Aracaju: obras de ponte vão destruir o manguezal
7 de fevereiro de 2025
Governo de Sergipe deve uma fortuna aos aposentados
7 de fevereiro de 2025
Exibir tudo

Aracaju vai virar mar – 170 anos

Por Antonio Samarone *

Joaquim Inácio Barbosa, carioca, assumiu a Presidência da Província de Sergipe em 17 de novembro de 1853. Veio com uma missão pacificadora. Em pouco tempo, abriu o canal do Pomonga, criando um caminho fluvial para Japaratuba.

Em março de 1855, contrariando os conselhos da Saúde Pública, transferiu a Capital para Aracaju. A sua maior obra causou-lhe a morte. Inicialmente, o Povoado Santo Antonio do Aracaju foi elevado à categoria de cidade. No alto, na Colina.

Logo, a cidade desceu para a baixada, com pântanos e mangues. Um Paraíso miasmático.

Em abril de 1855, Inácio Barbosa iniciou a construção da Capela de São Salvador. Antes, só a Capela de Santo Antonio, na Colina. No Natal de 1856, missas foram celebradas nessa Capela, mesmo antes da inauguração, em 23 de outubro de 1857. A capela foi concluída pelo Presidente Salvador Correia de Sá.

O primeiro padre a celebrar missa em Aracaju foi Eliziário Vieira Muniz Teles. Em 21 de setembro de 1862, foi iniciada a construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Nossa Catedral. A obra só foi concluída em 1875. Treze anos de construção.

Em 1864, o Frei Paulo de Casanova chegou em Aracaju, para pregar uma Santa Missão. O povo não gostou das prédicas do Frade, reagiu, entupiu a sua por porta com feixes de capim. Quando foi embora, o frade magoado, bateu violentamente as chinelas nas bordas do barco. Perguntar-lhe os motivos: “eu não quero levar nem o pó desse lugar. Um dia, o mar destruirá essa cidade e ninguém haverá de saber de sua localização.”

Passaram-se 170 anos e Aracaju continua em pé. Não se sabe até quando. Praga de Frade é deletéria. Que o aquecimento global adie a submersão do Aracaju, desejada pelo Frade.

Voltemos ao nosso herói. Inácio Barbosa contraiu malária. Como Aracaju não possuía recursos médicos, ele foi transferido para Estância. Montou-se uma junta médica: Guilherme Pereira Rebelo e Jose de Antonio de Freitas Junior Aracaju, Antonio Ribeiro Lima, Joaquim José de Oliveira, Francisco Sabino Coelho Sampaio e Francisco Alberto de Bragança (pai de Militão de Bragança).

Todo o saber médico daquele tempo, não tratou o Presidente. Já existiam os derivados da quina peruana. Ele faleceu em 06 de outubro de 1855, e foi sepultado com pompas, na Matriz da cidade de Estância. Entretanto, nunca descansou em paz.

Inácio Barbosa, viúvo, faleceu aos 33 anos. Um homem de alta cultura: versado em grego e latim. Falava as línguas doutas da Europa: francês, inglês e italiano. Profundo conhecedor de Camões, Padre Vieira. Garrete, Castilho e Alexandre Herculano.

Os restos mortais de Inácio Barbosa já rodou por cinco sepulturas: Da Matriz de Estância, ele foi transferido para os fundos da Igreja do São Salvador, em Aracaju (fevereiro de 1858); não sei os motivos, depois construíram um monumento (obelisco), e transferiram as cinzas de Barbosa, para Travessa José de Faro (1917); acharam pouco, levaram o obelisco e fizeram um novo sepultamento, na Praça do Mercado Thales Ferraz.

Em seguida, o Prefeito Roosevelt Dantas Cardoso de Menezes transferiu o obelisco, para o final da Avenida Ivo do Prado, levando as cinzas de Barbosa para o novo local (1955). Ano do centenário. Estão lá até hoje.

Em minha cabeça, recentemente, tinham retornado com os restos mortais de Inácio Barbosa, para a Igreja se São Salvador. Lembro-me de toda a solenidade, dos discursos, das homenagens. Eu tinha certeza! Por sorte, meu anjo da guarda advertiu: rapaz, ligue para Ana Medina e para o ex Prefeito Edvaldo Nogueira, para não cometer uma gafe. Liguei! Nunca houve esse retorno.

Ana Medina me esclareceu: “o obelisco, monumento à Inacio Barbosa, é obra do escultor Lourenzo Petruci e do engenheiro boquinense Floro Freire, a pedido do Instituto Histórico.” O monumento foi inaugurado em 1917, na Avenida José de Faro. Esse obelisco ainda passou pela Praça do Mercado, antes do atual destino, no final da Ivo do Prado.

Na base desse monumento foi colocado uma rica urna de madeira de lei, com ornamentos de prata, dentro da qual se encontra uma urna de bronze, onde estão os preciosos ossos (ou cinzas) do insigne homenageado.

Inácio Barbosa é o nome da abandonada sede da Prefeitura, de um bairro importante em Aracaju e da Avenida litorânea, que os puxa-sacos apelidaram de Sarney.

Vamos continuar esmiuçando os 170 de Aracaju.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *