Criação de frango e ovinos para abate e produção de ovos, em instalações sustentáveis, já é uma realidade no Perímetro Irrigado Califórnia, unidade da Cohidro, em Canindé de São Francisco. A intenção é a de ter um ciclo produtivo totalmente orgânico, via a adoção de métodos alternativos para prevenção de doenças. Com a ajuda da irrigação, serão geradas as plantas para alimentação que, por sua vez, receberão a adubação pelo esterco destes animais.
Até cerca de um ano atrás, o produtor irrigante Gercino Teles de Andrade era dedicado à fruticultura no Perímetro Califórnia, sem se preocupar muito com os efeitos causados pelos defensivos químicos que são usados no cultivo tradicional. Mas a vida do agricultor começou a mudar quando a Cohidro começou a promover à criação da Associação Sergipana de Orgânicos (Bio5). Segundo ele, a força de vontade e a confiança do grupo lhe deu suporte para participar dos projetos da entidade, que é formada em sua totalidade por agricultores familiares inseridos no Califórnia e que recebem assistência técnica da Cohidro.
Agora Gercino já tem lotes de frangos caipiras machos, da raça americana “Rhode Vermelha”,com 57 dias, preparados para o abate que será realizado aos 100 dias. Já as fêmeas ocupam outro viveiro e serão usadas para a produção de ovos, quando atingirem os 4,5 meses de vida. Em ambos os casos, as aves estão dispostas em instalações cobertas e com telas de proteção, nas três repartições. Mas o aviário se entende para uma área externa bem maior, os “quintais ecológicos”, cercados por “palets” reaproveitados, doados pelo comercio varejista de Aracaju.
Ele também tem investido na inserção de outras raças, como o “Gigante Negro”, e o “Caipira Francês”, este que tem a peculiar característica do “pescoço pelado”. Além de promover uma diversidade maior de aves para oferecer no mercado de “frango vivo”, Gercino quer avaliar qual destas raças destinadas à produção de carne e ovos caipiras, se adapta melhor ao clima do Alto Sertão, em ambiente semi-intensivo. “Também quero usar a ‘cama de frango’ para adubar as plantações, inclusive o capim irrigado que vai tomar toda parte externa do galinheiro, o quintal delas”, colocou.
De acordo com o agricultor, a Bio5 proporcionou uma melhora visível aos seus produtos, como é o caso das goiabas e da acerola, que se encaminham para se tornarem orgânicas. Hoje Gercino diz que as frutas são bem mais saborosas se comparadas às de outros lugares e os alimentos não apresentam mais lagartas como antes. “Nós também fazemos polpa das nossas acerolas, mais ideias estão surgindo para aumentar nossa diversidade com os alimentos”,revela o produtor que investiu R$ 4 mil nos seus galpões para as aves, fora os palets que ganhou da Associação.
Tito Reis, Técnico Agrícola que atende os produtores da Bio5 pela Cohidro, incentiva a criação destas alternativas produtivas para esses agricultores e tem inserido ideias e novos métodos. Além de usar o palet, que se mostrou um excelente material para construção de aviários e cercados, ele criou um sistema no telhado arrefece com água o calor dentro do aviário. Também tem motivado o reaproveitamento de restos culturais e outros tipos de alimentação como complemento à ração, além da adoção de métodos alternativos para prevenir doenças.
“Promovendo o acesso das aves ao pé dos pomares, cercados pelos palets, elas podem aproveitar as frutas que caem, por exemplo. Estamos ministrando aos frangos alguns tipos de capim, como o Amargoso, que na ‘cultura do campo’ é tido como erva daninha, mas as aves adoram, principalmente as sementes. O Capim alimentar e ainda traz o benefício dos frangos se esticarem ou pularem para ter acesso, assim se exercitam e tornam a carne mais rija. Outro material que temos usado com freqüência é a folha de bananeira, que além de ser bem apreciado pelos frangos, é constatado ser um vermífugo de origem natural”, listou Tito Reis.
Instalações sustentáveis
A produção de frangos do casal Quitéria e José Gonçalves de Araújo tem como particularidade o uso de palets para a construção de praticamente a totalidade da estrutura que abriga as aves, desde os abrigos fechados para a proteção ao frio e de predadores à noite, até o cercado que não deixa os animais fugirem ou terem acesso às hortas orgânicas que cultivam também. “Foram usados 300 palets, para construir o quintal e os três galpões: berçário, intermediário e para engorda”, revelou o agricultor que já tem dois anos na Bio5.
Os palets que a BIo 5 tem usado são fruto de doação, angariada pelo grupo em lojas de materiais de construção. Até o momento eles arrecadaram 10 caminhões cheios dessas peças. São estrados madeira que servem de base para cargas pesadas ou fardos, adaptados para o uso de empilhadeiras quando as mercadorias vêm da indústria. Um dos empresários que doou seis dessas cargas é Francisco Sales Barbosa. Segundo o empreendedor, esse material não retorna às fábricas devido ao alto custo do frete. Assim, fica a critério do comprador dar uma finalidade a eles.
Além de Quitéria e José, serão outros quatro associados da Bio5 que terão galpões para criação de frangos para engorda e postura, baseado no mesmo sistema com o uso de palets. “Nosso projeto é um modelo, o piloto. Cada galpão comporta cerca de 100 frangos, que vamos vender vivo por R$ 30 cada, de três a quatro quilos de peso, aos 100 dias. É mais fácil vender assim vivo, só mesmo quem conhece nosso trabalho é capaz de comprar abatido, fica desconfiado”, relatou Seu José, que cria as raças “Rhode Vermelha” e “gigante negro”. Por possuir horta orgânica, tem atenção especial com a cama de frango, que serve de adubo.
Mardoqueu Bodano, Presidente da Cohidro, se diz entusiasmado com o desenvolvimento desses novos arranjos produtivos no Perímetro Califórnia. “Toda vida essas famílias de agricultores somente usaram a plantação como fonte de renda, a partir da irrigação pública. As criações eram sempre para subsistência. Enquanto isso, existe um vasto mercado para compra de produtos de origem animal, que são criados em métodos rústicos, os chamados caipiras. Isso sem falar na oferta de carne e ovos orgânicos, que é praticamente inexistente em nosso Estado. É Mercado garantido”, afirmou.
Ovinocultura
Rafael Oliveira Andrade é filho de Seu Gercino e está investindo na criação de ovelhas para engorda, onde os palets também estão sendo usados para fazer o cercado dos animais pastarem. Ele alimenta os animais no aprisco com uma mistura de Capim Elefante e o pé inteiro do milho verde que ele mesmo produz no Perímetro Irrigado. Tudo picado para o animal aproveitar totalmente os vegetais. Dessa mistura, são gastos 120 quilos por dia para seus 35 carneiros do primeiro lote. Assim como nos frangos do pai, o jovem empreendedor quer aproveitar o esterco para adubar as hortas que pretende criar.
Fonte e foto: Cohidro