Por Gilvan Manoel *
O governador Belivaldo Chagas (PSD) não sinaliza, até o momento, disposição para se desincompatibilizar do cargo e disputar as eleições de 2022. Ele não fez qualquer declaração pública sobre o assunto e nem cometeu o erro do seu antecessor, Jackson Barreto (MDB), que ao ser reeleito governador prometeu não deixar o governo para disputar o Senado, mudou de ideia e perdeu a eleição.
Belivaldo foi o vice-governador de Marcelo Déda (PT) na vitória histórica de 2006, foi substituído por Jackson na reeleição de 2010 e o vice de JB em 2014. A atual vice-governadora, Eliane Aquino (PT), viúva de Déda, não acalenta a possibilidade de vir a assumir o governo e muito menos em ser a candidata do partido ao governo em 2022, mas já avisou que pretende disputar as eleições, não se sabe se como candidata a deputada federal ou ao Senado. Se viesse a assumir o governo, Eliane faria história: seria a primeira vez no estado de Sergipe que marido e mulher teriam chegado ao cargo através do voto popular.
A demora do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em julgar recurso contra a cassação da chapa Belivaldo/Eliane aprovada pelo TRE-SE acaba inibindo os passos do governador. Se for mantida a cassação, os dois seriam afastados do cargo, mas teriam sentenças diferentes: Belivaldo estaria inelegível por oito anos porque disputava a reeleição e havia usado o poder político para a vitória, enquanto Eliane estaria apta a disputar a eleição, porque só veio a assumir o cargo em janeiro de 2019 e não participou do suposto uso da máquina na campanha, mesmo tendo sido beneficiária direta.
Na arquitetura política montada pelo grupo, ninguém discute a possibilidade de Belivaldo vir a transferir o cargo para Eliane. Todas as composições políticas em discussão levam em consideração a permanência do governador até o final do mandato e transferem para ele o comando da sua própria sucessão. Semana passada, Belivaldo avisou que a partir de setembro começa a discutir a escolha do candidato do grupo a governador.
Até mesmo o presidente do PT, deputado João Daniel, diz que caberá a Belivaldo o comando da sucessão, mesmo o partido já tendo definido previamente que o senador Rogério Carvalho será candidato a governador independente da posição do grupo. Essa candidatura foi reforçada há poucos dias pelo ex-presidente Lula (PT), durante encontro com Rogério.
Nas eleições municipais de 2020, Belivaldo e o PT quase chegaram à ruptura, quando Márcio Macêdo, o candidato petista à Prefeitura de Aracaju, acusou o governador de usar a máquina administrativa para beneficiar o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT), antigo aliado que disputava a reeleição. O PT fez uma campanha mais virulenta contra Edvaldo do que a delegada Danielle Garcia (Cidadania), a candidata da oposição e que chegou ao segundo turno.
Hoje, Rogério e Eliane não estão nos planos dos partidos do bloco governista. O deputado federal Fábio Mitidieri (PSD) faz campanha aberta, o deputado federal Laércio Oliveira (PP) diz que quer ser o candidato, enquanto o conselheiro Ulices Andrade e o prefeito Edvaldo aparecem como preferidos pela maioria.
Na disputa pela Prefeitura de Aracaju, quando Belivaldo impôs a candidatura da delegada Katarina Feitoza como candidata a vice-prefeita sinalizou que Edvaldo poderia vir a ser o candidato do grupo a governador. Katarina era a delegada geral da Polícia Civil – cargo de confiança que era exercido por Alessandro Vieira até ser eleito senador em 2018 – e não tinha qualquer experiência política. Foi filada às pressas ao PSD, cuja cúpula preferia a indicação de Jorge Araújo Filho, um dos nomes mais ligados a Fábio Mitidieri.
O último governador que resolveu concluir seu mandato sem a possibilidade mais de disputar a reeleição foi Albano Franco, em 2002. João Alves Filho disputou a reeleição em 2006, Marcelo Déda em 2010, Jackson Barreto em 2014 e Belivaldo em 2018. Essa possibilidade se apresenta nesse momento pelo interesse demonstrado pelo governador em comandar a sucessão.
Desde a ascensão de Déda, os vice-governadores se transformaram em candidatos a governador quando não havia mais a possibilidade de reeleição. Jackson teria sido o candidato de Déda em 2014, caso ele não tivesse morrido no ano anterior, e Belivaldo foi o candidato de JB no pleito seguinte. Desta vez a situação é diferente: Eliane Aquino tem poucas chances de ser escolhida a candidata do grupo e deverá optar pela disputa de um mandato legislativo. E se viesse a ser ungida passaria a ter dificuldade no seu próprio partido, que prepara a candidatura de Rogério.
* É editor do Jornal do Dia (Artigo publicado originalmente no Jornal do Dia)