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Cavernas de Sergipe poderiam ser melhor exploradas

Sergipe não tem cavernas de grandes dimensões

Com o registro de 103 cavidades naturais distribuídas em 18 municípios – Laranjeiras, Socorro, Maruim, Divina Pastora, Rosário do Catete, Japaratuba, Siriri, Itabaiana, São Domingos, Campo do Brito, Macambira, Lagarto, Simão Dias, Canindé do São Francisco, Capela, Tobias Barreto e Umbaúba -, Sergipe tem um novo e bom potencial para ser explorado pelo chamado turismo de aventura, a exemplo do que já fazem estados como a Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.

Os 103 casos revelados no parágrafo anterior representam apenas cavidades naturais confirmadas in loco, durante expedições do Centro da Terra – Grupo Espeleológico de Sergipe, mas há vários relatos e outras informações sobre cavidades em municípios que ainda não foram prospectados.

“É importante frisar também que consideramos cavidades naturais subterrâneas aquelas formadas por processos naturais e que possuem características que as classificam assim, de acordo com suas dimensões que vão de 5 metros de desenvolvimento horizontal, no caso de tocas, até mais de 300 metros no caso de algumas grutas. Sendo assim, podemos encontrar em um município uma cavidade natural subterrânea do tipo toca, de apenas 6 metros, a exemplo da Toca dos Macacos, em Tobias Barreto; ou uma gruta de mais de 60 metros, a exemplo da Gruta do Rei, em Canindé; e ainda abismos que são cavidades horizontais com mais de 10 metros de desnível, a exemplo do da Furna do Dorinha, com 50 metros, em Simão Dias”, destaca o espeleólogo Elias Silva, associado fundador do Centro da Terra.

Silva lembra que não temos em Sergipe cavernas de grandes dimensões,  como as que normalmente vemos na TV, a exemplo das cavernas em Minas Gerais, São Paulo e Bahia. As cavernas de Sergipe são em sua maioria pequenas, mas com grande riqueza biológica e importância cultural. A exploração turística de cavernas em Sergipe é possível apenas em uma minoria, porque a maioria apresenta características que limitam ou mesmo impossibilitam a visitação e acesso interno. São cavidades que apresentam grandes colônias de morcegos, e consequentemente muito acúmulo de guano (fezes de morcegos), e associados a esse guano há diversos seres como insetos e aracnídeos e mesmo em algumas é possível encontrar alguns fungos patogênicos.

Visitas guiadas

A maior caverna de Sergipe e que apresenta possibilidades de visitação é a Toca da Raposa, em Simão Dias, com aproximadamente 400 metros de desenvolvimento total (somando-se todos os condutos da caverna). Encontra-se em uma propriedade particular e os proprietários, participaram de um curso ministrado pelo CENTRO DA TERRA, já realizam visitas guiadas e agendadas. Há outras cavidades em Sergipe que mesmo de pequenas dimensões, se planejadas, permitem visitação de cunho científico, educacional e mesmo contemplativo. São exemplos a Gruta da Pedra Furada, Matriana e Faleiro, em Laranjeiras; a Gruta do Pórtico em Simão Dias, e algumas cavidades em Canindé associadas a atrativos já existentes.

Elias Silva afirma que a  possibilidade de um roteiro turístico em Sergipe com foco em cavernas é algo factível, desde que haja planejamento para evitar o turismo desordenado, que gera impactos negativos para o ambiente cavernícola. Há necessidade  também de estudos específicos para elaboração de Planos de Manejo Espeleológico*, além de sensibilização e treinamento das comunidades locais.

“Quando comparados a outros investimentos turísticos que tem sido feitos no Estado, e que resultam em gastos públicos mal utilizados por falta de planejamento, viabilizar  turisticamente o Patrimônio Espeleológico  em Sergipe é algo tangível e não muito caro. Recuperação e manutenção de áreas degradadas do entorno de cavernas, contratação de profissionais para realizar Planos de Manejo Espeleológico, implantação de infraestrutura externa e interna, após aprovação do Plano de Manejo Espeleológico e Licenciamento Ambiental, cursos de capacitação da comunidade e de funcionários dos órgãos de turismo e meio ambiente, municipais e estaduais, campanhas de sensibilização e divulgação, são alguns exemplos do que poderia ser feito para viabilizar o uso turístico do Patrimônio Espeleológico e do quão caro seria”, explica Elia Silva.

O grupo

O Centro da Terra atua desde 2002 na identificação, exploração e registro de cavernas, além de proteção e divulgação do Patrimônio Espeleológico sergipano. Estamos sempre em busca de novos registros, pois além dos 18 municípios já prospectados sabemos de outros municípios com potencial para ocorrência de cavernas e que ainda não exploramos. Propriá, Indiaroba, Poço Verde, Japoatã, e tantos outros municípios são apenas alguns exemplos de áreas com probabilidade de novas ocorrências.

Atualmente estamos com pouco mais de 12 associados, dentre estudantes universitários e profissionais das áreas de biologia, história, arqueologia, turismo, geologia, administração e profissionais liberais. No grupo há diversas atuações, desde trabalhos administrativos, palestras, sensibilização de comunidades, até prospecção e topografia de cavernas, monitoramento, coleta de dados, publicações em congressos, etc.

O espeleólogo lembra que “eventualmente somos procurados por estudantes universitários de cursos como geologia, biologia e arqueologia. Há pouca procura por parte da população geral interessada em conhecer as cavernas, mas talvez porque ainda é um tema pouquíssimo conhecido em Sergipe”.

O grupo é uma Organização da Sociedade Civil e nunca recebeu apoio direto contínuo de nenhuma instituição particular ou governamental, tendo que se manter por si só através de doações de seus associados para custear despesas de aluguel de sede, luz, água, internet, além das atividades de exploração e educação ambiental.

Laranjeiras

“Nos últimos três anos é que começamos a escrever projetos, a exemplo do Projeto Pró Caverna Laranjeiras, financiado pela prefeitura em 2012, e do projeto Expedição Centro da Terra, que foi aprovado em edital lançado pelo Ministério da Justiça e, desde 2013, realizamos prospecção, pesquisas, capacitação das comunidades, que resultaram em descobertas de novas cavernas e até de sítios arqueológicos antes desconhecidos. Esse último projeto está em fase de conclusão e até janeiro de 2016 entregaremos os resultados para a população sergipana – kits contendo um livro, três cartilhas e um documentário sobre as cavernas de Sergipe”, revela Elias.

Segundo o espeleólogo Elias Silva, após a finalização do projeto não há apoio nem recursos em vista, “mas vamos tentar manter o grupo ativo para continuar lutando pela conservação do Patrimônio Espeleológico de Sergipe”, concluiu.

Texto de Eugênio Nascimento publicado no Jornal da Cidade  

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