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Cangaço, um fenômeno social do Nordeste

Por Eduardo Marcelo Silva Rocha e Alessandro Santos Kiko Monteiro *

O Cangaço foi um fenômeno social que assolou o Nordeste entre os anos 1870/1940. Em que pese muitos sertanejos tornarem-se cangaceiros por problemas com grupos ou pessoas poderosas, como o caso do pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampeão, que viu sua família ser desestruturada devido à uma briga iniciada com o vizinho Zé Saturnino, dos Nogueiras, em 1917 – fato que teve seu auge com a execução de seu pai pelo Tenente José Lucena em 1921 – é consenso que nunca houve intenção desse cangaceiro em fazer justiça social.

Pelo contrário, muitas vezes mancomunou-se com os coronéis e outros chefes políticos prestando-lhes serviços e recebendo benesses ou mesmo com eles realizando verdadeiras parcerias societárias, como fizera o cangaceiro Zé Baiano na região de Itabaiana Grande, no povoado Alagadiço, dada a sua riqueza e atividade de agiotagem.

Durante muito tempo o foco dos estudos do cangaço foram os cangaceiros, certamente pela mitologia criada em torno, principalmente, do nome de Lampeão. Mas as últimas décadas revelam uma reviravolta nesse sentido, trazendo as forças policiais/volantes ao centro da discussão, com a devida pertinência.

Em fins dos anos 1990 resgata-se a figura do Major Teofánes Ferraz Torres, que foi chefe das forças de repressão ao cangaço de Pernambuco, nos anos 1920, mas que carregou em seu currículo a realização da prisão do afamado Antônio Silvino – o rifle de ouro – ainda na década anterior.

Em linhas gerais, as forças policiais tiveram problemas no início do combate ao cangaço, uma vez que as peculiaridades da caatinga faziam as tropas regulares, muitas vezes exportadas do litoral, levarem desvantagem pelo não conhecimento do terreno e pela inadequação das suas fardas e paramentos às jornadas à pé naquela região sémi-árida.

Assim, logo se percebe a necessidade de se recrutar homens que conhecendo a região e seus meandros, são capazes de reequilibrarem a gesta. Assim, surgem dentro das volantes os “contratados”. A partir daqui podemos falar dos afamados cabras de Nazaré do Pico, que para muitos eram os únicos que faziam medo a Lampeão, jovens rapazes das famílias Flor e Jurubeba. Nomes como 2º Ten PMPE David Jurubeba, Coronel PMPE Manoel Neto, Euclides Flor e 2º Sgt PMBA Odilon Flor, dentre outros, são reconhecidos pela coragem ser sem limites, ao ponto de fazer com que Lampeão evitasse “sustentar o fogo” com eles.

O Ten David Jurubeba, em certa ocasião durante um tiroteio, abandonou sua trincheira e pondo-se em campo aberto de punhal na mão desafiou Lampeão a duelar. Em outra, junto a Manoel Neto pôs Lampeão e Corisco pra correr, na Fazenda Aroreiras, na Bahia.

Outros nomes merecem destaque, como Tenente PMPE Arlindo Rocha e Luiz Mariano, que se destacaram na primeira fase do cangaço.

No Estado da Bahia, destaque-se o General Liberato de Carvalho, que foi comandante das forças de repressão ao banditismo e o Coronel Joaquim Osório de Farias, Zé Rufino, responsável pela morte de vários cangaceiros e pela execução de ninguém menos que Corisco, o Diabo Loiro.

Em Sergipe, a repressão ao banditismo não ocorreu com a mesma intensidade como em Pernambuco e Bahia. Os combates mais relevantes ocorridos no Estado, nas Fazendas Maranduba e Angico, foram levados a termo por forças mistas de Pernambuco e Bahia ou de Alagoas, respectivamente.

Muitos sergipanos se alistaram para integrar volantes, no intuito de, também, proteger seu lugar, tal qual fizeram os Cabras de Nazaré.

Dentre as forças volantes sergipanas, pouquíssimos comandantes tiveram reconhecimento na historiografia do cangaço.

Entre estas: a que foi comandada pelo sargento Odon Matias; a milícia de Antônio de Chiquinho em Alagadiço, que liquidou Zé Baiano; a volante dos filhos de Martinho de Souza em Carira, que auxiliando Zé Rufino deram cabo da vida do cangaceiro Zepelim, na região de Canindé; a do Capitão Américo Batalha, em Lagarto, entre outras.

Mas a que merece menção honrosa foi a força paramilitar em que esteve à frente o aparecidense, Baltazar Francisco dos Santos, a Volante de Baltazar, criada em 1935 e que combateu, dentre outros, Zé Sereno, no conhecido combate da Lagoa da Mata, no Município de Ribeirópolis, botando-os para correr.

Em 1937, incorporando-se à volante de Nazaré, sob comando de Odilon Flor, matam o chefe de subgrupo de Lampeão, Mané Moreno, além de sua companheira Áurea e o cangaceiro Cravo Roxo, em Gararu.

Em 28 de Julho de 1938, em Sergipe, a morte de Lampeão marca o fim do ciclo do cangaceirismo no Nordeste, que dará seu último estertor no dia 25 de maio de 1940, quando Corisco é eliminado pela volante de Zé Rufino.

*Eduardo Marcelo Silva Rocha TenCel PMSE, membro da Academia Brasileira de Letras e Artes do cangaço.

*Alessandro Santos Kiko Monteiro, Jornalista, membro da Academia Lagartense de Letras, membro da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e Conselheiro Consultivo do Cariri Cangaço.

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