Em Sergipe, 1.452 candidatos nas eleições municipais deste ano declararam à Justiça Eleitoral ter concluído o ensino superior. Isso representa um aumento de 37,24% no número de candidatos com o grau máximo de instrução em relação ao pleito de 2016 no estado. Essa variação, de acordo com o levantamento feito pela Rádio UFS/FM, a partir de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é 14,2 pontos percentuais acima do registrado na região Nordeste, e 8,5 no Brasil.
A região da Grande Aracaju – que engloba os municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Itaporanga D’Ajuda, Laranjeiras, Maruim, Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas e São Cristóvão – é o território sergipano com o maior percentual de candidatos que disseram possuir ensino superior completo: 40,91%.
A educação superior foi o nível de instrução que mais cresceu na declaração dos candidatos em 44 dos 75 municípios sergipanos para os três cargos eletivos entre 2016 e 2020, em pontos percentuais: 11,08 (vice-prefeito), 7,8 (prefeito), e 2,59 (vereador).
Sem alteração
Coincidentemente, em nove cidades sergipanas, o número de candidatos de quatro anos atrás com formação superior se repete nas eleições de 2020. São elas: Lagarto (40), Poço Verde (16), Riachuelo (11), Canindé de São Francisco (10), Cedro de São João (9), São Domingos (7), São Miguel do Aleixo (6), Itabi (4) e Pedra Mole (3).
Com 19,34%, o ensino fundamental incompleto apresentou o segundo maior crescimento entre as candidaturas cadastradas para o pleito do dia 15 de novembro, seguido de ensino médio completo (17,50%), ensino médio incompleto (14,25), lê e escreve (14%), ensino fundamental completo (1,84%), e superior incompleto (0,29%).
Outro dado mostra que a maioria dos candidatos a prefeito (52,76%) e a vice-prefeito (42,35%) informaram ter ensino superior completo nestas eleições. Já na disputa pelo legislativo municipal, 41,35% dos candidatos afirmaram que concluíram o ensino médio.
Apesar da ascendência de candidatos com ensino superior completo no estado, a maioria dos postulantes aos cargos municipais do executivo e do legislativo (2.800), em número absoluto, informaram ter ensino médio completo. Eles representam 40,26% do total de pedidos de registros de candidaturas para as eleições deste ano em Sergipe.
O Estado segue as tendências regional e nacional, uma vez que o número de candidatos com ensino superior completo cresceu 23,03%, no Nordeste, e 28,69%, no Brasil, entre 2016 e 2020. Por outro lado, em números absolutos, a maioria dos candidatos declararam ter ensino médio completo na região (59.528) e no país (210.370).
Sergipe é o sétimo estado da região Nordeste e o 23º do país com a maior proporção de candidatos com ensino superior completo nestas eleições. Entre os estados nordestinos, o Piauí tem o maior percentual de candidatos com diploma de curso superior (28,10%). Nacionalmente, o estado do Mato Grosso do Sul lidera com mais de 30%.
Relações de poder
Pós-doutora em Ciências Políticas pela Universidade de Pisa, a professora Fernanda Petrarca coordena o Laboratório de Estudos do Poder e da Política da Universidade Federal de Sergipe (Lepp). Ela explica que não é possível afirmar, sem análise aprofundada, que o aumento dessas candidaturas é resultado de avanço do ensino superior no país, como também o dado em si não revela maior concorrência entre os candidatos. Além disso, historicamente, cursos das chamadas profissões de elite, como medicina e direito, deram acesso à política, por isso, a emergência da política profissional, no Brasil, está associada ao fenômeno conhecido como bacharelismo.
“Esse fenômeno nos permite compreender quanto o acesso aos cargos estava circunscrito a determinados ofícios e perfis socioeconômicos. Nessas condições, o título acadêmico se apresentou como legitimação do exercício do poder. A formação jurídica destaca-se nesse sentido e foi fundamental para o acesso a posições políticas. Claro que ela não estava desacompanhada, mas imbricada nas relações entre coronéis e seus aliados e na capacidade que os bacharéis desempenhavam na expansão de poder dos agrupamentos políticos”, pontua Petrarca.
Efeito Lava Jato
A coordenadora do Lepp também destaca que é preciso levar em consideração dois fatores para entender as influências nos lançamentos de candidaturas: a conjuntura e o contexto. “Um bom exemplo disso foi o efeito Lava Jato nas eleições anteriores, impulsionando candidaturas de membros do poder judiciário. Agora, um bom medidor pode ser o próprio confronto em torno do enfrentamento contra a covid-19. Todos esses elementos são fundamentais para compreendermos a relação entre a formação acadêmica e as candidaturas eletivas”, aponta a pesquisadora.
Antes de conhecer o grau de instrução, Fernanda Petrarca recomenda que os eleitores conheçam a vida pregressa do candidato na política e as propostas para o cargo em que pretende concorrer. “Tomar o título acadêmico como elemento que em si qualifique o candidato pode ser um risco para a própria democracia. E pode nos levar à legitimação daqueles que podem se lançar na política e dizer o que ela deve ser pelo fato de terem títulos universitários”, finaliza.
Por Abel Victor e Josafá Neto da Rádio UFS