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Cem dias de Biden

Por Manoel Moacir Costa Macêdo  *

Tempo de surpresas. Mundo sem previsibilidade. Tudo pode acontecer. O país que lidera o planeta nos convencionais indicadores de riqueza, poder militar e científico, tomou decisões políticas inesperadas. Não é inimigo, mas aliado. Não está ao lado, mas a cima da linha do Equador, no hemisfério Norte. Os Estados Unidos da América, paradigma do capitalismo, da individualidade, da competitividade e da beligerância, surpreenderam os de dentro e os de fora. A geopolítica mundial sob nova Ordem.

Estrategistas, futurologistas, políticos e magos, não acertaram nos ataques raivosos ao templo da democracia e da liberdade, na simbólica invasão do Capitólio. Mas, aconteceu. Acertaram no republicano da retórica America first, das restrições ao multilateralismo, das ameaças bélicas, da proteção aos ricos e da supremacia racial. Maioria de brancos versus minoria de negros, simples assim. Um mundo, para alguns de “provas e expiações”, para outros, de minorias privilegiadas e medrosas frente à crescente desigualdade e migrações de párias vagando por uma espaço para viver, oriundos de territórios explorados no passado. Acerto de contas na contabilidade do presente.

Erraram a academia, a religiosidade e os céticos sobre os primeiros “cem dias do governo do democrata Joe Biden”. Decisões surpreenderam todos.  Surpresas até no legado do primeiro mandatário negro da potência norte-americana. Os primeiros decretos do democrata, explodiram como assombro na poderosa nação capitalista do planeta. Reconhecimento de vulnerabilidades, abalos à hegemonia mundial, recrudescimento do racismo e da crescente desigualdade. A mancha racial ainda presente e real. Ela não foi corrigida pela Guerra Civil Americana, conhecida como Guerra de Secessão ou Guerra Civil dos Estados Unidos, travada de 1861 a 1865. A causa principal continua atualizada na longa controvérsia sobre a escravização dos negros.

Na globalização do neoliberalismo, surgiu do inesperado, o multilateralismo, as alianças, as questões ambientais, o discurso conciliador e a “infraestrutura social”. O velho e criticado Estado, arquivado nas obras de John Keynes, ilumina as atuais intervenções estatais na economia norte-americana, como agente ativo contra a recessão e o desemprego, no poderoso mercado da Wall Street. Assim fez Joe Biden. Infraestrutura e investimento público para transformar os EUA. Cumprida a vacinação de cem milhões de americanos. Universalizar o acesso à escola. Faculdade grátis para 5,5 milhões de estudantes. Aumentar as bolsas para universitários de baixa renda. Contratar mais professores e melhorar a formação docente. Ampliar o acesso a planos de saúde. Energia limpa e renovável. Investimento na minoria negra e latina. Biotecnologia e taxação dos 1% mais ricos, entre outras. Parece promessas eleitorais renovadas, por aqui, mas é a realidade de lá.

No curto tempo, Biden realizou a “Cúpula do Clima”. Quarenta países atenderam e foram unânimes em firmar compromissos para enfrentar as mudanças climáticas e o aquecimento global. Chamou a liderança mundial para cuidar da Mãe Terra, agredida e desprezada pelo reducionismo produtivista. Não mereceu apenas os aplausos do mundo, pares, partidários, carentes e trabalhadores desorganizados, mas de megainvestidores como Warren Buffet: “a economia dos Estados Unidos está em situação muito melhor do que qualquer previsão com “algum grau de certeza”. Segundo ele, cerca de 85% da economia americana está “correndo em ritmo acelerado”. Um crescimento de mais de seis por cento nos cem primeiros dias.

Os cem dias de Biden, esfriou os ânimos negacionistas, belicistas e racistas de dentro e de fora dos Estados Unidos da América. Eles colocaram o Presidente Joe Biden na galeria dos progressistas presidentes norte-americanos.  O ódio e a discórdia foram substituídos pela união e a sensatez. Recomenda a prudência, aguardar os desdobramentos nos dias seguintes, embora hoje e agora, a desesperança foi derrotada e a esperança floresceu para novos amanhãs.

 * É engenheiro agrônomo e advogado

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