Por Adiberto de Souza *
No início da década de 80, os estudantes da Universidade Federal de Sergipe ficaram frente a frente com a arrogância do general Carlos Ludwig, à época ministro da Educação e Cultura e um dos homens de confiança do presidente de plantão, general João Batista Figueiredo. Em visita a Aracaju para participar de eventos oficiais, o ministro concordou em receber alguns líderes estudantis para um café da manhã no Hotel Palace, centro da capital.
A turma chegou para o rega-bofe no horário marcado pela assessoria do Ministério e já encontraram a mesa posta, com o general sentado à cabeceira. Após proferir algumas poucas palavras, o anfitrião quis ouvir o presidente do Diretório Central dos Estudantes da UFS, o jovem bacharelando em Direito Marcelo Déda, que depois de formado foi eleito deputado estadual, prefeito de Aracaju, deputado federal e governador de Sergipe. Bom orador desde sempre, o saudoso Déda fez uma introdução rápida e passou a apresentar as muitas reivindicações da classe estudantil, sem deixar de fustigar a política educacional do governo militar.
De quando em vez, o ministro interrompia o orador, alegando dificuldades do governo federal para atender às cobranças. Lá pras tantas, já sem argumentos para convencer o bem articulado líder estudantil, Carlos Ludwig começou a alterar a voz, falando cada vez mais alto. Foi ai que o também estudante de direito Diógenes Barreto, hoje desembargador de Justiça, decidiu botar ordem na casa: “O senhor está aqui como ministro ou como general?”, indagou. O clima, que já estava ruim, ficou péssimo. O anfitrião incorporou o militar linha dura e subiu nos coturnos: “Aqui não tem mais conversa!”. Os estudantes levantaram e foram embora sem tomar o café que, àquela altura, já estava frio.
* É editor do site Destaquenotícias