* Por Marcelo Rocha
Há poucos meses circulou nas redes sociais uma imagem mostrando o secretário de segurança pública (do Estado de Alagoas) abordando suspeitos em uma rodovia. A repercussão disso asseguro-lhe dividendos de popularidade política – principalmente junto à sua tropa policial.
Muitos comentários foram feitos a respeito. A maioria esmagadora a favor, destacando o aspecto “operacional” da imagem, mostrando que ele “estava junto” da atividade operacional. É desnecessário dizer que tais comentários são mais próximos ao “calor da emoção” do que aos aspectos técnicos envolvidos.
Cumpre lembrar que a abordagem é um ato que exige vigoroso contato físico, com múltiplas possibilidades de desfecho, que lhe faz inapropriada ser feita com agente trajando terno e sapato social, como no caso das imagens citadas.
Nesse momento, esqueçamos as técnicas de abordagem e passemos à técnica da administração/gestão e o lugar de cada integrante de uma instituição.
Pois bem. Tentando ser simples, toda organização/empresa/instituição, via de regra, organiza-se a partir de 3 níveis de gestão: operacional, tático e estratégico. A própria administração militar, por exemplo, deixa bem claro na disposição dos seus quadros de oficiais, isto, quando os separa em 3 níveis: Subalternos, Intermediários e Superiores.
Essa divisão, tem por objetivo segmentar e definir bem as tarefas de cada bloco de membros da organização, permitindo assim a otimização plena do seu funcionamento ou seu funcionamento minimamente organizado. Desse modo, os integrantes do nível estratégico “definem o que fazer”; os integrantes do nível tático “definem como fazer” e os donível operacional “executam as ações”. Estariam integrando o nível estratégico os presidentes e diretores, no nível tático teríamos os gerentes (que interligam as decisões estratégicas com a sua efetivação prática) e os executores, que são aqueles que operacionalizam as ações finais da organização/instituição.
Em que pese haver diferenças entre a administração pública e a administração privada, nesse caso não há diferença.
Por esse modelo, que não fora inventando por quem escreve esse texto, fica fácil perceber que não é oportuno aos responsáveis pela definição e trato das estratégias da empresa, no caso do chefe de uma secretaria do primeiro escalão do governo, prestar-se a cumprir funções afeitas ao nível operacional da segurança pública. Em que pese, como dito, o capital político que lhe permite somar – e sempre há de se discutir até que ponto a capitalização politica pessoal atende ao interesse público?
Mas o fato importante, é que ao engajar-se em ações dessa natureza, o secretário assumiu riscos reais e desnecessários à sua integridade física. Imaginemos a morte de um secretário ou de um chefe de polícia, que se engajou em uma operação policial desnecessária, vez que toda área geográfica é recoberta por diversos níveis operacionais (unidades da polícia militar e civil) com obrigações bem nelas delimitadas?
A título de exemplo, mais um, recorramo-nos às nossas polícias civis, é raro vir uma operação policial civil comandada pessoalmente pelo chefe de polícia, normalmente tais operações cabem exatamente às delegacias da área ou unidades especializadas, conforme o caso.
Em resumo, fato é que, se fosse de sua vontade, Steve Jobs poderia ter ido à China e trabalhado na linha de produção das fábricas que – possivelmente – fabricam os Iphones. Mas certamente, como “mananger” e cérebro da empresa, isso não se justificaria tanto pelo valor do seu salário, quanto pelos riscos envolvidos e a sua importância como idealizador dos produtos da empresa.
É possível alguém dizer que “quem pode mais pode menos”, ok, mas a questão seria: atende oportunamente o interesse público quem pode mais fazer o menos ou é melhor cada um no seu quadrado?
* Marcelo Rocha é capitão da Polícia Militar de Sergipe