Imóveis de Aracaju estão em 4º lugar em valorização
7 de janeiro de 2025
Site acusa Emília de lotear a Prefeitura para o “sistemão”
7 de janeiro de 2025
Exibir tudo

As bodegas do Beco Novo

Por Antônio Samarone *

Cresci ouvindo histórias, na bodega de Senhor Zabumba. Era lá, que se vendia o melhor caramelo do Agreste. Cocada puxa era na bodega de Dona Rosita, na outra esquina.

Na Bodega de Senhor Zabumba, ouvi muitas histórias contadas por Seu Sancho, Armelindo, Nilo Base, Dequinha sapateiro, Zé de Hermógenes, João Giba, Zé Mosquito e do Pai de Zé Pindoba.

A bodega de Manoel Francisco de Oliveira (Senhor Zabumba), ficava na esquina do Beco Novo, com o Beco do Ouvidor, onde nasci. Seu Zabumba era baixo, de poucas conversas, troncudo e com um barriga enorme. A barriga era o motivo do apelido, parecia uma zabumba.

O escritor Vladimir Carvalho tem razão, Itabaiana é a capital brasileira dos apelidos. Lá, ninguém escapa. E todos os apelidos são bem botados.

Zabumba era um velho rico, dono de seis casas de aluguéis no Beco Novo e duas vilas de quartos na Rua da Pá, sessenta vacas paridas e treze porcas. Era tio de Tonho de Chagas, fazendeiro e comerciante do ramo de posto de gasolina e caminhão, em Itabaiana.

Seu Zabumba, na velhice, foi morar com Dona Maria Dorotéia (foto), uma dama empobrecida do Zanguê, filha de Dona Augusta, irmã de Dona Santinha, esposa de Antonio de Anjinho. Dorotéia era o lado pobre, de uma família importante do Zanguê.

Dorotéia foi enganada pelo primeiro namorado, que foi embora. Ela precisou vir para cidade e ir lavar roupa de ganho, no açude velho. Uma mulher de fibra e determinação. Foi morar com seu Zabumba e tiveram um filho.

Com a morte de Senhor Zabumba, Dorotéia arrumou um novo casamento, com João Fagundes, e tiveram quatro filhas moças e um rapaz. Todas as moças estudaram e se tornaram cidadãs.

Depois da morte de Senhor Zabumba, a bodega foi vendida a Seu Antonio (vulgo, Jânio Quadros). Seu Antonio, magro, alto, óculos com armação preta, de casco de tartaruga. Um sósia do presidente Jânio. Antonio era o irmão de Zezé de Jonas, que morava em São Paulo.

Foi na bodega de Jânio Quadros que conheci o sabor dos refrigerantes. Cabecinha, filho de Delina, enteado de Jânio Quadros, quando estava sozinho, tomando conta da bodega, abria escondido uma cajuína, refrigerante fabricado no Piauí, e dava um copo aos amigos presentes na bodega.

Não me lembro da Coca-Cola. Pelos menos, nas bodegas do Beco Novo.

No final da vida, João Quadros casou com Marizete de Seu Marinho, irmã de Tororoco.

As bodegas das esquinas próximas, eram a de Dona Rosita, com a sua cocada puxa e um balcão comprido e a bodega de Zé Meu Mano, onde mamãe comprava o óleo de rícino, meia libra de açúcar (250 gr.), botes de fósforos de sete pancadas e óleo de cozinha no retalho.

A memória já começou a esquecer de muita coisa.

* É médico sanitarista e está secretário da Cultura de Itabaiana.

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *