzas) do insigne homenageado.
Inácio Barbosa é o nome da abandonada sede da Prefeitura, de um bairro importante em Aracaju e da Avenida litorânea, que os puxa-sacos apelidaram de Sarney.
Vamos continuar esmiuçando os 170 de Aracaju.
* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.
36 Comments
Parabéns pelos esclarecimentos, digo: ensinamentos, de forma clara e objetiva. Eu adotei Sergipe e amo nossa pequena Aracaju. É uma pena que os “jornais” ou TVs locais, não reserve momentos para contar diariamente a história local. Parabéns ao escritor da matéria. Adorei!
Parabéns pelo conteúdo cheio de conhecimento, e escrita prazerosa.
Gostei também. Amo Aracaju. Parabéns
Parabéns Samarone datas, nomes e riqueza de detalhes, belo trabalho de pesquisa!
Está de parabéns este artigo enriquecer a nossa cultura.
Tudo que se fala de Inácio Barbosa é mito. Nem o retrato falado dele existe.
Realmente não existem imagens de Inácio. O que ninguém fala é que tudo o que fazia referencia ao ilustre fundador da nossa capital foi apagado e, como sabemos, o fato de ser um homem mestiço, pode ter sido fundamental para que isso tenha ocorrido. A elite escravista da época jamais aceitou o fato de o o imperador D. Pedro II ter mandado para Sergipe um ‘homem de cor’ para ser o Presidente da Província.
Só não é por falta de historiador, mas por falta de interesse e sergipanidade
Gostei parabéns
Parabéns ao excelente documentário rico em detalhes.
Magnífico texto, grande Samarone! Você sempre atuante, com atitudes enobrecedoras.Os sergipanos não conhece, nem reconhece a sua História. Una pena, tão belas hustórias esquecidas no tempo. Grato.
Muito interessante saber essa pequena e importante história sobre a cidade de Aracaju.
Eu tenho apenas 20 meses residindo essa pequena e bela cidade batizada por Aracaju.
Espero ter a oportunidade de conhecer várias outras grandes histórias dessa Linda cidade.
Admiro e consumo com toda avidez as suas narrativas, transporto- me para todas as histórias e causos como se deles fizesse parte.
Obrigada por nos ensinar de forma tão bonita e agradável, sei que é um excelente médico mas, o melhor é saber que Sergipe tem um grande historiador.
Que bom ler essa maravilhosa matéria , meu inesquecível professor Samarone.
Que bom saber que você continua incansável lutando pelo que acredita..
Que bom saber que está Secretário de Cultura na sua terra natal
Depois de tanto tempo, estou recebendo mais uma aula muito esclarecedora.. Obrigada e que tudo de bom lhe aconteça..
Sem ter o que falar, fala o óbvio.
Gosto de ler Samarone.
A Igreja Matriz demorou tantos anos de construção, porque teve que ser aterrado o charco tendo como enchimento piaçava vinda da Bahia.
Eu só acho que o passado , é passado temos que nos preocupar com o presente, tipo!, naquele mercado do outro lado aonde vende os mariscos , porque fede muito , nossa cidade está crescendo cada vez más , más os turistas verem isso ninguém vai lá no mercado
Cultura Sergipana patrimônio do Brasil
Pelos cálculos desde a praga do frei a capital, creio que em aproximadamente 2034 Aracaju estará sob’aguas. Bem, ainda penso que estarei aqui com meus 75 anos. Sendo assim já estou pensando em.xomprar um terreno mais para o interior e reservar algum dinheiro pra construir uma modesta casinha pra me abrigar.
Parabéns! muito valioso o conteúdo ,que possamos aprender mais sobre a nossa história. Bravo!!!
Interessante história de Aracaju. Não conheço esta cidade, mas em Maio estarei ai para conhece-la e saber mais das suas histórias.
Prestei serviço de transporte ao ilustre Samarone e tive uma aula de história de Sergipe no percurso entre Aracaju Salvador. Desde então virei seu seguidor.
Realizei essa a leitura prontamente a 01:30 da madrugada e sinceramente amei o texto, belíssimo.Nunca soube nada de Inácio Barbosa desta maneira tão íntima e interessante.
O autor receba a minha gratidão e admiração.
Só fiquei com pena porque o tão ilustre Barbosa, pessoa tão insigne aparentemente não deixou nenhum herdeiro,e infelizmente como do corpo só ficaram as cinzas, segundo algumas religiões não irá nem voltar , quero dizer retornar novamente para esse plano.
Parabéns!
Amei estou encantada feliz por saber a História de Inácio Barbosa e sob o frei que rogou essa palavra negativa.
Obrigada pelo assunto claro de conhecimento ️
É muito gratificante ter conhecimento de fatos históricos sobre nossa cidade e dos que dedicaram sua vida tra!balhando para o bem da noss cidade .
Acho que o Frei Paulo obedeceu a ordenança de Jesus dada aos apóstolos quando Ele disse:
Mateus 10: 14. Porém, se alguém não vos receber, nem der ouvidos às vossas palavras, assim que sairdes daquela casa ou cidade, sacudi a poeira dos vossos pés. 15. Com toda a certeza vos afirmo que haverá mais tolerância para Sodoma e Gomorra, no dia do juízo, do que para aquelas pessoas.
https://bibliajfa.com.br/app/kja/40N/10/14
Que gostoso saber da história da minha belíssima Aracaju Inácio Barsobsa ❤️
Parabéns escritor, pela história contada e preservação da memória.
Sempre digo: TEM QUE LER,.TEM QUE LER!
Parabéns, Samarone! Sempre mto culto e generoso em compartilhar seus conhecimentos.
Muito bom o seu artigo, Samarone, muito pouco é divulgado sobre Inácio Barbosa – eu não sabia dessa morte prematura ‐ e é uma personagem que
merece divulgação!
Obrigado e parabéns!
Excelente trabalho! Nos mostra o que as escolas do nosso estado, não repassam para os alunos . Aracaju outrora pequena cidade provincial , hoje projeta-se no momento nacional, como dinâmica metrópole que continua em crescente expansão.
A rica história de Sergipe só não é divulgada pela mídia por falta de historiadores. Muito pelo contrario, historiadores sergipanos competentes é o que não falta; o que falta é interesse.
É sempre muito bom reviver momentos históricos como esses, história essa que vai se apagando ao passar dos anos, onde novas gerações talvez não saibam um terço da riqueza contida na capital das terras Serigy. E graças a esse resgate cultural podemos revisitar com muito orgulho nossas origens. Parabéns!
Q belíssima história! De forma simples e peculiar descobri como foi a passagem do ilustre Inácio Barbosa por SE.
# Por mais historiadores com riquezas de detalhes
Sempre bom alguém que conhece a história de Sergipe e fala de um jeito tão intimista e conservador , parabéns Antônio samarone