Por Gilvan Manoel *
O senador Rogério Carvalho (PT), os deputados federais Fábio Mitidieri (PSD) e Laércio Oliveira (PP), o prefeito reeleito de Aracaju Edvaldo Nogueira (PDT) e o conselheiro do TCE Ulices Andrade. Esses são os nomes do grupo que está no poder há 20 anos – iniciado em 2006 com a vitória de Marcelo Déda – na disputa pela sucessão do governador Belivaldo Chagas (PSD) em 2022. Pela oposição, o único nome que se apresenta é o do senador Alessandro Vieira (Cidadania).
Não há nomes novos e dificilmente irá aparecer algum nesse período pré-eleitoral. A novidade de 2018, que permitiu a eleição de Alessandro, embalado na campanha policialesca e de fake-news do presidente Bolsonaro, não deve se repetir, mesmo com o presidente disputando a reeleição. O governo federal é um caos e até beneficiados diretos durante a campanha anterior, como o próprio Alessandro, hoje estão na oposição.
De 1982, quando foram restabelecidas as eleições diretas para governador, Sergipe foi dirigido por apenas quatro lideranças: João Alves Filho (1983-1986, 1991-1994 e 2003-2006), Albano Franco (1995-1998, 1999-2002), Marcelo Déda (2007-2010, 2011-2013) e Jackson Barreto (2013-2014 e 2015-2018). Nesse interim apareceu Antônio Carlos Valadares, cria da família Franco, mas que chegou ao governo em 1987 com o apoio de João Alves e Jackson, numa das eleições mais disputadas no estado, em 1986, quando derrotou José Carlos Teixeira, tradicional liderança da oposição, que, por ironia, foi o candidato de todas as oligarquias ainda bem estabelecidas em Sergipe.
Belivaldo Chagas só é governador hoje porque não caiu na aventura do então senador Valadares, que rompeu com Jackson e com a presidente Dilma Rousseff logo após as eleições de 2014, trocou o PSB pelo MDB e depois pelo PSD para se transformar num nome confiável do ‘establishment’ político e econômico do estado e vencer as eleições de 2018. O adversário do pleito já foi Valadares Filho, tradicional aliado. Ao contrário de 2014, quando Jackson Barreto enfrentou o poderio econômico e midiático da família Amorim, a oposição em 2018 era mais mansa e sem dinheiro suficiente para influenciar o eleitorado.
Da mesma forma que um ex-aliado foi o principal adversário do atual governador, nas próximas eleições um aliado fará o contraponto ao bloco governista. E já tem nome: o senador Rogério Carvalho.
O senador petista sabe que nunca seria escolhido pelo bloco e constrói a sua candidatura a governador com voracidade, tem aliados importantes em todos os municípios do estado e hoje flerta abertamente com o DEM da senadora Maria do Carmo, viúva de João Alves, que está em final de mandato. Rogério, por sinal, estimula a senadora a disputar a reeleição apesar da sua idade avançada e de frágeis condições de saúde. Maria se anima, porque sem ela o DEM praticamente seria extinto no estado.
O que pode provocar alguma mudança no quadro eleitoral futuro no estado seria uma decisão do TSE pela cassação do mandato da chapa Belivaldo/Eliane, conforme recomendação do TRE, porque provocaria o surgimento um nome novo para governador-tampão. E aí é que surge o nome do atual presidente da Assembleia Legislativa, deputado Luciano Bispo (MDB), que controla sem dificuldades a maioria do poder. A necessidade de um governador-tampão poderia criar novas possibilidades, mas nada que viesse a romper com tudo que está aí.
Os burocratas do estado são os mesmos desde o primeiro mandato de João Alves Filho. Quando Déda assumiu em 2007 surgiram nomes novos, mas as alianças firmadas para garantir a governabilidade logo fizeram voltar à cena personalidades tradicionais, que se alinham a qualquer governo. Belivaldo, por exemplo, enfrenta a crise econômica e a pandemia da covid-19 sem mexer na estrutura do estado, mantendo cargos comissionados em favor de deputados, desembargadores, conselheiros do TCE, prefeitos e lideranças políticas importantes.
Em 2022 será eleito um novo governador, mas as figuras que vão governar serão as mesmas que estavam com João e Albano no passado e agora com Belivaldo Chagas. Em Sergipe não há espaço para novos profissionais, mas sim para filhos e agregados dos que sempre estiveram no poder.
* É Editor do Jornal do Dia
(Texto publicado originalmente no Jornal do Dia)
1 Comments
Muito boa análise Gilvan!