Todo morador de Aracaju e do interior sergipano que utiliza os serviços de saúde do SUS (Sistema Único de Saúde) conhece a rua de Bahia, no bairro Siqueira Campos, zona norte da capital. Conhece porque é nesta rua que se encontra o Centro de Especialidades Médicas de Aracaju (CEMAR), além de algumas dezenas de estabelecimentos privados de saúde, como clínicas e laboratórios, todos localizados nas adjacências daquele Centro de Especialidades. Essa constatação é da professora Ana Rocha dos Santos, do Núcleo de Geografia da Universidade Federal de Sergipe.
A educadora revela no artigo Saber e Ciência que nos estabelecimentos privados a saúde é comercializada, tendo no setor público seu principal comprador. A população de baixo poder aquisitivo também vai à rua de Bahia consumir os serviços dos laboratórios e clínicas a preços populares. “Entre as razões apontadas pelos que pagam por esses serviços está a dificuldade de acesso às especialidades médicas do SUS, o que implica na demora para a realização dos exames e consultas com os médicos especialistas”, afirma Ana Rocha.
A professora da UFS afirma que, apesar de o SUS ter sido conclamado como uma política democrática que trouxe a universalidade dos serviços para todo o cidadão, na prática os serviços de média e alta complexidade, notadamente exames, consultas com médicos das especialidades e internações hospitalares, são pouco disponibilizados para a população. Às pessoas de baixo poder aquisitivo, o SUS oferece geralmente apenas serviços básicos de saúde através dos chamados “postos”.
Tudo no mesmo lugar
Portanto, a inacessibilidade aos profissionais médicos especialistas e aos laboratórios conveniados pelo SUS é ingrediente fundamental para a expansão do setor privado de saúde instalado na rua de Bahia. Naquela via pública, conforme o artigo da professora, foram criadas as condições para a complementaridade/concorrência entre as empresas do setor através das áreas especializadas na oferta dos serviços de saúde variados.
“Produz-se uma organização do espaço para superar as barreiras (distâncias) a fim de que o capital possa rapidamente circular por meio da produção de configurações espaciais fixas (a decisão de localizar as clínicas e laboratórios nas proximidades do CEMAR) e móveis, representadas pela facilidade de transporte urbano e interurbano existente na área”, escreve a professora Ana Rocha dos Santos.
Por fim, a educadora ensina ser a própria lógica das localidades centrais, cuja especialização dos serviços e bens, a sua distribuição e localização obedecem aos princípios econômicos da oferta e da procura, direcionada para o máximo lucro e o mínimo de esforço do consumidor ou do custo”. Desse modo, prossegue Ana Rocha, “a saúde/vida/doença é mercadoria negociada nos balcões das clínicas e laboratórios privados, patrocinada pelo próprio setor público”. Para o cidadão usuário ou não do SUS “há um caminho longo que precisa ainda ser percorrido e este está apenas em seu começo. É o caminho que leve para a realização humana dentro da lógica de produção da vida e não do mercado”.
Por destaquenotícias (Foto:G1/SE)