O consumo de plásticos descartáveis em pedidos de entrega de comida – o tal do “delivery” – aumentou 46% de 2019 para 2021, um salto de 17,16 mil toneladas para 25,13 mil toneladas. Peso equivalente a cerca de 170 baleias azuis, maior animal do mundo. Os dados foram divulgados no estudo “O mercado de delivery de refeições e a poluição plástica”, encomendado pela ONG Oceana. Esse crescimento reflete o impacto da pandemia na mudança de hábitos de consumo, devido ao isolamento social e às restrições.
Apenas em 2021, o total de lixo plástico gerado por serviços de entrega de comida foi de 68 toneladas por dia ou 2,8 toneladas por hora. De acordo com o levantamento, feito pela consultoria econômica Ex Ante, os setores de alimentação para viagem e hotelaria demandaram um total de 154,1 mil toneladas de embalagens por ano entre 2018 e 2021, e seis mil toneladas por ano de canudos, copos, pratos e talheres de plástico para este mesmo período.
“Concebidos para consumo e descarte imediato, esses itens geram grande quantidade de resíduos não recicláveis e não biodegradáveis. Nesse sentido, o que hoje pode parecer barato para o consumidor deixa um legado negativo para o futuro, com custos ambientais e de gestão que serão pagos por toda a sociedade. Mesmo que a redução dos pedidos de refeições esteja ocorrendo, sabemos que as empresas estão investindo em outras entregas, que também envolvem muito plástico – precisam aprender com o que houve e oferecer ao consumidor alternativas ao plástico”, aponta o diretor-geral da Oceana no Brasil, o oceanólogo Ademilson Zamboni.
iFood sem novas metas
Em resposta ao problema da poluição plástica, em dezembro de 2020, a Oceana e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançaram a campanha #DeLivreDePlástico, para pressionar as empresas de aplicativos de entrega a se comprometerem com a redução do uso de plástico descartável em suas operações. Em agosto de 2021, o gigante do setor, iFood, posicionou-se em favor do compromisso, mas ainda não anunciou metas concretas – previsto para o segundo semestre de 2022.
“Essas empresas ocupam papel central na cadeia que liga a produção da indústria de plástico tanto ao setor de alimentação quanto ao consumidor e, consequentemente, com o problema final da poluição. Estamos falando de talheres, sachês, embalagens de isopor e sacolas – produtos que são concebidos para serem utilizados apenas uma vez e se tornarem lixo. Sem interesse para o mercado de reciclagem, esses produtos se tornam rejeito, custo e poluição”, destaca a gerente de campanhas da Oceana no Brasil, a engenheira ambiental Lara Iwanicki.
Atualmente, a produção de plástico de uso único no Brasil é de 2,95 milhões de toneladas por ano. A grande maioria, 87%, corresponde a embalagens.
Por Duda Menegassi, do site ((o)) eco