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Cinquenta e um anos sem Dom Távora

Dom Távora era conhecido como o bispo dos operários

A 51 anos faleceu Dom José Vicente Távora, 1º Arcebispo de Aracaju, dedicado à causa dos trabalhadores rurais e urbanos. Segundo padre Isaías Nascimento, autor do livro Dom Távora, o Bispo dos Operários. Um homem além do seu tempo, o religioso “optou por estar ao lado dos mais pobres. Na linguagem do Papa Francisco, era um ‘pastor com cheiro de ovelhas’. Foi traído e perseguido pela ditadura militar de 1964, e devido às perseguições não resistiu no 2º enfarte em sua vida na noite do 3 de abril de 1970. Foi sepultado na tarde do dia 4 na Catedral Metropolitana de Aracaju”.

Vejam abaixo, artigo do jornalista Henrique Maynart sobre Dom José Vicente Távora:

“Agora em 2021 completa 51 anos que o arcebispo Dom José Vicente Távora partiu para outra. Ele morreu no dia 3 de abril de 1970. Primeiro arcebispo da Diocese Metropolitana de Aracaju, fundador e primeiro presidente do Movimento d e Educação de Base (MEB), parceiro de primeira hora de Dom Helder Câmara, o sacerdote pernambucano figura entre os signatários da Doutrina Social da Igreja pela banda fina do cacique Serigy.

Impulsionador da Rádio Cultura como primeira experiência das “Escolas Radiofônicas”, o projeto de alfabetização, educação para Reforma Agrária e Legislação, chegou a ter mais de 12 mil assistidos e centenas de monitores por todos os cantos de Sergipe. Crítico mordaz das Ligas Camponesas de Francisco Julião, o bispo entendia a necessidade de antecipar a organização dos trabalhadores rurais antes dos “radicais” que, hora ou outra, desceriam de Pernambuco para levantar acampamento.

Dom Távora (E), Dom Helder Câmara e o governador Leandro Maciel (C) no dia da chegada do arcebispo em Aracaju, em março de 1958

Ainda está para surgir um Sindicato de Trabalhador Rural (STR) em Sergipe que não sustente um quadro de Dom Távora em qualquer de suas paredes. O projeto das Escolas Radiofônicas funcionou até o dia 1 de abril de 1964, mais conhecido como golpe civil-militar que assolou o país por duas décadas de pesadelo. Acossado, Dom Távora só não testemunhou o sol nascer quadrado por intervenção do general Juarez Távora, seu primo.

Enquadrado na base do fuzil, o projeto das Escolas Radiofônicas se converteu em primo desconhecido do propalado Mobral, sob o comando do bispo auxiliar, Dom Luciano Cabral Duarte. Ajudava um ou outro quando possível, levantou uns trocados para a militância do movimento estudantil da UFS para o lendário Congresso de Ibiúna, da União Nacional dos Estudantes, em 1968.

Mas já fazia um tanto que o coração do velho bispo retumbava doente na caixa dos peitos, não aguentaria o batuque de outro infarto, assim foi. Seu bispo auxiliar, signatário dos conservadores do golpe civil-militar, dos generais de 1964, dos intolerantes à reforma agrária e direitos sociais, seguiu o projeto de enquadramento dos trabalhos pastorais aos ditames do golpe.

Em tempos de espetacularização da fé, de avanço da bancada fundamentalista, dos prepostos da Teologia da Prosperidade, reivindicar o trabalho de Dom Távora é fundamental para a batalha da memória dos debaixo, daqueles que batalham para dividir corretamente o mesmo pão.

 

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