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As doidices da Peste

Por Antonio Samarone *

Uma pandemia não é apenas uma doença grave que se manifesta de forma epidêmica. A Peste é bem mais. A Peste é um fenômeno sanitário, psicológico, social, econômico, cultural, histórico e ambiental. Afeta profundamente o modo de vida.

A Peste, a fome e a guerra acompanham a evolução da humanidade, estão gravadas em nosso inconsciente, em nossa nossa memória atávica. As Pestes, historicamente falando, apresentam características semelhantes, mudam pouco.

A Peste é biológica em suas raízes e social em suas manifestações, entre uma e outra ela passa pela mente. Afeta a senso percepção. As fronteiras entre o delírio e a realidade se desvanecem.

Lembrei-me de Drummond: “Que é loucura: ser cavaleiro andante ou segui-lo como escudeiro? De nós dois, quem é o louco verdadeiro? O que, acordado, sonha doidamente? O que, mesmo vendado, vê o real e segue o sonho de um doido pelas bruxas embruxado?”

A Pandemia uniu o real e o virtual na mente humana. As redes sociais substituiu a vida, se é que a vida era o que a gente pensava.

A velha polêmica da filosofia se o real existe ou é fruto da nossa imaginação, que parecia resolvida, encontra-se em aberto.

O sonho e a realidade são farinha do mesmo saco. Voltei à Caverna de Platão!

Comecei a dar aulas pelo método remoto, virtualmente. Não conheço os alunos, tenho profunda dúvidas das suas existências. A maioria desliga o microfone e a câmara e eu vejo apenas uma pequena mancha na tela do computador.

Eles existem, me afiançou um professor mais treinado no mundo virtual, serão os futuros médicos, que enfrentarão as próximas Pestes. Eu perdi a convicção, a certeza da realidade, mas vou precisar avaliá-los, dar uma nota, para que eles sigam em frente nesse mundo das sombras.

Liguei para um colega psiquiatra para saber se essa confusão estava no limite da normalidade ou Eu já estou precisando de um diagnóstico. Ele disse-me que não fazia consultas por telefone e, como está em rigorosa quarentena, a minha dúvida só será esclarecida pessoalmente, no final da Pandemia.

Isto é, se a gente sobreviver à Peste!

Eu pensei, não tenho escapatória, o Manual de Diagnóstico da DSM (americano) oferece centenas de opções de “transtornos mentais”. Ninguém se salva, com uma avaliação rigorosa.

Ainda bem que deixou de ser “doença mental”, o meu medo era receber o carimbo de psicótico, alienado, doido de pedra, e ter que enfrentar a discriminação odiosa dos amigos.

Ele aproveitou a conversa e indagou: como sanitarista, o que você acha dessa cepa do SARS-CoV-2 que apareceu em Sergipe, com mais de 8 mutações? Eu não acho nada, ainda estão estudando.

Eu tenho medo que o mutante da Amazônia chegue por aqui, aí sim, teremos uma desgraça.

Voltarei em breve, com mais Doidices da Peste.

* É médico sanitarista e professor da Universidade Federal de Sergipe

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